Linhas cruzadas

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Existem dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que passam a vida esperando as coisas acontecerem e aquelas que fazem as coisas acontecerem

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Existem dois tipos de pessoas no mundo: aquelas que passam a vida esperando as coisas acontecerem e aquelas que fazem as coisas acontecerem.

As primeiras ficam lá, paradas. Esperando crescer, esperando que a pessoa que gostam finalmente perceba que não é o namorado dela quem a faz feliz, esperando ter coragem, esperando que a garota volte do outro lado do mundo, esperando se formar, esperando que tudo se resolva sozinho, como se a vida fosse um filme onde a mágica acontece no final. E assim passam os dias, sempre esperando...

E então, há as outras, que não esperam. Reagem ao que dá errado, lutam contra os obstáculos, defendem seus amigos, não se escondem, não desistem. Elas tomam as rédeas da própria vida, fazem as coisas acontecerem, enfrentam tudo sem fraquejar. Elas simplesmente seguem em frente.

Eu daria qualquer coisa para ser do segundo grupo, mas a verdade é que, mais uma vez, sou do outro tipo. Estou aqui, me escondendo de tudo, fugindo de todos os meus problemas.

Fui rápido o suficiente para escapar de Noelle na cafeteria e, agora, aqui estou, no meu quarto, na segurança da minha cama, ignorando as chamadas e as mensagens que pipocam no meu celular desde ontem. Não estou bravo com ela ou com o Victor, na verdade, me sinto só... envergonhado.

Em todos esses anos, nunca me declarei de fato. Noelle sempre soube que eu a amo, desde os 10 anos, mas nunca tive coragem de dizer as palavras. E Victor, ele só estava tentando me defender à sua maneira, o que ele sempre faz, desde sempre.

Victor grita, se exalta. Noelle sorri e finge que nada aconteceu. Duas formas diferentes de proteger meus sentimentos. Ambas tentam cuidar de mim, mesmo que de jeitos distintos.

Eu queria tanto poder gritar que não preciso disso, que não sou tão frágil, que posso me defender sozinho, que não preciso que todos fiquem se preocupando comigo, mas isso seria uma mentira absurda. Porque, no fundo, eu sei que não sou tão forte.

Me viro na cama, soltando um suspiro, tentando me convencer a dormir, a me desligar de tudo isso, mas algo chama minha atenção. Uma fita azul, saindo de uma das gavetas na mesa de cabeceira. Estico o braço e puxo o pedaço de tecido. Reconheço de imediato: é a fita que Rachel usou para amarrar o saco de biscoitos que ela me deu. Enrolo o tecido entre os dedos e, por um segundo, o cheiro amanteigado me traz uma sensação de conforto.

Quando era mais novo, minha mãe fazia biscoitos quando eu estava triste. Até hoje, coisas doces têm o poder de me acalmar.

Sem pensar muito, pego meu celular, que estava abandonado do outro lado da cama, e procuro o número de Rachel. Ela foi quem o salvou algumas semanas atrás, depois da conversa no telhado. O nome dela está todo em maiúsculas, acompanhado de um emoji de uma luva de boxe. Sorrio sozinho ao ver esse detalhe bobo.

Sem muita reflexão, envio uma mensagem. Talvez fosse bom conversar com alguém que não me lembrasse de como sou patético. Algo me dizia que, assim como uma fornada de biscoitos quentinhos, Rachel poderia me trazer um pouco de alívio.

Não me de FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora