Capítulo 17 - Relacionamento VIII - A Sinceridade

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Após os primeiros problemas vividos, Lívia e Humberto aprenderam a conversar sobre tudo que sentiam e por dez meses viveram um admirável relacionamento, enriquecido por interessantes conversas...

— Se alguém percebe que você está com frio e, sem que você diga nada, ele lhe traz um agasalho... Você certamente irá admirar essa atitude! Por outro lado, se você sente frio, mas ninguém a agasalha... 

Lívia apenas prestava atenção.

— Se, em outro exemplo você diz: puxa que frio! Vamos supor que em seguida a pessoa que ouviu entrega-lhe um agasalho... Você irá gostar dessa atitude também, não é?! Mas, se mesmo você dizendo que está com frio, ninguém a agasalhar, que sentirá? Eis o risco da sinceridade!

— Nós acabamos por esperar uma resposta quando confessamos a alguém algo que sentimos, é isso?

— É o que eu penso. Dependendo da situação podemos nos sentir magoados, sem compreender o porquê da pessoa não nos agasalhar, uma vez que ela já sabe que estamos com frio. Quando trata-se de alguém com quem temos um relacionamento, podemos ficar muito sensíveis a isso. Esse é apenas um exemplo mal bolado, será que você pôde entender?!

— Eu acho que sim. Você pode imaginar como passar por sobre esse problema?

— Eu diria que temos que aprender a sermos sinceros sem esperar nada e apenas aceitar as respostas das pessoas. Algo como compreender que: "silêncio também é resposta."

Ele ia dizer algo mais, mas antes disso Lívia o interpelou:

— Muitas vezes aguardamos uma determinada resposta e acabamos por não enxergar a resposta que a outra pessoa já nos deu, não é?!

Por alguns segundos o silêncio os dominou como se estivessem ambos a refletir, até que ela se manifestou novamente:

— Não acha que muitos enganos são cometidos dessa forma? Quero dizer, se ele não me traz um agasalho mesmo sabendo que eu estou com frio... Logo, essa foi a resposta! Mas quantas razões podem ser imaginadas para explicá-la?

— Nem sempre é fácil entender os outros — ele finalmente concluiu.

Após alguns dias...

Lívia foi visitar seus pais em Sorocaba. Por uma semana ficou por lá. Agora, estava voltando e Humberto a esperava na rodoviária. O ônibus deveria chegar em cerca de alguns minutos.

Ele a aguardava ansioso por matar as saudades. Recordando alguns bons momentos, distraía-se, como hábito comum de Humberto, deixando de notar outras coisas à sua volta. As imagens formavam-se espontâneas em sua mente.

Lívia e ele estavam passeando na moto emprestada de Ricardo. Como nunca fora um excelente piloto de moto, Humberto dirigia cuidadosamente sem acelerar demais. Pegaram uma das estradas vicinais próximas à cidade, em que o trânsito era raro e a vizinhança composta por sítios e chácaras.

Não conheciam os lugares por onde passavam o que tornava o passeio mais interessante. Ela o abraçava com carinho — Humberto, sentado só, num banco da rodoviária, sentia prazer pelos braços carinhosos de Lívia, que envolviam seu corpo — e de repente avistaram uma pedra no alto de um morro que beirava a estrada. Pararam e foram até lá. De cima da pedra, a vista ampliava seu campo e podiam enxergar a cidade pequenina, bem longe!

— Que bonito! — falou Humberto, sozinho, na rodoviária, sem reparar que o homem sentado no banco ao lado do seu, ouviu-o, e sabe-se lá o que imaginou.

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