19 | O amor é imprevisível

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A ligação se foi assim que acertamos a data da minha entrevista — 15 de setembro, numa sexta-feira — e o salário. A mulher disse que se tudo corresse bem, eu já poderia começar no início da próxima semana.

— O que foi, Chris? — Trevor perguntou de novo. — Por que ficou pálido de repente?

Olhei para seu rosto à guisa de explicação. O que eu vou falar? Porra, eu aceitei trabalhar num lugar que era detestado por ele! Mas sua vida é sua vida, destacou meu subconsciente ao se deitar na cama, cansado demais para se debater comigo com clareza, apesar de ter acabado de me lançar uma coisa óbvia e contra reflexões.

— E-Eu... vou... hum... — Parei para buscar uma maneira para que não voltássemos a brigar. Simplesmente travei no processo.

— Então...? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Eu infelizmente só irei trabalhar daqui a três meses — falei com um pouco mais de desânimo do que o diálogo exigia, ainda omitindo uma parte da conversa que Angel e eu tivemos no telefone.

Ele deu um sorriso fraco — incentivador, eu diria —, mas ainda não muito convencido do que eu disse; e então perguntou o que eu menos queria no momento:

— Relaxe. Onde?

Fiquei calado, abrindo a boca para fingir dizer alguma coisa. O que acabou saindo da minha boca foi a sensação de um robô estar falando:

— Eles... vão me passar... o endereço amanhã de manhã com mais calma.

Trevor franziu a testa. Por favor, vamos voltar à sua exasperação ao invés de criar outra...

— Ah... — murmurou distante. — Mas por que está com essa cara?

— Porque eu queria trabalhar o quanto antes. Para me afastar dos programas que você tanto odeia. — Fiz um falso bocejo. Tomara que isso possa calá-lo. — Vamos dormir?

Saí de seu colo e estiquei meus braços para cima antes de ouvir uma confirmação. Por sorte Trevor fez o mesmo, o rosto mais tranquilo do que anteriormente. Me vi soltando a respiração em extremo alívio, mesmo sabendo que uma hora ou outra eu seria imprensado na parede quanto ao lugar do meu futuro emprego.

Andamos em silêncio para o quarto, enquanto eu me perguntava quando eu deveria contar que trabalharei numa empresa que Trevor tanto odeia. Talvez nunca?! Eu tinha a vaga sensação de que ele só saberia exatamente no dia da minha entrevista.

Ou talvez hoje mesmo quando fôssemos acordar. Não quero nem ver o desastre...

🍷

Acordei antes de Trevor.

Ele estava dormindo tranquilamente, o rosto descansado no travesseiro e direcionado para mim, de modo que seu hálito fresco fosse me enchendo. Seu peito subia e descia de forma sincronizada, e essa visão me mantinha preso à beleza estética de Trevor. Acho que não seria boa ideia acordá-lo — porque eu não poderia prever se seu humor seria dos melhores —, então decidi deixá-lo com seu próprio sono.

Saí da cama com cautela, conferi as horas no meu aparelho — 08:02 — e entrei no banheiro. No espelho, lavei meu rosto e meu cabelo, secando ambos com a toalha que estava no anel. O perfume de Harper surgiu quando levei o tecido ao meu nariz, o que fez me prender por uns segundos só para apreciar melhor o cheiro delicioso. Ah, que maravilha! Quanto custaria uma fragrância de Trevor? Talvez eu devesse encomendar uma para mim. Relutantemente, coloquei a toalha de volta no anel e abri o armário largo para pegar a escova dele; abri a pasta de dente e pus um pouco dela na escova, levando-a à boca em seguida.

EU ENTREGO MEU CORPO A VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora