Conversa Franca

378 43 1
                                    

Most times I pretend that he's just a friend, he's just a friend
Yeah I'll try to make our hearts beat in time
Even though your rhythm might not be with mine

Ele ainda me encarava, mas desviei o olhar. Aquele olhar me perguntava e exigia respostas. Me instigava, era intenso. E sinceramente, eu não sabia o que fazer. Era totalmente surreal que algo a mais tivesse acontecendo. Nos conhecíamos a pouquíssimo tempo! E eu era apenas eu. O máximo que almejava era um cara legal, mediamente bonito e que eu tivesse uma química. Mesmo se tivesse a remota possibilidade de estar rolando alguma coisa, sério, quais chances eu teria?!

Estava tão absorta em pensamentos que não o vi se aproximar e se curvar um pouco, fazendo com que ficássemos com a mesma altura.

- Desculpe se te chateei com esse papo todo, só queria te conhecer melhor.- ele sorriu e encaixou a mão no meu queixo, mandando eletricidade por todo o meu corpo. Com aquela aproximação toda, não conseguir refrear a pergunta que estava me rondando.

- Por quê?- falei baixinho e ele me olhou confuso.- Porquê quer me conhecer melhor?- ele ficou me encarando por um tempo, mas algo em sua expressão mudou. Como se tivesse mais confiante.

- Porque tenho a forte sensação que se eu me aproximar o bastante de você...- ele fez uma pausa pra olhar bem dentro dos meus olhos. Dessa vez não consegui desviar.- ...posso achar uma mulher maravilhosa que eu to muito afim de ter por perto.

Aquelas palavras, aquelas poucas e simples palavras, fizeram todo meu ser se apertar num misto de felicidade e algo que não consegui identificar, mas era muito, muito bom. Estávamos tão perto que eu sentia seu hálito de menta salpicando em minha pele. Então a porta da frente se abriu. Eu e Tyler pulamos de susto e, por pouco, não caí da cadeira.

Me levantei e fui em direção a Holl totalmente aérea. O que foi aquilo?! Ela estava cheia de sacolas de compras e me recebeu com um sorriso.

- Oi Becky! Pode me ajudar com isso?- fui em sua direção e peguei algumas sacolas. Quando me virei pra leva-las a cozinha, Tyler apareceu em nosso campo de vista.- Hoechlin? O que está fazendo aqui? Eu te avisei que não estari...- se interrompendo, ela o olhou confusa e depois pra mim. Um sorriso iluminou sua face, mas disfarçou rapidamente.- Não fique ai parado! Ajuda aqui!- Ele veio rapidamente em nossa direção e pegou as sacolas das minhas mãos, levando pra cozinha.

Fiquei estupefata com esse simples ato e quando me virei pra minha mais nova amiga, suas sobrancelhas perfeitamente alinhadas estavam levantadas e havia uma expressão de malicia.

- Não vou nem perguntar o que está acontecendo, porque você parece tão perdida quanto eu.

- Você não sabe o quanto...- me calei quando ele voltou e pegou o resto das sacolas. Até Holland havia percebido. Ele não agia assim normalmente?

Fomos para a cozinha guardar as coisas, mas Tyler nos interceptou antes disso.

- Eu preciso ir agora, tenho alguns assuntos pra resolver.- ele disse para nós, mas em seguida se fixou em mim.- Se precisar de alguma coisa, pode me ligar, certo?- assenti por instinto e quando ele se deu por satisfeito, sorriu e foi embora. Holland olhava tudo com curiosidade, mas não disse nada e começou a guardar as coisas. Fui ajuda-la, aliás, o que mais eu poderia fazer?

***

A tarde chegou rápido depois daquela situação e tudo voltou ao normal. Holl mandava indiretas que responderia qualquer coisa sobre ele se eu perguntasse, mas não fiz isso. Obviamente minha curiosidade estava no ápice, mas, se eu queria ter alguma chance de extinguir tudo o que acontecia comigo quando estava perto dele, não poderia saber mais. A melhor maneira era ignorar. Amanhã eu começaria a gravar e com certeza iria me distrair. Nada de olhos verdes e manchinhas amarelas. Nada de barbas para fazer. Nada de sorrisos que atingiam meu coração diretamente. Nada. Disso.

Quando deu as quatro horas, tirei a massa do freezer e fiz o procedimento pela terceira vez. Mais quatro horas no freezer e finalmente eu poderia assa-la.

- O quê esta fazendo aí?- Holl entrou curiosa na cozinha, espiando a massa que ia pra geladeira.

- Uma massa folhada para fazer um mil folhas. Já comeu?

- Sim! Algumas vezes! Amo esse doce! Você consegue mesmo fazer?- ela parecia duvidar. Nas primeiras vezes até eu duvidei de mim mesma.

- Já fiz ele algumas vezes. Não ficou idêntico ao francês, mas ficou bem parecido.- dei de ombros.

- Nossa, você vendia ele na loja da sua mãe?

- Mais ou menos. São mais de uma.- depois de uma pausa, Holl perguntou.

- Mais de uma o quê?

- Lojas da minha mãe.- estava ficando desconfortável. Não que seria um problema ali, aliás todo mundo era podre de rico, mas no Brasil muitas pessoas se aproximaram de mim pelo fato da minha familia ser, bom, podre de rica.

- Espera. Sua mãe tem um rede de confeitarias e você não me fala nada? Estou me sentindo enganada!- rimos e corei.

- É que eu sou meio traumatizada com isso. Sempre tive medo das pessoas se aproximarem por interesse sabe? Depois de quebrar a cara algumas vezes, passei a ocultar esse fato.

- Além de uma rede de confeitarias, você tem dinheiro? Olha, se eu soubesse iria cobrar aluguel! Altíssimo!- Holland brincou pra aliviar o clima.- Deixa eu ver se entendi. Pelo o que conversamos ontem, você fez a facul por bolsa e morava no Canadá trabalhando de garçonete. Porque simplesmente não pegou dinheiro com seus pais? Eles não quiseram ajudar?

- Não é isso. Eu que nunca quis. Caso eu não conseguisse a bolsa, concordei em deixar meus pais pagarem, mas fui criada pra ser independente financeiramente. Quero fazer minha própria "fortuna". Mas claro, se as coisas apertassem demais, eu aceitaria ajuda. Só não chegou a esse ponto.

- Nossa! O quê mais você esconde? Trabalha pro FBI?- rimos e depois que eu acabei de arrumar a bancada, fomos ao Starbucks ao lado da casa de Holl. Ela foi parada por algumas pessoas pra tirar fotos, mas fora isso foi tudo tranquilo. Conversamos bastante e depois voltamos para casa. Pedimos uma pizza portuguesa- depois de prometer que era a última vez- comemos e fui conferir a massa. Tirei ela do freezer e a pus na geladeira normal. Amanhã estaria perfeita pra fazer. Me despedi de Holl e fui tomar um banho de essências na banheira maravilhosa do meu banheiro pessoal. Depois de passar creme no corpo e fazer minha higiene, orei à Deus e me deitei. Amanhã começaria minha carreira de verdade. Meu sonho se tornou realidade! Dormi com o coração feliz.

Dessa vez não me recordei do sonho que havia tido aquela noite, mas passei na cabeça mais vezes do que gostaria os acontecimentos daquele dia. Que envolvia olhos verdes. E barba para fazer. Só que nada daquilo foi imaginação.

Crazy in LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora