Acordou com alguma mensagem na cabeça. Não conseguiu perder aquela impressão. Sentou-se. Pegou um pedaço de papel e uma caneta. Sem pensar em nada, escrevemos:
1) Eliminar as exigências;
2) Aumentar a sensibilidade para aquilo que você possui;
3) Fazer a sua parte.
Leu uma vez. Humberto leu novamente e releu. Tornou a ler. Não era a primeira vez que utilizávamos esse recurso para nos comunicar. Nem sempre as mensagens podiam ser inteiramente entendidas, mas desta vez eu acreditei que seriam.
Fórmula da Felicidade! — acendeu-se em sua mente. Ele começou a explorar a mensagem:
1) Eliminar as exigências;
Se minha exigência em conseguir o que desejo for eliminada, certamente terei poucas frustrações.
Seria essa prática um abandono aos ideais? — de modo algum! quis dizer-lhe, nessa ocasião.
De modo algum! — ele pensou em seguida. Estávamos próximos!
Não há em absoluto razão para renunciar aos objetivos. Todavia, o desapego, o desprender-se, o livrar-se de obsessões, nos propicia Liberdade.
A conquista, conquanto algumas vezes implique em acontecimentos além de nosso domínio, torna-se prêmio adjacente, porém, nunca indispensável à Felicidade. Essa é obtida pelas aventuras e aprendizagens da jornada.
No empenho em auferir o que se deseja reside o sabor do percurso. O desespero em não conseguir segurar o que está além do alcance de nossas mãos é imaturo, tanto quanto o é, o sentimento de uma criança que chora por não querer ir à escola.
Não podemos evitar certos acontecimentos. A resignação enquanto paciência é sabedoria.
Em contrapartida, "seríamos escravos de nossos desejos se não os tivéssemos sob domínio." Ou seja, submissos à nossa ambição, esqueceríamos de degustar o simples ensejo de concretizar a procura e nos sucumbiríamos no afã exigido por nossa ganância.
Para Humberto, ficou claro que eliminar as exigências significava libertar-se da necessidade de obter algo para ser Feliz, uma vez que o júbilo encontra-se tanto na capacidade de vivenciar a busca quanto em lograr o triunfo. É certo também que a escolha do que se deseja e portanto, do caminho, tem decisiva influência sobre o que se vai alcançar, quer o que se almeja seja auferido, quer não — imaginou que essa ideia pudesse estar envolvida com uma das outras frases que ainda iria avaliar.
Passou a segunda frase:
2) Aumentar a sensibilidade para aquilo que você possui;
Se, além de eliminar minhas exigências, eu reconhecer tantas oportunidades quanto tenho tido, verei quanto é injusto reclamar de algo. Sei que poderei sorrir.
Notou que amiúde não damos valor a tantas coisas importantes que temos à nossa volta. Evidente que isso acontecia. Era uma questão de sensibilidade? — Sim!! — respondemos para nós mesmos.
Aceitou que era necessário acrescentar atenção e reconhecer constantemente tudo e tanto quanto nós possuímos de bom ao nosso redor. Fazê-lo era apenas uma questão de olhar, cheirar, tatear, ouvir, degustar, perceber, enfim... Aumentar a sensibilidade!
O fato de sentirmos já presta motivo de inefável alegria. Lembrou-se de sua família saudável, de tantos queridos amigos e graciosas amigas com quem vinha convivendo, de seu cãozinho companheiro e de que fazia biologia com prazer. Tudo isso era pequena parte de tudo quanto ele podia dizer-se abençoado — ficou Feliz!
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BIVIÁRIO
Romance" A água por certo era a essência da cachoeira, mas não exatamente ela própria, que na verdade é efêmera. A água em sua eternidade, como Humberto já compreendia após observá-la na caverna, seguia seu rumo recolhendo a experiência de ter sido cachoei...