Capítulo 17.

435 29 13
                                    

"BABE, THERE'S SOMETHING BROKEN ABOUT THIS BUT I MIGHT BE OPEN ABOUT THIS. OH WHAT A SIN..."

John e eu criamos uma rotina de conversa. Sempre nas refeições ele me contava fatos aleatórios de sua vida. Os assuntos eram variados e dependiam do humor dele. Nos dias mais tranquilos falávamos de coisas simples, alegrias da infância, bobagens do colégio. Nos dias mais sombrios eu conhecia sobre as noites de farra e fugidas de casa. Os extremos de John eram quase assustadores. Ele conseguia parecer uma pessoa totalmente diferente a cada fase da vida que me contava. Ouvi-lo me instigava ainda mais a saber tudo e de certa forma me fascinava. Eu era uma pesquisadora conhecendo o objeto a ser estudado. Nosso jogo funcionava muito bem pra nós dois. Era como se revelando aquelas coisas pra mim ele conseguisse se livrar um pouco dos fardos que carrega. Uma espécie de terapia. Minha expressão vez ou outra denunciava minha desaprovação por alguma coisa, mas no geral, sempre tentava receber tudo de braços abertos e ele percebia isso.

Mesmo que a rotina de "trabalho" dele tenha voltado nossas longas conversas, quase monólogos dele, continuaram.

Cada vez mais eu me sentia próxima de John de um jeito de me destruía silenciosamente. Parte de mim queria aquilo e se sentia completamente confortável, entretanto, a parte que ainda estava sã me repudiava e me lembrava sempre de que aquele homem era meu raptor e roubava de mim as horas, dias, meses, quase um ano naquela altura. Era torturante pra mim e enlouquecedor sentir coisas tão distintas.

John era uma contradição de personalidades, já eu era uma contradição de sentimentos. Eu tinha plena consciência disso tudo, mas não conseguia me afastar dele.

Naquele inferno todo o próprio diabo era a única coisa que me fazia sentir viva.

Num fim de tarde saí do banho secando os cabelos despreocupadamente e me deparei com John parado no meio da sala me encarando. Sua expressão era estranha, parecia que queria dizer algo mais se segurava.

– Demorei demais no banho, não é? Você já quer sair pra trabalhar. Não precisa me servir o jantar. Eu me contento com um pacote de salgadinhos. – Tentei desfazer a expressão preocupada dele. – Pode ir, John.

– Não. Eu não vou sair hoje. – Abanou as mãos nervosamente enfatizando a negativa. – Agora, uma vez por semana, alguém irá ganhar uma folga. O chefe decidiu começar comigo. – Sorriu orgulhoso.

– Ah, que legal! – Não consegui demonstrar tanta animação quanto gostaria. Ele foi o escolhido e premiado, provavelmente, por ser muito bom no trabalho e aquilo me assustava. John nunca falava abertamente e detalhadamente de suas atividades, mas eu podia imaginar com as pequenas coisas que ele contava vez ou outra. Espancamentos, cobranças violentas, tráfico, roubos de eletrônicos e outras coisas sórdidas. Suas mãos sempre tinham pequenos machucados das brigas e eu notava alguns roxos em seu tronco nas muitas vezes que ele ficava sem camisa. – Quem diria que o mundo do crime também tem benefícios... – A acidez na minha ironia fez John franzir as sobrancelhas grossas. Pigarreei me arrependendo. – Então... acho que vou ver TV. – Apressei meu passo pro quarto.

– Isso. Ótimo.

O comportamento estranho de John me deixou desconfiada. Entrei no quarto e fechei a porta. Tentei entender aquela conversa estranha. Às vezes é tão fácil para mim falar bobagens e ficar nervosa perto dele. Chega a ser frustrante.

Me virei e senti meus batimentos acelerados piorarem com o que meus olhos avistaram. Um quarto cheio de novidades. Meu material de pintura tinha ido parar num canto e agora um espelho estava em cima da escrivaninha. Me dei uma boa olhada sob a luz do quarto. Eu estava horrível. O espelho quebrado do banheiro não me deixava ver com tanta clareza. Reparei que a frente do espelho havia algumas maquiagens novinhas ainda nas embalagens. Peguei algumas coisas e estudei de perto. Coisas básicas: batom, lápis de olho, rímel e blush. Sou branca como um papel, então realmente uma corzinha me faria bem. As marcas impressas nas embalagens me espantaram. Só coisas caras. John sempre comprava as coisas mais vagabundas pra mim, porque tinha me dado mimos luxuosos de repente?

DARK PARADISEOnde histórias criam vida. Descubra agora