14 | O futuro vai embora e o passado retorna

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— Trevor! — gritei enquanto ele andava às pressas para fora de casa.

Vejo que está ocupado. Fale comigo quando não estiver me fazendo de trouxa, ele sussurrou para mim após ver Tyler no pé da escada, e então me deixou na sala sozinho, partindo para a rua feito uma águia. Era a reação mínima que ele poderia ter. E notei que não era uma das minha preferidas, pois a mandíbula de seu rosto tensionada e os olhos destruidores me causaram um calafrio estranho na espinha e me fizeram se sentir um minúsculo — quase nada.

— Ei! Espera, por favor! — supliquei.

Ignorando-me, ele entrou em seu carro e o ligou. Caralho!!! Grunhi de raiva, apertando o cabelo com força, e corri até o vidro ao seu lado, batendo nele várias vezes, até que ele o abaixasse. Seu olhar nem se dava ao trabalho de ser direcionado para mim, e duvido muito que um diálogo tranquilo acontecesse entre nós agora. Mas eu precisava tentar.

— Escuta... Ele... Ele não é um cliente! — expliquei em desespero. — Ele é um amigo da faculdade.

— Olha, eu posso ser até ser um bastardo em romance como você pensa, mas não tanto! — ele me cortou, fitando-me furiosamente. — Era por isso que não estava aceitando meu dinheiro. Agora faz sentido...

Mas o quê?!

— Claro que não! Eu já te disse que...

Trevor levantou o vidro devagar — um ato de que ele não estava interessado no que eu dizia —, mas eu pus um dos meus braços para dentro, decidido em impedi-lo. Se eu precisasse invocar a criança birrenta, eu o faria sem problemas.

— Tire o braço, Chris — murmurou, o vidro ainda sendo levantado.

— Não.

— Eu não quero machucar você, porra.

— Prefiro isso à dor de ser rejeitado como você está fazendo.

Bem quando meu braço quase ia tocando a parte de cima, Trevor interrompeu o que estava fazendo, e por um instante agoniante eu pensei que ele fosse mesmo me imprensar. Soltei a respiração em alívio e alcancei o botão que destravava o carro, entrando logo depois dentro dele. Sentei em seu colo — ignorando quaisquer pensamentos aconselháveis de que isso era uma má ideia — e fechei a porta, ficando só nós dois: eu com o meu desespero e ele com sua ira arrepiante. Deus me ajude...

— Chris...

— Eu não vou sair daqui sem me explicar antes. Você mesmo me disse que não queria que nossos últimos minutos juntos fossem ruins.

Eu conseguia ver os músculos de seu maxilar saltando de tanta raiva. Será que era para tanto? Ainda pergunta?, questionou meu subconsciente, pondo à prova a vez em que Paul me ligou quando eu estava com Trevor e o momento recente de Tyler descendo a escada sem camisa. É... é para tanto...

— Caralho... — sussurrou fechando os olhos.

Respirei fundo, o ar arrastado, e disse:

— Tyler brigou com o pai e o pai o expulsou de casa. Porque ele é gay.

Trevor olhou para mim com relutância. Acho que ele já sabia da incrível semelhança que isso tinha a ver comigo assim que eu terminei de falar.

— É um déjà vu, não é? — perguntei retoricamente. — Eu juro que não há nada entre nós dois. Ele me pediu ajuda e eu me ofereci. Ele não tinha ninguém em quem pudesse confiar, e eu sou como ele, né? Não há nada além disso. Acredite em mim, por favor.

Trevor ficou em silêncio, o peitoral subindo e descendo de forma a ser tranquilizado pelo tempo. Aos poucos eu também fui percebendo seus olhos retornando à calmaria, ficando menos ferventes e ganhando mais vida azulada, já que há segundos havia praticamente somente as pupilas. Para melhor acalmá-lo, passei minha mão pelo seu peito e beijei sua testa docemente.

EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora