Capítulo 9.

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"I'm gonna live like tomorrow doesn't exist."


Nos próximos dias John evitou ficar perto de mim. Não que isso fosse ruim, mas eu sabia que os motivos dele para isso eram amargos. Ele estava com medo. John temia o que poderia acontecer se ele não se afastasse. Era o que eu sentia também.

Não pude deixar de notar que as bebedeiras tinham acabado aparentemente. E não havia sinais de que ele continuava usando drogas, pelo menos não na mesma frequência e quantidade. Isso me surpreendeu, de fato.

Ele continuava saindo a noite e voltando nos horários habituais. Até que um dia, ele não voltou pela manha, o que me preocupou muito. Onde ele estaria? Porque a demora? Já estava na hora do almoço. Meu estômago roncava violentamente. Rejeitar a comida congelada da noite passada foi má idéia. E meu estoque de bobagens tinha acabado.

Bufei me levantando. Andei de um lado para outro tentando justificar a demora dele de forma positiva. Não conseguia. As possibilidades eram ruins. Em um estalo me lembrei que era aniversario dele. Já tinha se passado exatamente um mês desde que ele havia me falado sobre isso. Será que a comemoração foi adiantada? A noitada teria deixado John jogado em um bar qualquer até àquela hora? Ou algo realmente sério teria acontecido? Ele poderia ter sido capturado e estar se recusando a dizer onde me escondeu. Poderia ter sido atropelado. Poderia ter morrido nas mãos de algum traficante. Eu morreria de fome ali. Sem a mínima chance de pedir ajuda.

Comecei a ter um pequeno ataque de pânico. Tudo começou a girar e era cada vez mais difícil respirar. Me apoiei na parede ao lado da porta. O isolamento acústico. Ninguém nunca me ouviria. Eu gritaria até o fim e ninguém saberia da minha existência. Engoli seco. Tentei forçar meus olhos. Tentei pensar. Ele tinha que voltar. Ele não podia me abandonar assim. Eu precisava dele.

Ouvi as trancas da casa sendo abertas e suspirei aliviada. Ele estava de volta.

– O que aconteceu? Você está pálida. Está se sentindo mal? Parece que viu um fantasma. – John largou as sacolas que carregava e se aproximou me encarando profundamente preocupado.

Eu tinha visto o meu fantasma. Eu não queria morrer. Definitivamente não queria. Aquele inferno era melhor que a morte.

As mãos ásperas e quentes de John seguraram meu rosto com delicadeza. John me olhava como se eu fosse desmanchar a qualquer momento. E seu toque suave tinha a intenção de não me quebrar. Meu coração tamboreou no peito pela aproximação inesperada. As lembranças da noite que ele tentou me tomar para si vieram em rápidos flashs. Tentei organizar meus pensamentos.

Não esta acontecendo de novo April. Está tudo bem.

A preocupação dele só aumentava a cada segundo que eu ficava calada. Puxei o ar com força mais uma vez prendendo-me aos olhos de John. Aqueles olhos muito verdes de perto eram intimidadoramente lindos.

– Eu estou bem. – Consegui enfim falar. – Você demorou. Eu achei estranho. – Expliquei meu pânico.

– Ah... Me desculpe. – Sua expressão suavizou. – Eu tinha que comprar umas coisas... Feche os olhos.

Não entendi o que ele queria. Fui encorajada por ele com um sinal. Ele parecia bem animado. Fiz o que me pediu e esperei. O barulho das muitas sacolas sendo abertas, e coisas sendo espalhadas pelo quarto me deixavam ainda mais ansiosa.

John pigarreou. Entendi que isso era minha deixa e abri os olhos. Inacreditável.

Uma tela de pintura e vários materiais espalhados pela escrivaninha/penteadeira. Não pude conter o sorriso que tomou conta dos meus lábios.

DARK PARADISEOnde histórias criam vida. Descubra agora