A ligação se foi assim que acertamos a data da minha entrevista — 15 de setembro, numa sexta-feira — e o salário. A mulher disse que se tudo corresse bem, eu já poderia começar no início da próxima semana.
— O que foi, Chris? — Trevor perguntou de novo. — Por que ficou pálido de repente?
Olhei para seu rosto à guisa de explicação. O que eu vou falar? Porra, eu aceitei trabalhar num lugar que era detestado por ele! Mas sua vida é sua vida, destacou meu subconsciente ao se deitar na cama, cansado demais para se debater comigo com clareza, apesar de ter acabado de me lançar uma coisa óbvia e contra reflexões.
— E-Eu... vou... hum... — Parei para buscar uma maneira para que não voltássemos a brigar. Simplesmente travei no processo.
— Então...? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu infelizmente só irei trabalhar daqui a três meses — falei com um pouco mais de desânimo do que o diálogo exigia, ainda omitindo uma parte da conversa que Angel e eu tivemos no telefone.
Ele deu um sorriso fraco — incentivador, eu diria —, mas ainda não muito convencido do que eu disse; e então perguntou o que eu menos queria no momento:
— Relaxe. Onde?
Fiquei calado, abrindo a boca para fingir dizer alguma coisa. O que acabou saindo da minha boca foi a sensação de um robô estar falando:
— Eles... vão me passar... o endereço amanhã de manhã com mais calma.
Trevor franziu a testa. Por favor, vamos voltar à sua exasperação ao invés de criar outra...
— Ah... — murmurou distante. — Mas por que está com essa cara?
— Porque eu queria trabalhar o quanto antes. Para me afastar dos programas que você tanto odeia. — Fiz um falso bocejo. Tomara que isso possa calá-lo. — Vamos dormir?
Saí de seu colo e estiquei meus braços para cima antes de ouvir uma confirmação. Por sorte Trevor fez o mesmo, o rosto mais tranquilo do que anteriormente. Me vi soltando a respiração em extremo alívio, mesmo sabendo que uma hora ou outra eu seria imprensado na parede quanto ao lugar do meu futuro emprego.
Andamos em silêncio para o quarto, enquanto eu me perguntava quando eu deveria contar que trabalharei numa empresa que Trevor tanto odeia. Talvez nunca?! Eu tinha a vaga sensação de que ele só saberia exatamente no dia da minha entrevista.
Ou talvez hoje mesmo quando fôssemos acordar. Não quero nem ver o desastre...
🍷
Acordei antes de Trevor.
Ele estava dormindo tranquilamente, o rosto descansado no travesseiro e direcionado para mim, de modo que seu hálito fresco fosse me enchendo. Seu peito subia e descia de forma sincronizada, e essa visão me mantinha preso à beleza estética de Trevor. Acho que não seria boa ideia acordá-lo — porque eu não poderia prever se seu humor seria dos melhores —, então decidi deixá-lo com seu próprio sono.
Saí da cama com cautela, conferi as horas no meu aparelho — 08:02 — e entrei no banheiro. No espelho, lavei meu rosto e meu cabelo, secando ambos com a toalha que estava no anel. O perfume de Harper surgiu quando levei o tecido ao meu nariz, o que fez me prender por uns segundos só para apreciar melhor o cheiro delicioso. Ah, que maravilha! Quanto custaria uma fragrância de Trevor? Talvez eu devesse encomendar uma para mim. Relutantemente, coloquei a toalha de volta no anel e abri o armário largo para pegar a escova dele; abri a pasta de dente e pus um pouco dela na escova, levando-a à boca em seguida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊ
RomanceApós ser expulso de casa pelos pais por se revelar homossexual, Chris tem sua vida quase que arrasada completamente. Tendo que morar na rua por não ter um abrigo nem conhecidos na recente cidade onde mora, ele prevê seu futuro repleto de dificuldade...