Capítulo 8.

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"I'll wrap my hands around your neck so tight with love."


Abri meus olhos com o ronco estranho de John. Não consegui lembrar como e nem em que momento da noite eu me permiti deitar, mas aconteceu. O rosto dele estava a apenas alguns centímetros do meu. O ronco cessou e ele respirou de forma mais leve. Observei seus traços cuidadosamente. Ali dormindo ele parecia inofensivo, pacífico e... bonito. Além daquela postura ameaçadora havia algo belo.

Ele despertou piscando os olhos diversas vezes.

– April...

– Você está bem? – Depois do susto da noite anterior eu precisava saber.

– Acho que sim.

Com John acordado e pelado a situação de estar tão próxima dele começou a ficar estranha. Coloquei-me de pé num pulo. Ele ia se levantar também, porém quando começou a puxar a manta notou sua nudez e ficou confuso.

– Você apagou... Eu... Eu não tive como vesti-lo. – Pigarreei sentindo o ardor em minhas bochechas. Constrangedor. – Não tinha outro jeito...

– Tudo bem. Não sou o primeiro cara que você vê pelado, não é mesmo? – O tom irônico dele não combinava nada com alguém que tinha quase morrido horas atrás. John se levantou sem se importar com a falta de roupas. Desviei meus olhos enquanto ele se vestia. Tudo bem que eu já tinha visto tudo aquilo, mas não preciso – nem quero – ficar olhando toda hora. – Vou ter que limpar essa merda.

Só com a reclamação de John eu percebi que o quarto fedia a vômito e ainda estava sujo. O banheiro também devia estar uma completa bagunça.

– Não consegui limpar. Eu estava preocupada com você e...

– Está tudo bem, April. – Ele me cortou. – Já disse que vou limpar.

– Você se lembra de tudo? – Quis entender melhor a situação.

– Quase tudo. Parece meio borrado, mas acho que a maior parte de ontem está aqui na minha cabeça.

Esperei que os agradecimentos viessem e nada. Apenas um silêncio estranho.

– Então... Eu salvei você... – Tentei refrescar a memória dele.

– Eu sei. – Respondeu seco.

– Eu sei? – Repeti sem acreditar. – Um "obrigado" pelo menos seria mais apropriado.

– Não tenho motivos para te agradecer.

Meu queixo simplesmente caiu com a frieza dele. Não é assim que uma pessoa normal agiria.

– Eu devia ter deixado você morrer então? – Indaguei já exaltada.

– Sim. – John não hesitou ao responder. – Eu não tenho motivo nenhum para querer viver, April. – Confessou com naturalidade. Como alguém pode ser tão ferrado assim?!

– Como não John? Se você morrer como ficarei seu idiota? – O sangue correu em minhas veias cada vez com mais força. – Eu morreria de fome!

– Ou você escaparia! – Ele gritou de voltar fazendo minha cabeça girar desorientada.

– Eu fui idiota! – Constatei mais para mim do que para ele. – Achei que você poderia me deixar ir embora. Achei que você me agradeceria por ainda respirar. Que entenderia que isso tudo pode acabar bem. Eu iria embora e ninguém saberia o que aconteceu aqui. Como eu sou boba! – Ri nervosamente. Eu tinha feito tudo errado.

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