Meus olhos ardiam, minha visão embaçada e meu coração absurdamente acelerado me deixavam desnorteados. Tudo parecia girar ao meu redor, porém eu precisava de concentração. Eu tinha que resolver aquele pesadelo. Os enormes olhos azuis que me encaravam estavam amedrontados, e eu também estava. Toda aquela situação tinha ido longe demais. Eu perdi o controle. Eu fui longe demais. O sangue agitado em minhas veias fazia minha cabeça querer explodir.
Minha mente nebulosa não conseguia formular um pensamento coerente. Não conseguia achar uma solução. A única coisa clara pra mim era minha incrível capacidade de ser um completo idiota. Eu estava destinado a infelizes acontecimentos. As tragédias se acumulavam na minha historia e evidentemente eu as causava ou não conseguia impedi-las.
Esfreguei meus cabelos tentando pensar e dei um passo em direção a figura frágil e assustada da menina. Mesmo sem ter pra onde recuar, ela queria se afastar de mim. Seus extintos estavam certos. Ela tinha visto tudo. Ela me reconheceria. Ela me entregaria. Ir para a prisão estava fora de cogitação. O que eu devia fazer com ela? Matá-la também?
Foquei-me em observar a menina. Tão delicada, vulnerável e cheia de juventude. Não podia ter mais que 18 anos. Nada ela tinha feito para merecer a morte.
Outro passo em sua direção, desta vez, decidido. Eu não iria matá-la, entretanto não poderia deixá-la sair dali e me denunciar. Puxei-a para mim e a coloquei de pé. Vacilante ela choramingou por ter pisado em cacos de vidro.
– Quieta! Se você der mais um pio eu te mato também. – Ameacei-a deixando minha posição bem clara ao encostar com o cano da arma em seu pescoço. Ela enrijeceu entendendo que eu não estava blefando.
Me certifiquei se havia mais alguém na casa. Só eu e ela. Coloquei-a sobre meu ombro sem muito esforço e a levei para fora. A rua estava calma. Nenhuma luminosidade a não ser a dos postes. A madrugada seria minha aliada. Joguei a garota no porta malas do carro e a atingi na cabeça com o cabo da arma. Eu precisava que ela ficasse realmente quieta. Fechei a porta e saí cantando pneus. Corri fazendo questão de não me importar com os sinais vermelhos. Em poucos minutos estava em frente ao velho prédio. Olhei para todos os lados cautelosamente. Nenhum sinal de que alguém estava ali. O corpo magro da menina desfalecida em meus braços não pesava quase nada. Eu podia praticamente correr escada acima. Quase todas as noites alguns jovens se reuniam em um dos apartamentos do primeiro andar. A pausa nas festas justamente naquela noite foi bem vinda, caso contrário o corredor cheio de jovens bêbados e drogados não me daria a discrição necessária. Terminei o meu trajeto até o quinto andar, entrei em meu apartamento e fechei as muitas trancas apressadamente. Pousei o corpo da garota sobre a minha cama e o fitei curioso. Sua respiração era calma. O que eu faria quando ela acordasse? Cheguei mais perto e tirei uma mecha de cabelo loiro de sua bochecha rosada. Ela parecia um anjo e eu a trouxera para meu inferno particular.
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DARK PARADISE
Mystery / ThrillerOs piores pesadelos de April nunca poderiam prepará-la para o que estava por vir. Aquele crime não premeditado arruinou tudo. Os sonhos da doce garota escaparam entre seus dedos e ela não conseguiu evitar. No momento em que os olhos verdes de John a...