Capítulo 3.

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"I'M GOING TO MAKE THIS PLACE YOUR HOME."

Voltei para o quarto e fui amarrada novamente. Agora com a decência de ter um pouco mais de conforto.

– Vou sair e não demorarei.

Observei-o deixar o quarto e sem demora ele deixou a casa. Encarei o teto até que meus olhos doessem. Em minha cabeça muitos pensamentos. Dúvidas. Por quanto tempo aquela situação duraria? Até quando John me trataria de forma aceitável? Ele seria mesmo capaz de me fazer mal? Eu poderia escapar dali? Como? Alguém sentiria minha falta? Provavelmente não. Além de carros eventualmente passando na rua e alguns latidos de cachorro estridentes ao longe, eu não conseguia ouvir nada. Pelo pouco que vi na noite passada a vizinhança deve ter medo até da própria sombra. Nesse tipo de bairro as pessoas costumam nem se falar. Cada um cuida da sua vida e não se intromete na dos outros. As chances de alguém tê-lo visto me carregando eram pequenas. A polícia estaria a minha procura? Talvez minha mãe nem tivesse se queixado da minha falta na casa. Como ela saberia que o assassino me levou? Aquele não era um tipo comum de sequestro. Era cárcere privado e talvez eventualmente virasse queima de arquivo. Senti meus pêlos se arrepiarem. Eu não queria morrer. Tantos planos eu fiz e pensar em deixar o mundo sem realizá-los doía. Ficar trancafiada e amarrada seria menos terrível que a morte? Eu tinha que lidar com isso da melhor maneira por ora.

John prometera não demorar, mas não cumpriu. Horas e horas depois ele voltou agitado. Depois de mil recomendações e ameaças ele me deixou ir ao banheiro e comer novamente. Meu almoço se resumiu em comida congelada. Não reclamei. Só estiquei os ossos por cerca de 30 minutos ou menos e já estava amarrada na cama novamente. Bufei totalmente frustrada enquanto o observava.

Sem fazer esforço nenhum ele carregou algumas tábuas de madeira e as colocou no chão do quarto. Meu nariz coçou com o cheiro forte, mas imobilizada eu só conseguia contorcê-lo tentando aliviar. John retirou de seus bolsos pregos e um martelo. Encarou a janela e ficou pensativo por um instante. Entendi o que ele iria fazer. Lamentei mentalmente. Uma das minhas únicas distrações naquela situação era encarar o céu pela pequena janela e ver as nuvens passarem vagarosamente. Agora seria privada disso.

Decidido de como colocar a madeira na janela ele começou a trabalhar. Não demorou muito para que ele tivesse que acender a lâmpada fraca e suja. Essa seria a única luz que eu veria.

Me olhando ele abriu a boca para falar, porém hesitou e saiu. Ouvi a porta da frente se fechando. Ele tinha saído novamente e dessa vez nem se deu o trabalho de avisar se demoraria ou não.

Não sei quanto tempo se passou. Agora eu não podia saber ao menos se ainda era dia ou a noite já havia chegado. Tentei um exercício mental como distração. Relembrei momentos felizes da minha infância e comecei a rir um pouco. Pena que não durou muito, afinal, existiam poucos acontecimentos bons. Poucas coisas que valiam a pena ser lembradas. Na maior parte dos meus dias eu só conheci raiva, mágoa e indiferença. Pelo menos dentro da minha casa.

Assim que ouvi a entrada de John no apartamento e seus passos pesados me senti menos angustiada. Mesmo que ele não fosse a melhor companhia do mundo, ficar totalmente sozinha era horrível. Ouvi sons vindos da cozinha, e fiquei curiosa para saber o que ele fazia. Eu estava com fome. Agradeceria se ele estivesse me preparando um lanche. E em algum tempo, como se ele tivesse lido meus pensamentos, John entrou no quarto com um prato e um copo. Colocou tudo sobre a escrivaninha e começou a me liberar das amarras.

– Coma. – Ordenou me entregando.

Encarei as torradas levemente queimadas nas bordas. Um defeito da torradeira ou um defeito de quem as preparou? Não saberia, mas comi assim mesmo. Tomei o que havia no copo e tive um mísero momento de prazer. Era coca-cola e estava bem gelada.

DARK PARADISEOnde histórias criam vida. Descubra agora