Movi meu rosto para Trevor com a maior lentidão, cujo olhar estava o mais vívido que já vi — como se ele estivesse no desejo de ouvir uma resposta negativa. Não sabia onde enfiar minha cara. Mas que droga!
— Hã... Me dê licença rapidinho? — pedi, afastando o aparelho do ouvido e levantando-me abruptamente.
Ele não respondeu: apenas manteve seus olhos cravados em mim como um falcão. Ah, meu Deus. Obrigado, Paul! Obrigado mesmo!
Aturdido com o rápida mudança de humor dele, fui caminhando relutantemente até um dos cômodos que eu nem sequer conhecia da mansão, mas que servisse de anteparo entre mim e Trevor. Era bem ao lado da sala onde estávamos, um tipo de corredor bonito e bem tranquilo. Também possuía um quadro numa parede próximo a umas taças que me pareciam enfeites.
Voltei minha conversa com Paul.
— Paul, não sei se vou poder sair hoje...
— Poxa, cara. Vai me deixar na seca mesmo? Me satisfaça hoje, vai? Por favor.
— Na seca? Mas você me comeu no sábado!
— Sim, eu sei disso, mas hoje já é segunda. Eu te disse que ligaria de novo, não disse?
Esfreguei minha testa com uma mão. Não vai ser fácil convencê-lo, estou até vendo...
— É que eu já estou com um cliente — falei baixinho e depois inclinei minha cabeça para a parede que me impedia de ver Trevor. Ele estava concentrado na taça em seus dedos largos de uma mão, enquanto a outra mexia em sua barba.
Caramba, ele era muito gato — apesar de estar completamente parado.
Quando seus olhos intensos me encontraram, sorri timidamente e voltei à posição anterior em que eu me encontrava.
— Seja lá qual for o valor que esse cara te pagou, eu triplico.
Ah, imagino sua reação se ele soubesse que eu estava com Trevor.
— Assaltou um banco, foi?
— Meu pai é dono de um.
Sem conseguir traduzir esse tom de voz que ele usou, não pude saber se ele falava seriamente ou estava tentando me dobrar. Eu achava Paul o tipo de cliente californiano perfeito, solto e engraçado, mesmo que eu tivesse saído somente uma única vez com ele. Mas a questão era outra no momento: eu não queria deixar Trevor só. O motivo estava longe de qualquer um que ligasse ao dinheiro ou ao poder que ele possuía: eu simplesmente me sentia confortável ao seu lado.
Ainda não pude saber se ele iria partir para o sexo depois ou optaria por continuarmos no caminho da nossa conversa. Seria muita ousadia perguntar isso?
— Hum... Eu vou ver se chego aí a tempo. Você está no mesmo hotel?
— Estou.
— Certo. Quem sabe eu apareça aí. — Deixei a frase no ar e desliguei o aparelho com um longo suspiro.
Me aproximei da sala novamente. Eu pude perceber que havia uma diferença de clima entre o cômodo onde eu estava e a sala, e sinceramente eu não sei deduzir se isso é relativo à presença de Harper ou outro motivo desconhecido. Sim, ele está com raiva de você!, concordou meu subconsciente.
Trevor me observou caminhar com sua expressão atenta, o lábio inferior sendo mordido pelos dentes. Caramba, Harper!
— Você vai me comer? — perguntei sem rodeios.
Ele ergueu uma de suas sobrancelhas e deixou a boca ser inclinada num lado, o rosto admitindo safadeza ao extremo. Por favor, diz que vai!
— Ousado, hein, Sr. Ross? — questionou com o tom provocador, me fazendo ficar rubro. — Você quer que eu te coma?
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EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊ
RomanceApós ser expulso de casa pelos pais por se revelar homossexual, Chris tem sua vida quase que arrasada completamente. Tendo que morar na rua por não ter um abrigo nem conhecidos na recente cidade onde mora, ele prevê seu futuro repleto de dificuldade...