17 | Eu sinto muito

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— Onde você estava? — perguntou Trevor, e era possível detectar a raiva oscilando em sua voz, que fracassou na tentativa de manter a calma.

Ai, droga... Minhas versões no pensamento correram para longe, deixando-me sozinho nesse momento tenso. Comecei a dar importância ao presente. Bem, se Trevor estava agindo friamente, então era bem possível que ele já soubesse onde e com que tipo de pessoa eu estava.

— Você já sabe a resposta.

Sua boca foi aberta em choque. Ele levantou-se em seguida, a pele do pescoço vermelha.

— Porra, eu não te falei que não quero que você saia com outro cara?! — gritou ele, as pupilas dilatadas. — Aí o imbecil aqui fica te esperando todo fodido!

Franzi a testa, assustado com tamanha fúria dele.

— Como é?

— Por que diabos você transou com outra pessoa, Chris? — perguntou sem diminuir a intensidade da voz.

Embora eu entendesse perfeitamente sua ira contra mim, eu detestava ao extremo quando levantavam o tom comigo, com ou sem razão.

— Porque eu quis!

Ele se assustou por um único segundo, mas foi tão breve que sua expressão zangada voltou a consumi-lo. Queria saber fazer isso. Quando alguma coisa me despertava o interesse numa briga, eu rapidamente me agarrava a ela.

— Se o problema for o caralho do dinheiro, eu pago, droga! Mas não precisa continuar nessa merda!

Estreitei meu olhar para ele.

— Pare de gritar comigo! — eu disse, altivo. — Já se esqueceu de que foi nessa "merda" — fiz um gesto de aspas — que você me conheceu?

Trevor andou de um lado para o outro passando ambas as mãos no rosto, a exasperação tão tangível que fazia com que seu peito subisse e descesse em rápida velocidade; inclusive as veias do seu pescoço ficaram à mostra, mais um indício de que ele tentava se controlar.

Ele se aproximou de mim, enquanto eu me mantive parado. Eu quase pensei que ele fosse me bater.

— A vontade que eu tenho agora, Chris, é de foder sua garganta até meu pau atravessá-la — sussurrou, me arrepiando todo.

— Vá se danar!

Com muita coragem, passei por ele e fui à cozinha. Minhas mãos estavam tremendo tanto que eu não sabia decidir se era pelo medo ou pelo... pelo quê? Argh. Era medo mesmo. Abri a geladeira e peguei um copo d'água, enchendo-o completamente. Para onde foi a minha saudade que eu sentia por Trevor?

— Vai fazer isso de novo? — perguntou zangado, ainda na sala. — Vai continuar saindo com os outros caras quando eu estiver longe?

Olhei para ele com raiva.

— Vou fazer isso quantas vezes eu quiser — cuspi. — E pega essa porra do seu dinheiro e foda-se. Não o quero. E eu vou devolver seu maldito terno também.

— Não vou aceitá-lo.

— Ah, você vai, sim! — Nem eu botava fé nas minhas palavras. — Não sei por que você veio. Seu desfile em Seattle não ia até sábado, caramba?

— Você passa duas semanas longe de mim e quebra o rosto. Tentaria suicídio uma semana depois?

Quem sabe? Suspirei, sem querer dar muita importância a isso, e deixei o copo acima da mesa; fui para perto da porta, peguei minha mochila e segui o rumo ao meu quarto, furioso demais para conversar tranquilamente com Trevor. Duvidava muito que nosso diálogo fosse suave agora.

EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora