5 | Já não consigo mais decifrá-lo

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Movi meu rosto para Trevor com a maior lentidão, cujo olhar estava o mais vívido que já vi — como se ele estivesse no desejo de ouvir uma resposta negativa. Não sabia onde enfiar minha cara. Mas que droga!

— Hã... Me dê licença rapidinho? — pedi, afastando o aparelho do ouvido e levantando-me abruptamente.

Ele não respondeu: apenas manteve seus olhos cravados em mim como um falcão. Ah, meu Deus. Obrigado, Paul! Obrigado mesmo!

Aturdido com o rápida mudança de humor dele, fui caminhando relutantemente até um dos cômodos que eu nem sequer conhecia da mansão, mas que servisse de anteparo entre mim e Trevor. Era bem ao lado da sala onde estávamos, um tipo de corredor bonito e bem tranquilo. Também possuía um quadro numa parede próximo a umas taças que me pareciam enfeites.

Voltei minha conversa com Paul.

— Paul, não sei se vou poder sair hoje...

Poxa, cara. Vai me deixar na seca mesmo? Me satisfaça hoje, vai? Por favor.

— Na seca? Mas você me comeu no sábado!

Sim, eu sei disso, mas hoje já é segunda. Eu te disse que ligaria de novo, não disse?

Esfreguei minha testa com uma mão. Não vai ser fácil convencê-lo, estou até vendo...

— É que eu já estou com um cliente — falei baixinho e depois inclinei minha cabeça para a parede que me impedia de ver Trevor. Ele estava concentrado na taça em seus dedos largos de uma mão, enquanto a outra mexia em sua barba.

Caramba, ele era muito gato — apesar de estar completamente parado.

Quando seus olhos intensos me encontraram, sorri timidamente e voltei à posição anterior em que eu me encontrava.

Seja lá qual for o valor que esse cara te pagou, eu triplico.

Ah, imagino sua reação se ele soubesse que eu estava com Trevor.

— Assaltou um banco, foi?

Meu pai é dono de um.

Sem conseguir traduzir esse tom de voz que ele usou, não pude saber se ele falava seriamente ou estava tentando me dobrar. Eu achava Paul o tipo de cliente californiano perfeito, solto e engraçado, mesmo que eu tivesse saído somente uma única vez com ele. Mas a questão era outra no momento: eu não queria deixar Trevor só. O motivo estava longe de qualquer um que ligasse ao dinheiro ou ao poder que ele possuía: eu simplesmente me sentia confortável ao seu lado.

Ainda não pude saber se ele iria partir para o sexo depois ou optaria por continuarmos no caminho da nossa conversa. Seria muita ousadia perguntar isso?

— Hum... Eu vou ver se chego aí a tempo. Você está no mesmo hotel?

Estou.

— Certo. Quem sabe eu apareça aí. — Deixei a frase no ar e desliguei o aparelho com um longo suspiro.

Me aproximei da sala novamente. Eu pude perceber que havia uma diferença de clima entre o cômodo onde eu estava e a sala, e sinceramente eu não sei deduzir se isso é relativo à presença de Harper ou outro motivo desconhecido. Sim, ele está com raiva de você!, concordou meu subconsciente.

Trevor me observou caminhar com sua expressão atenta, o lábio inferior sendo mordido pelos dentes. Caramba, Harper!

— Você vai me comer? — perguntei sem rodeios.

Ele ergueu uma de suas sobrancelhas e deixou a boca ser inclinada num lado, o rosto admitindo safadeza ao extremo. Por favor, diz que vai!

— Ousado, hein, Sr. Ross? — questionou com o tom provocador, me fazendo ficar rubro. — Você quer que eu te coma?

EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora