Bloqueio

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Eu estava a ponto de ter um ataque de nervos. Simplesmente nada mais entrava na minha cabeça! Depois que passamos a semana toda gravando, Jeff mandou um novo script. Seria ótimo, mas eu não conseguia entender nada! Naquele sábado fiquei o dia todo tentando me concentrar, só... Não ia!

Não vou dizer que estava assim sem motivo. Várias coisas rondavam minha cabeça, e uma delas era o desaparecimento de Tyler. Ele simplesmente não deu um sinal de vida, uma mensagem, nada. Não que ele me devia alguma coisa, mas sei lá. Ele me deixou plantada lá!

Ouvi a campainha sendo tocada, mas nem sequer movi a bunda do colchão. Tinha coisas melhores pra fazer, tipo reclamar de tudo. Minha tpm está atacada esse mês.

Deitei de costas e pus o braço nos olhos, bufando. Porque ele não saía da minha cabeça? Não estou dizendo que estou apaixonada por ele, longe disso, mas ja senti atração por outros homens e nenhum deles ficava na minha cabeça assim. Girei para o lado e enterrei a cabeça no travesseiro, abafando o grito.

Toc toc. Virei de frente. Suspirei, me levantando. Assim que abri a porta, um aroma de homem me envolveu. Tive um deja-vú da ultima vez que ele apareceu na porta e eu tava toda bagunçada. Pra variar um pouco, vou aparecer na casa dele às duas da manhã. Quero ver quem vai estar bagunçado.

Meu coração se apertou ao ve-lo. Meu estômago se agitou. Tudo teria sido perfeito se eu não estivesse com uma raiva assassina dele. Me virei e voltei para a cama.

- Eu... Posso entrar?- falou inseguro. Odiava o que a voz dele fazia comigo. Assenti com a cabeça e o olhei pela primeira vez em uma semana. Seu rosto parecia cansado e abatido. Olheiras leves estavam em baixo dos seus olhos. Toda a raiva deu lugar a preocupação. O que havia acontecido?!

Ele se sentou na beirada da cama e me deu um sorriso cauteloso. Sorri de volta. Tomando isso como incentivo, ele repousou a mão na minha panturrilha. Estremeci.

- Você tá bem?- sentei e me aproximei dele. Ele desviou os olhos, olhando para as mãos, agora unidas no colo.

- Agora sim.- ele ficou com o olhar fixo e as sobrancelhas unidas. Aquilo apertou meu coração. Fiquei de joelhos e o abracei de lado. Como um gesto automático, ele me puxou para si, me fazendo abraçar suas costas. Fiquei sem reação no início, mas o envolvi com as pernas e enterrei a cabeça em seu pescoço. Ele apertava meus braços de uma forma tão carinhosa que meu coração se partiu ali mesmo. Me afastei um pouco e tombei um pouco a cabeça pro lado, falando no seu ouvido.

- Quer me contar o que aconteceu?- ele ainda olhava pra baixo, mas suas mãos apertavam minhas mãos. Me sinto um pouco culpada por achar aquele toque tão terno, mesmo num momento como esse. Depois de uns minutos em silêncio, ele me olhou nos olhos, mas baixou a cabeça de novo.

- Naquele dia, recebi uma ligação da emergência.- seu cenho ficou ainda mais franzido.- Meu irmão mais novo sofreu um acidente. Um... acidente grave.- disse aquelas palavras como se fossem ferrões em sua boca.- Ele estava dirigindo, voltando pra casa, quando um carro bateu com tudo na lateral. O cara estava bêbado.- vi sua expressão se transformar de mágoa para raiva em questão de segundos.- Poderia ter tirado a vida do meu irmão... Sabe o que é você não poder matar o filho da mãe que quase tirou metade de você?! Por inconseqüência!- ele bufou. Entendia um pouco da sua dor. Apesar de não chegar nem perto, sentia vontade de arrastar no asfalto a cara das meninas que magoavam meu irmão. Suspirei.

- Acho que você ta precisando socar alguma coisa.- brinquei pra aliviar a pressão. Ele me olhou de forma meio envergonhada e orgulhosa ao mesmo tempo.

- Eu meio... Que já fiz isso.- ele riu e deu de ombros. Pensei um pouco.

- Você bateu no cara?- comecei a rir e ele me olhou mais seguro.

- Só fiz ele nunca mais beber e dirigir ao mesmo tempo. Acho que entendeu o recado.- deu de ombros. Aquele homem era impossível! Peguei uma das mãos que estava envolvendo a minha e olhei o punho. Tava bem vermelho e um pouco inchado. Um corte pequeno recém cicatrizado jazia ali. O olhei como se desse uma bronca.

- Se não tivesse feito isso, eu mesma acabava com a raça dele.- rimos juntos e ele apertou minha mão.

- Tenho certeza que daria conta do recado, mas nunca te deixaria chegar perto de um babaca como aquele.- falou como se não fosse nada de mais, mas foi. Atingiu o meio do meu coração. Saber que ele se importava comigo mandou embora minhas inseguranças por uns instantes. Sorri timidamente e olhei pra baixo. Uma questão começou a rondar minha cabeça. Não queria deixa-lo triste, mas tinha que perguntar.

- Como seu irmão está? Aliás, qual é o nome dele?- ele parecia mais tranquilo quando olhou pra mim.

- O nome dele é Tanner. Agora ele está bem. Saiu da UTI ontem. Passei todos os dias lá. Minha mãe quase me arrastou pra fora umas quinhentas vezes.- riu como um menino que aprontava travessuras. Dei um tapinha em seu peito.

- Tyler! Tadinha! Ela deve ter ficado preocupada! Ela só quer cuidar de você.- balancei a cabeça em desaprovação.

- Eu sei me cuidar.- disse, fingindo estar ofendido. Segurei o riso. Homens.

- Bom, parece que não. Vem, vou preparar alguma coisa pra você comer.- ele assentiu com a cabeça e quando me mexi pra sair, tirando minhas pernas dele, ele se virou e me deitou de lado. Nossos rostos estavam tão perto que pude sentir sua respiração quente ajustada com a minha.

- Que tal acabar o quê a gente tava começando lá na piscina?- sua voz rouca mandou toda minha resistência pra estratosfera.

Crazy in LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora