Capítulo 11.

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"YOU MUST BE HAUNTING ME." 


Por mais que eu tentasse adormecer novamente, não conseguia. Minha mente estava alerta e toda a quietude de John começava a me incomodar. Levantei meu rosto novamente e o encarei. Seria maldade acordá-lo? Se eu me mexesse mais ele despertaria, certamente. Tamboreei meus dedos em seu peito tentando me decidir e continuei o observando. Eu devo ter mexido mais do que pretendia, então ele acordou. Depois de uma pequena confusão seus verdes e brilhantes olhos fixaram-se em mim. Um quase sorriso moveu o canto de sua boca quase escondida pela barba grande. Tentei pensar em algo para falar, mas nada me ocorreu.

– Você caiu no sono. – Me contou.

– Pelo jeito você também.

Ainda demorei algum tempo para decidir me afastar dele e quando o fiz, John não se mexeu. Seu braço continuou no mesmo lugar, como se algo estivesse faltando. Segundos se estenderam depois da fala. Nenhum de nós se mexia um milímetro. O clima era estranho e ao mesmo tempo acolhedor. A noite havia sido divertida, mas também trouxe verdades incontestáveis, principalmente para mim.

– Estou com fome. – John se ajeitou no sofá e fez uma careta divertida. Às vezes ele não agia como se fosse ele mesmo.

Eu também estava com fome. Parecia que havia um buraco negro dentro de mim. Talvez não só pela fome. Aquela sensação de vazio era normal, mesmo que eu estivesse alimentada.

– Eu comeria umas mil panquecas. – Tentei brincar e funcionou. Uma risada leve vinda de John preencheu o apartamento.

– Bom, eu posso comprar algumas e trazer pra você. Não acho que vendam tantas assim de uma vez, mas vou tentar. – John entrou no meu exagero.

– Tem alguma coisa nessa dispensa? Eu posso fazer panquecas. – Senti a disposição tomando conta de mim. Cozinhar sempre foi uma bela distração.

John não conseguiu esconder sua surpresa. Aparentemente eu tinha falado algo de outro mundo.

Ele se espanta tanto quando conhece mais sobre mim. Isso é bom ou ruim?

– Você sabe fazer alguma coisa na cozinha? – Levantou as sobrancelhas grossas.

– Sei fazer várias coisas, meu caro. – Respondi revirando os olhos.

– Eu estou falando serio April. Fazer macarrão instantâneo não quer dizer que você realmente cozinhe. – Zombou desconfiado.

– Eu fazia a comida todos os dias na minha casa. Era praticamente a gata borralheira. Tenho vasta experiência. Você é que não deve saber fritar um ovo sequer. Sempre me enfia essas porcarias congeladas. Eu sinto falta de comer comida de verdade, aliás. Algo que não tenha gosto de plástico e gelo. – Aproveitei o assunto para choramingar um pouco.

– Eu sei cozinhar! Só não faço por preguiça. Praticamente não como... –Entregando a mentira defensiva ele piscou charmosamente. Lógico que um homem daquele tamanho comia como um leão. John estava sempre mastigando alguma besteira. – Você não tem cara de que cozinha bem, April.

Dei um tapa de leve no braço dele fazendo sua careta desconfiada se desmanchar. A acusação me ofendeu gravemente. Ele riu novamente adorando a minha indignação. Todo engraçadinho logo cedo.

– E como é a cara de uma boa cozinheira?! Eu sou ótima no fogão! Você vai comer as panquecas e ainda vai lamber o prato. Aposto!

– Eu duvido. – Riu zombando.

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