Capítulo 4 - Escola, Amigos e Relacionamentos

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          Eu havia acabado de chegar. Humberto mal abrira os olhos e imprecisos pensamentos começavam a ser elaborados em sua mente. As primeiras ideias não faziam sentido, como se estivesse a montar um complicado quebra-cabeça para desenvolver um raciocínio simples.

Quanto ele iria absorver das experiências que tivemos aquela noite? Geralmente o fazia pouco. Quando enfim abriu os olhos, espreguiçando com prazer, disse:

— Muito obrigado... Mais um dia! — como habitual.

A quem agradecia? Não sabíamos, mas não era necessário saber... O dia sempre é lindo e a gratidão é um sentimento que merece ser cultivado.

Éramos pouco próximos e apesar de concúbitos, ainda não coesos!

Hoje, ao acordar, não era tarde, sete horas da manhã, mas tínhamos que ir à escola. Levantar cedo nunca fora difícil para ele, na verdade, sempre estranhou o pesar com que algumas pessoas o faziam. Sem contratempos levantou e com pensamentos longínquos, vestiu-se distraidamente e pôs-se a caminhar rumo à escola.

Já longe de sua casa, em meio a algum devaneio, lembrou algo que havia esquecido. Esqueceu de chamar Ricardo, seu colega de república, para ir à aula e também de colocar ração para o Shao-lin, seu boxer de sete anos de idade.

Que mancada! — pensou, quase falando!

Caminhando a pé para a universidade encontrou Pedro, um novo amigo que estudava agronomia. Certamente não o teria visto, não fosse ele acenar. Por fim, Humberto o cumprimentou dizendo:

— Fala Pedrão, e aí? Tudo bem?

— Tenho uma aula muito chata para assistir agora. Fora isso... Tudo bem! — respondeu Pedro.

— Se você se convencer de que a aula será legal esse pequeno problema poderá ser resolvido — aconselhou Humberto, enquanto começavam a caminhar juntos.

— Fosse tão fácil, eu o faria!

—  Você talvez não entenda Pedro, mas essa é uma mágica muito simples. Nossa pré-disposição em sentir um bom sabor ao degustarmos um momento qualquer, quase sempre resulta no melhor aproveitamento da situação vivida.

Nós sabíamos àquela altura, que poderíamos ultrapassar as barreiras das chatices da vida, apenas com um pensamento em busca do que não se vê.

Pedro, apesar de haver reclamado da aula que teria, parecia de bom humor e disse sorrindo:

— Você e suas ideias... Mas já que vamos caminhar juntos até a escola, vou ouvir... Explique melhor.

— Você não acha que tudo e todos têm um lado louco e fascinante? Quero dizer, que na verdade, nada é chato!? Será que quando somos capturados pela monotonia, não é porque não estamos tendo sensibilidade suficiente para perceber o que há de bom?

Essas ideias nós usávamos e como uma metamorfose, transformavam as pessoas mais maçantes em aprazível companhia, assim como as aulas ou circunstâncias menos oportunas em gratificantes frações de nossa vida.

Pedro apenas ouviu e após um breve silêncio, Humberto fez outra pergunta:

— Diga-me, não há alguns colegas seus que gostam da matéria de hoje?

— Por incrível que pareça, sim! — declarou Pedro.

— Foi o que pensei! Não é interessante que algumas coisas muito chatas para nós, possam ser tão cativantes para outras pessoas?  — acentuou a voz ao falar a palavra cativantes.

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