Tempestade

221 26 2
                                    

Ela sorria abertamente agarrada ao seu pescoço, ao passo que ele envolvia sua cintura carinhosamente. O brilho no olhar era inconfundível. Ai não... Eu sabia que uma hora isso ia acontecer. Tyler é perfeito demais pra ser real. Pra ser meu.

Saí de lá com o coração aos pulos. Não de um jeito bom. De um jeito nada bom. Segurei as lágrimas. Talvez minha reação seja um pouco exagerada, aliás nós mal nos conhecíamos. O quê, claro, não fazia doer menos. Voltei a sala e três segundos depois ele desceu com meu casaco, sorrindo. Bom, até olhar na minha cara. Um pouco mais receoso, se aproximou de mim.

- Seu casaco - ele estendeu como se fosse me ajudar a colocar, mas só estendi a mão e agarrei. O casaco, não ele.

- Obrigada.- ok, sem descontrole. Baixei os olhos. Machucava pensar que ele olhava pra outra com aquelas esmeraldas que eu tanto amava. Pois é, se já me feria agora, imagina se crescesse mais?!

- O que aconteceu?- ele tentou me fazer olhar para ele, mas me esquivei.

- Aconteceu um imprevisto. Eu, hm, preciso ir pra casa.- falei exasperada. Ele suspirou e sua mão levantou meu queixo. Por favor não me toque!

- Me conta o quê aconteceu. Não vai assim.- ele se aproximou ainda mais e não pude desviar o olhar. Encarei seu maxilar trincado. Não queria olha-lo nos olhos, ele veria. Veria tudo.

- Não foi nada. Só.. preciso ir.- voltei a olhar meus pés. Não pensa na mão dele. Não pensa no quê ele faz com você. Tentei rebater as imagens, as sensações, tudo.

- Tudo bem.- sua voz estava séria e composta. Fui em direção à porta e ele me entregou a bolsa. Entramos no elevador e o silêncio não foi quebrado por nenhuma Teodora. Desceu todos 34 andares sem interrupções. Olhei pra ele timidamente e vi que me encarava. Fiquei presa, com a vista turva pelas lágrimas. Infelizmente, Tyler percebeu. Se aproximou rapidamente e envolveu meu rosto com as mãos.

- Me diz a bosta que eu fiz, por favor. Não aguento te ver assim.- com seu rosto tão próximo do meu, percebi que poderia tomar dois rumos. Eu podia contar tudo pra ele e resolver aquilo. Ou apenas deixar quieto. Iria me poupar tempo e lágrimas. Escolhi o segundo. É mais fácil fugir do que lutar pelo o quê realmente quer. Espalmei o peito de Tyler e o afastei delicadamente.

- Não foi nada.- ele me olhava parecendo torturado. A porta do elevador se abriu e eu sai. Fui em direção ao carro e ele me seguiu, abrindo a porta pra mim. Extremamente sério, sentou no banco do motorista e dirigiu. Em completo silêncio. O que não foi nada bom, já que tive que ficar sozinha com meus pensamentos. Não agora, não posso chorar agora. Paramos em frente a minha casa. Bom, a de Holl. Ele ficou sentado, apertando o volante e me encarando.- Amanhã, às seis?- não ia deixar ele na mão.

- Claro.- sua voz distante fez meu coração se apertar mais ainda. Ele estava sério. Muito sério. Bom, acho que eu também estaria. Não o culpo por isso. Como também não posso culpa-lo por ele ter uma foto da mulher que ama. Exagero meu? Com certeza. Mas é melhor eu me afastar agora do que quando o estrago estiver feito. Fui em direção a porta e entrei. Espiei pela janelinha e ele foi embora. Então a primeira rolou. Junto com muitas e muitas outras. Quando vi eu já estava soluçando, encostada na porta. Braços magrinho me rodearam e acariciaram meu cabelo.

- Shh, vai ficar tudo bem. Calma.- Holl me abraçou e deixei tudo extravasar. Chorei por mim, por ter tanto medo. Chorei por não conseguir me entregar. Chorei por ele, pelos sonhos que tinha todo dia antes de dormir. Pelo os planos que mesmo sem eu querer, me pegava fazendo. Chorei pela esperança e pelo meu coração que agora tinha uma pequena rachadura.- Vem, vamos pra cima.

Subimos e Holl pegou uma toalha pra mim. Entrei no chuveiro do meu quarto e ela ficou sentada no puf, conversando comigo. Assim que a água quente se chocou comigo, respirei normalmente.

- Então...- ela começou exitante.- Quer me contar o que aconteceu?- funguei e deixei meus cabelos molharem. Peguei uma boa dose de shampoo e comecei a massagear o coro cabeludo.

- Bom, eu estava na casa dele pra... resolver algumas coisas.- tirei o shampoo e peguei outra dose.

- Certo.

- Tínhamos acabado de... Hum... resolver. Ai ele ia pedir uma pizza, só que eu tava com um pouco de frio. Meu casaco estava no quarto dele e...

- Porquê seu casaco estava no quarto dele?!- Holl falou um pouquinho mais alto. Me surpreendi quando uma risada escapou da minha boca.

- Ele tava me apresentando a casa e... Longa história. Voltando ao ponto. Ele foi buscar e eu fiquei de bobeira lá em baixo. Ai fui olhar em volta e vi uma porta meio aberta.

- Saco, isso nunca da certo.

- Pois é. Ai entrei e era uma biblioteca particular enorme! Você sabe como sou encantada com isso. Fui olhando cada estante e quando cheguei ao fundo...- tive que dar uma pausa quando senti a garganta fechar. Pigarriei.- Tinha uma foto da Brianna lá.- encrespei as sobrancelhas. Olhando assim minha reação parecia meio ridícula.

-Brianna? A ex dele?

- É.

- E você ficou nesse estado por causa da foto, certo?

- Acho que sim.

- Beckynha, tenho uma má notícia.- ri com sarcasmo.

- Mais uma?

- Se tá se doendo toda de ciúmes, esse sentimento ai é maior que você pensa!- suspirei.

- Me dei conta disso já.

- Não vou dizer que ta sofrendo a toa, porquê ja tive uma experiência parecida. Bem ruim. Mas você já pensou que talvez ele nem saiba que isso ainda ta lá?- passei o condicionador nas pontas e comecei a refletir. Hm, não. Não podia ser.

- É impossível Holl. Ele tem que saber!

- Porque ele tem que saber?

- Porque...- suspirei.- Porque se ele não souber, eu cometi o maior equívoco da minha vida! E eu odeio estar errada. Ainda mais que com isso eu posso ter acabado com... tudo!- ouvi um risadinha.

- Becky... Você é mais tapada que eu às vezes!- desliguei o chuveiro depois de ter feito minha higiene.

- Ahn... Como assim?- me enrolei na toalha e saí. Holl olhava pra mim como se estivesse falando com uma criança de dois anos.

- Se tivesse a remota possibilidade de ter acabado com tudo porque bolas ele te ligaria quatro vezes?- ela ergueu o meu celular que começou a tocar de novo.- Bom, cinco agora.- Ela me estendeu o celular e saiu do banheiro rindo. Bem... Eu atendi.

Crazy in LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora