Enquanto colocava a massa folhada pela segunda vez no freezer e ajeitava o timer, a campainha tocou. Holland tinha saido para resolver algumas coisas e eu fiquei fazendo um mil folhas para comermos amanhã, já que demorava anos pra ficar pronto. Estava toda suja de farinha, mas o máximo que podia ser era o carteiro, sei lá. Fui atender a porta e estanquei quando abri.
Com toda sua formosura, Tyler Hoechlin estava parado na minha frente. Meu coração e meu estômago reagiram de imediato. Caramba. Parecia que eu estava dentro de uma daquelas fanfics onde os protagonistas tem o famoso "amor imediato". Sempre odiei isso, então não tinha a menor lógica o que estava acontecendo! Não sou bobinha, sei que são reações normais, mas quando se esta apaixonada. Eu conhecia o cara não tinha nem dois dias! E ele era o Tyler Hoechlin! As chances eram de 1 em um milhão, sendo otimista!
Ele vestia blusa branca e calça jeans normal. Mas nele ficava normalmente irresistível. Eu devia parecer uma pateta de avental todo sujo de farinha. As vezes o destino é cruel.
- Oi.- ele disse, olhando nos meus olhos. E daí que ele olhava nos meus olhos!? São olhos, olhos foram feitos pra olhar. E por que eu ainda reparava nessas coisas!?
- Oi...- um silêncio constrangedor se abateu. A boca dele se curvava em um sorriso. Ótimo. Ele pelo menos estava se divertindo com meu papel de boba.- A Holl não está.
- Ah, eu sei.- mais uma vez silêncio. Por que ele viria então?
- Ahn, quer entrar?- abri a porta e fiz um gesto.
- Seria ótimo, está um gelo lá fora!- ele entrou. Por que ele não estava com uma droga de um casaco então!? E por que eu estou tão revoltada!?
- Fica a vontade. Bom, a casa não é minha, mas como sou a única aqui.- dei de ombros e voltei pra cozinha. Tinha que mexer meu brigadeiro. Se ele tivesse queimado, Hoechlin iria sentir minha ira.
- Você tá meio ocupada, pelo visto.- me virei e ele observava rindo a sujeira que eu tinha feito. Dei de ombros novamente.
- Digamos que eu sou meio espaçosa. E a massa toma muito espaço.- me concentrei no brigadeiro para não me concentrar nele. Sorte que não tinha queimado. Mas já estava quase no ponto.
- Quer ajuda?- disse ainda rindo. Pensei um pouco. Estava um caos ali. Seria falta de educação aceitar?
- Olha, eu geralmente não aceitaria, mas eu to precisando mesmo.- olhei pra ele e aquela conexão estranha se formou de novo. Desviei os olhos rápido e me concentrei em mexer. Ouvi uma risada baixa e minhas bochechas esquentaram.
5 minutos depois já via o fundo da panela, então desliguei o fogo e derramei o brigadeiro num prato lindo que achei mexendo nas coisas de cozinha da Holl. Tyler tinha dado uma boa organizada no pouco tempo que passou. Impressionante.
Pus o prato na geladeira e fui ajuda-lo. Limpamos tudo num silêncio denso que parecia um peso sobre minhas costas. Quando o ultimo grão de farinha foi extinto da bancada, me sentei no banquinho da ilha da cozinha e observei ele ir ao armário, pegar dois copos e olhar a geladeira.
- Quer refrigerante?- perguntou sem olhar pra mim.
- Hm, quero. Obrigada.- ele pegou a garrafa e derramou o liquido em ambos os copos, passando um pra mim. Sentou na minha frente e ficou me encarando. Sem falar nada. Não sabia pra onde olhar, então me concentrei no copo em que eu mexia nervosamente. Depois de um tempo constrangedor, tomei coragem e perguntei.
- O que foi?- levantei os olhos timidamente e ele franziu um pouco as sobrancelhas.
- Você é sempre tão fechada assim?
- Não sou fechada. Você só não me perguntou nada.- percebi que minha resposta foi um pouco rude, mas era verdade. Ele continuou me encarando com aquela fachada de curiosidade. Suspirou depois de algum tempo.
- Como era sua vida no Brasil?- Ok. Aquela pergunta me surpreendeu, mas me deixou bem feliz. Adoro falar da minha família.
- Bom, eu morava em Minas Gerais. Belo Horizonte, pra ser mais exata. Eu estudei no mesmo colégio desde o sexto ano, então sempre tive os mesmos amigos. Mas não eram amigos mesmo. Descobri isso quando me formei e perdi o contato.- ele me olhava atentamente, então continuei o relato.- Desde de meus 14 ajudava a minha mãe na confeitaria da família e ela sempre me pagava como qualquer funcionária, logo fui juntando dinheiro. Quando terminei a escola, consegui uma bolsa para a faculdade de artes cênicas de Yale. Desde então estou em território americano.- dei de ombros e ele parecia genuinamente interessado. Depois de uma pausa, perguntou.
- E como foi parar no Canadá?- dei um ultimo gole no refrigerante e continuei.
- Assim que me formei, Travor assinou comigo. Consegui alguns pequenos trabalhos e quando me falou de uma peça no Canadá, me mudei de imediato.- olhei pro teto, lembrando daqueles momentos.- Meu sonho sempre foi morar lá. Começamos a ensaiar e eu estava super empolgada, mas ai o diretor da peça teve uns problemas de saúde e não acharam ninguém para financiar. Tive que ficar por lá mesmo. Arrumei um emprego e fui me arranjando. Então ele me ligou e cá estou eu.- Hoechlin estava com o senho franzido e me olhava com uma centelha de algo que não identifiquei.
- Entendo... E por quê não voltou pra casa?- algo pesava seu olhar geralmente brando, mas ele deu um sorriso.
- Não podia desistir sabe? Não era orgulho, eu só... queria me virar. Não sou dessas que volta pra saia da mãe na primeira dificuldade. Acho que queria provar pra mim mesma que eu era adulta.- pela primeira vez admiti isso em voz alta. Sempre tive muito medo de nada dar certo, e mesmo com as insistências da minha mãe pra eu voltar pro Brasil, não dava. Sou a criatura mais teimosa que já se viu.
Quando olhei, Tyler sorria abertamente. Sorri de volta. Ele levantou a mão e a levou em minha direção. Comecei a ficar nervosa. Ah meu Deus. Meu coração batia feito louco. Ele então passou o dedão na minha bochecha. Aquele toque me fez sentir uma onda elétrica por todo meu corpo. Seu olhar não estava mais divertido, estava sério e parecia queimar.
- Farinha. Estava me incomodando.- ele não sorriu, só me fitou nos olhos. Assenti e fingi que ele não tinha desestabilizado todas as minhas estruturas.
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Crazy in Love
RomanceRebecca Moliari, uma estudante de intercâmbio, acabou de se formar em artes cênicas nas universidade de Yale. Um prodígio desde cedo, olheiros logo a chamaram para pequenos papéis, mas a oportunidade da sua vida aparece quando seu agente liga, falan...