Capítulo 14.

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"THIS AIN'T THE RIGHT TIME FOR YOU TO FALL IN LOVE WITH ME."

As muitas perguntas de John fizeram meu coração acelerar ainda mais e a palavra "assassina" serpenteava diante dos meus olhos. Que tipo de monstro eu seria se me omitisse? Se assistisse todo o sangue dele se esvair do corpo e não mexesse um dedo para impedir?

John piscou diversas vezes e suspirou com dificuldade. Ele mal conseguia ficar acordado. Já tinha perdido quantidade considerável de sangue. Estava beirando a inconsciência.

A visão da poça de sangue em que Samuel deu seu último suspiro atingiu meus olhos de forma nítida. Rapidamente minha imaginação cruel brincou comigo e trocou Samuel por John. A cor viva do sangue vermelho contrastando com a palidez em sua pele. Os olhos arregalados fitando o nada. A escuridão. A imagem aumentou minha ânsia de vômito. Um arrepio macabro percorreu meu interior. Eu não poderia conviver com aquilo. Mesmo que ninguém me condenasse por ser um monstro, eu o faria. Eu seria minha própria juiz e jure, sentenciando minha alma a um tormento eterno. O sofrimento não podia mudar meu caráter. Por mais que John fosse o motivo da desgraça que minha vida se tornara ele era um ser humano. Abandoná-lo ou negociar sua vida não cabia a mim. Não era uma opção. Eu não podia simplesmente ficar parada. John realmente precisava de mim.

Amarrei meus cabelos de qualquer jeito, o encarei pronta para seguir instruções e joelhei-me mais perto.

– Vou precisar que você me diga o que fazer. – Minha garganta estava seca e com um aperto estranho. Minha voz saiu em um fio.

– Boa garota, April. – Sua expressão de dor só aumentava. – Eu sabia que não iria me decepcionar. Me passe a garrafa.

Retirei o lacre da tampa da garrafa e a entreguei para ele. Em segundos o status dela foi de cheia à quase vazia. O reprovei com o olhar por beber tudo de uma vez. Como ele podia pensar em alimentar o vício numa hora daquelas?

– Anestésico. – Explicou desviando os olhos de mim.

– Um desses comprimidos deve servir para isso. – Comecei a estudar os nomes nos versos das cartelas procurando por algo familiar.

– Se eles tiverem validade de 20 anos... Meu pai sempre levava essa caixinha para nossas pescarias juntos na minha infância, mas só vi ele mexer nela uma vez na vida. Duvido que esses remédios ou outras coisas ainda estejam dentro do prazo de validade.

Ignorei John. Destaquei um dos comprimidos da cartela e ele simplesmente esfarelou-se entre meus dedos. Realmente não serviriam. O encarei novamente e um sorriso vitorioso se formava em seu rosto angustiado, mas logo se desmanchou.

Organizei a gaze, a atadura e a tesoura, faltava o principal.

– A agulha? – Perguntei sentindo minha garganta ainda seca arranhar com a palavra.

– Na caixa de alumínio. – Me orientou. Abri a singela caixinha meio enferrujada, a agulha cintilou com a luz e havia um pequeno rolo de linha junto a ela. Os dois objetos eram diferentes do que eu conhecia. A agulha tinha uma curvatura na ponta e a linha era mais grossa e resistente que uma linha comum para roupas. Controlei o tremor que percorreu meu corpo. – Joga isso na ferida. – John devolveu-me a garrafa de vodca.

O encarei buscando confirmação. Aquilo arderia até a alma. Ele simplesmente mordeu com força o pano que eu trouxera mostrando que estava preparado.

Joguei de uma vez o líquido e assisti o sangue jorrar ainda mais, misturando-se a vodca. Um grunhido baixo escapou da boca tapada de John. Preparei a linha na agulha sentindo sua textura áspera e antecipando a dor que ele sentiria e molhei-a com a vodca também a desinfetando.

DARK PARADISEOnde histórias criam vida. Descubra agora