Acordei com a luz do sol entrando pela fresta da janela do meu quarto. Um dos poucos dias em que eu podia me dar o luxo de acordar quando me desse na telha. Levantei meio cambaleante e estiquei as costas, ainda doloridas pelo esforço do trabalho. Brasileira, porém morando no Canadá, tive que arrumar um jeito de me manter e pagar apartamento alugado, e esse "jeito" foi o trampo de garçonete que arrumei no pequeno café a duas ruas da minha casa.
À um ano me formei em artes cênicas pela universidade de Yale. O intercâmbio foi uma baita oportunidade na minha vida, e claro que agarrei com as duas mãos! Mas, desde então, ela não vem andado tão suscetível a mim. A "grande chance" que todo ator amador espera ainda não tinha chegado e, apesar disso tudo, eu sentia muita, muita falta da minha família. Ja tinha resolvido, se até o final do ano nada de muito relevante aparecesse, eu voltaria para Minas e tentaria algo por lá. Bom, ainda faltavam seis meses pra eu segurar a barra, mas caramba, ser atriz sempre foi meu sonho! Não só por causa do dinheiro e da fama - apesar de serem bem atrativos também -, eu realmente tenho paixão por aquilo que eu faço! Entrar na pele de um personagem e tentar passar ao público exatamente o que ele sente, é uma coisa de outro mundo!
Para não deixar esses pensamentos me levarem à parte negativa da minha mente- que insistia em largar tudo e voltar pra minha zona de conforto-, fui tomar um banho e fazer minha higiene. Escolhi uma roupinha fresca, já que aquele era um dos raros dias que não chovia e nem fazia frio em Vancouver. Peguei meus óculos de grau e fui ao mercado fazer compras.
Trabalhando de segunda a sábado, essa é a primeira folga em seis meses que eu consegui. No café temos um esquema de uma semana de folga a cada mês para um dos funcionários, e finalmente tinha chegado a minha!
Uma das razões de eu ter amado meu compacto e bem decorado apartamento, é por ele ser bem localizado. Depois de 15 minutos de caminhada eu cheguei ao mercado. Peguei meu celular recém-adquirido e abri no notas. Minha lista continha basicamente tudo de que eu precisava para sobreviver as minhas crises de tpm, como Nutella, barras de chocolate, lencinhos e também o basicão.
Após pegar as coisas e amontoar no carrinho, andei distraidamente ouvindo a musica que tocava na rádio do mercado, quando bati com tudo nas compras de outra pessoa. Estabanada por natureza, o impacto me fez ir para trás e cair de bunda no chão. Era só o que me faltava.
- Nossa, você ta bem?- disse o cidadão de olhos azuis e preucupados. Seu cabelo marrom era um topete bagunçado e ele usava aquelas tipicas roubas de bad-boys. Ual. Ótimo jeito de conhecer o amor da sua vida!
- Sim, obrigada.- sorri para o estranho, aceitando sua mão estendida. Quando olhei de novo para ele, percebi que me encarava.
- Ei, você é a Rebecca né?- ele me lançou um sorriso charmoso com covinhas. Eu conhecia aquele sorriso de algum lugar. Humm.
- Sim, eu mesma.- eu devia estar com cara de confusa, pois ele logo esclareceu.
- Sou o Logan. Fizemos um trabalho na faculdade uma vez, mas eu me transferi para a universidade daqui.
- Aaaaaaah! Sim, eu me lembro! Aquele trabalho sobre Shakespeare, não é?- em minha defesa ele usava óculos e aparelho na época. E tinha daqueles cabelos ensebados. Parece que o Canadá fez bem a ele afinal. Muitooo bem.
- Esse mesmo!- ele sorriu simpaticamente.- Eu era um pouco diferente na época, não a culpo por não ter me reconhecido.- ele curvou a cabeça pro lado e riu de modo fofo.
- Desculpe, sou um pouco desligada! Mas como estão as coisas?
- Muito bem! Acabei de ser chamado pra uma participação em "Reign". Conhece?
- Se eu conheço? Eu amo essa série! Que ótimo Logan! Fico feliz por você! Quando vai começar a gravar?
- Bom, esta é minha ultima semana aqui. Vou começar como um personagem secundário, e se o publico aprovar, entro permanentemente!- ele sorriu com covinhas novamente. Me perdi por um momento. - E você? Fazendo muito sucesso, "super estrela"?- fez aspas com os dedos quando mencionou o apelido que nosso professor me deu na faculdade. Corei.
- Ahn, não muito. Consegui uns papéis aqui e acolá, mas nada de muito grandioso. Quem sabe dou sorte como você!
- Ah, não se preocupe com isso! Eu fiquei um ano mofando até que me chamaram. Mais cedo ou mais tarde chega a sua vez!- ele olhou no relogio e se pôs seu olhos azuis profundos nos meus castanhos.- Eu tenho que ir agora, só passei mesmo pra comprar algumas coisas.- ele ergueu a cesta que continha menos de oito produtos.- Aqui, me dá o seu número pra gente se falar. Quero saber quando conseguir o estrelato menina prodígio!- ele riu e eu o acompanhei.
Depois de trocarmos os números, ele foi até o caixa, pagou sua compra e entrou no Jipe estacionado no lado de fora do mercado, não sem antes me lançar uma piscadinha e em seguida pôr os óculos de sol. Pareceu até aquelas cenas de séries. Que ironia.
Paguei as compras, carreguei as sacolas pesadas até o elevador e apertei o 5° andar. Aproveitei para ligar para minha mãe, mas quando estava teclando o ultimo dígito, meu agente -Trevor Dauth-, a tanto tempo sumido, finalmente deu as caras. Meu coração acelerou subitamente. Atendi.
- Beck! Bom dia! Te acordei?- disse com uma voz simpática.
- São 11 horas da manhã Trav, eu não tenho esse luxo.- ri na linha e ele me acompanhou. Desde do dia que Travor - o famoso agente de novas estrelas, como as revistas o descreviam.- me ligou interessado no meu trabalho, as coisas só melhoraram. Quem sabe não melhoram de novo? Tinhamos uma espécie de relacionamento que geralmente as celebs e seus agentes não tinham. Apesar de eu ter 23 e ele 32, éramos muito amigos.
- Parece que isso vai mudar garotinha. Tenho uma noticia pra você e acho melhor se sentar.- Meu coração estava a mil agora. Cheguei ao meu andar e abri a porta do meu apartamento. Deixei as sacolas em cima da mesa e me sentei no sofá.
- Tudo bem, pode falar.
- Euzinho aqui, misturado com seu talento e esse rostinho de bebê, consegui pra você um papel para...- ele fez um suspense. Não aguentando mais, explodi.
- Fala logo Travor!
- Teen Wolf!
- O quê?!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Crazy in Love
RomanceRebecca Moliari, uma estudante de intercâmbio, acabou de se formar em artes cênicas nas universidade de Yale. Um prodígio desde cedo, olheiros logo a chamaram para pequenos papéis, mas a oportunidade da sua vida aparece quando seu agente liga, falan...