Capítulo 2.

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"CAN YOU SAVE ME FROM THIS HELL?"

Aos poucos senti minha consciência se estabelecendo e abri meus olhos com dificuldade. Pisquei seguidas vezes tentando ver com clareza o que estava ao meu redor. Um teto caindo aos pedaços e uma luz fraca, mas que ainda assim fazia meus olhos doerem. Girei minha cabeça e senti uma dor latejante. Puxei o ar com força e percebi que estava deitada. Tomei o controle do meu corpo e me sentei. A primeira coisa que vi foi aquele homem também sentado na mesma cama que eu, me encarando apreensivo. Meus pés estavam em seu colo. Só então me dei conta de que ele estava limpando os cortes feitos pelos cacos de vidro. Me encolhi rapidamente me afastando dele o máximo que pude.

– Ei, calma. Você se machucou, mas vai ficar tudo bem...

– Saia de perto de mim! – Tentei soar firme, porém minha voz saiu fraca e cortada. – Onde eu estou?

Dei uma boa olhada no cômodo. Um pequeno guarda roupa, a cama e uma espécie de escrivaninha. Nada mais.

– Me deixe cuidar de seus ferimentos. – Pediu com a voz rouca.

– Eu estou na sua casa?! – Deduzi ainda um pouco incerta.

– Isso não faz diferença. Se você não me deixar limpar isso irá infeccionar.

Mexi os meus pés e tentei não transparecer a dor que isso causou. Parecia que os cacos ainda estavam dentro da minha pele. Tentei ver, mas não consegui. Minha cabeça latejava compulsivamente. Eu nem podia me mover ou pensar direito.

Lentamente ele encostou na minha perna. Sua mão quente fez meus pelos se arrepiarem. Eu estava gelada. Estiquei minhas pernas com receio.

Com cuidado ele limpou meus pés. Senti ele puxar um caco de vidro com uma tesoura e inevitavelmente gemi com a dor incômoda. Estudei o rosto do desconhecido e percebi que ele não era tão desconhecido assim. Eu já havia visto aquele homem em algum lugar, só não conseguia me lembrar onde e nem quem ele era. Usando um algodão ele passou algo em meus pés que ardeu bastante. Trinquei meus dentes me recusando a reclamar muito com o processo. Aos poucos a dor foi passando e dando lugar a uma sensação de dormência. Infelizmente, minha cabeça ainda doía. Era como se alguém estivesse martelando e chacoalhando meu cérebro. Rapidamente ele se sentou mais perto. Recuei em reflexo, mas novamente eu estava encurralada.

– Ai! – Reclamei. Me mover só causava mais dor.

– Te bati muito forte, não é? Desculpe. – Sem que eu pudesse reagir ele examinou minha cabeça. – Não cortou. A dor vai passar logo. Não tenho nenhum remédio aqui...

– Deixe-me ir. Posso cuidar de mim. – Exigi praticamente implorando.

– Você sabe muito bem que não posso te deixar ir. – O tom ameaçador do homem me fez temer. – Você sabe April.

A pronúncia do meu nome me surpreendeu. Eu realmente já havia cruzado com aquele homem. Forcei minha memória mesmo que isso tenha feito minha cabeça quase explodir de dor e consegui lembrar. Nós havíamos nos encontrado na fabrica em que meu pai trabalha. O homem estava completamente mudado. Na ocasião em que o vi lá ele tinha a barba feita, cabelo arrumado e uma aparência saudável. Agora poderia ser facilmente confundido com um morador de rua. Ele trabalhou com Samuel e o matou por causa de 50 dólares. O homem que sorriu pra mim naquela fábrica não parecia ser capaz disso. Já o caco humano na minha frente foi.

– Samuel... – Sussurrei depois de ter a mente preenchida pela imagem de seu corpo sem vida jogado na cozinha. – Minha mãe...

Pensei no desespero dela ao chegar em casa depois do trabalho, ela ficaria arrasada. Apesar do relacionamento desgastado e arruinado ela ainda amava Samuel. Tentava de todas as formas reaver o que eles tinham antes de eu nascer, mas minha presença fazia com que ele se afastasse cada vez mais.

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