20 | Você acha que eu te odeio agora...

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Era totalmente uma pergunta contrária à que eu esperava ouvir, por isso a desorientação veio subitamente. Comecei a me sentir estranho, desconfortável. Não conseguia entender por quê.

— N-Namorar? — gaguejei, observando todos os cantos de seu rosto.

— Isso — disse com um sorriso tímido, a felicidade mais que visível afastando sua raiva.

— Mesmo sabendo o que eu fiz? Ou... o que eu sou? — sussurrei.

Ele me olhou sem entender quando eu disse a segunda parte.

— O quê? Uma pessoa incrível e linda? Uma pessoa que fez todos os meus dias valerem a pena? Uma pessoa tão inteligente capaz de me deixar bobo? Sim, Chris, e sei quem você é, e é por isso que eu quero tanto que você entre na minha vida. Mesmo errando. Porque eu te amo.

Me sentei no sofá como se eu carregasse um peso tremendo no corpo e olhei para cima — para o estilista mais cobiçado de Nova York. Ele acabou de dizer que me ama! Caralho... Se isso não era uma declaração, não sei o que era. Por que está me custando tanto dizer que sim, que eu o quero também? Eu gostava dele, tinha certeza disso. Mas parecia que... isso não era o bastante para mim, apesar de todas as coisas encantadoras que ele fez — como me levar à STYLE, àquele lugar de massagem, à sua casa, às diversões dentro dela. Tudo.

— O que foi, Chris? — Ele sentou-se ao meu lado, preocupado com minha reação imprevisível.

— E-Eu... hum... — Encarei o sofá, não conseguindo dizer nada que erguesse suas esperanças.

Tive vontade de correr, não sei para onde, ou de me enterrar no chão, quase como se ele tivesse acabo de me pedir para fugir a um lugar muito perigoso e que eu tivesse que abandonar tudo o que eu amo para trás. Parecia uma cruzilhada, mas ao mesmo tempo uma pergunta inocente com apenas duas respostas possíveis.

— Hey — sussurrou, virando meu queixo com o indicador e o polegar docemente. Seus olhos estavam atentos e compreensíveis, do jeito que somente ele conseguia fazer. — Se você precisar de tempo para pensar, tudo bem. Não quero que se sinta pressionado.

Seus dedos acariciaram minha nuca logo após, o rosto direcionado unicamente para mim, ao passo de que eu me sentia indefeso e pequeno. Não compreendi muito bem a princípio o que estava acontecendo comigo, então comecei a buscar uma razão que justificasse minha atitude estética. E lá nas profundezas do meu cérebro, um terrível e cortante pensamento me veio, e isso me estremeceu a ponto de fazer minhas pulsações acelerarem. Não, não pode ser isso... Não é possível que... que...

De repente ele interrompeu os toques no meu cabelo — ainda com a mão atrás do meu pescoço — e estreitou o olhar com lentidão, encarando o meu interior profundamente. Me senti nu por tamanha intensidade de suas íris em mim. Ai, Deus... Prendi o ar da minha boca e agucei os ouvidos, temendo que ele fosse dizer o que eu havia acabado de pensar. E após uns segundos de horror em sua face, ele disse o que eu nunca teria coragem de dizer — e que infelizmente era verdade.

— Mas você não me ama — sussurrou em choque, os lábios abertos e o azul dos olhos perdendo a vida.

Engoli em seco, fechei minhas pálpebras e cobri meu rosto com as duas mãos, o choro vindo numa velocidade avassaladora. Sim, Trevor...

— Me desculpe — falei quase sem voz e sem coragem para observá-lo. — Eu sinto muito...

Ouvi a respiração dele sendo solta de maneira arrastada, fragilizando-me mais intensamente. Criei coragem para fitá-lo, mesmo com a visão marejada, e explicar a ele tudo o que eu queria, implorando internamente para que eu não fosse ignorado.

EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora