Capítulo 18 - Relacionamento IX - A amiga

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Naquela mesma tarde foi ao lago Igapó, onde começou a caminhar choroso, contornando a represa. Tentava concatenar ideias, destrinchar sentimentos e controlar as emoções. Vagando sob o entardecer, mirava amiúde o horizonte, contemplando o crepúsculo. Conseguia admirá-lo e sentir prazer em sua beleza, mas nem nesses instantes as emoções deixavam de incomodá-lo, chamando-o insistentes, de volta a si e às suas dores. Na Beira do lago sentou e foi quando, lá longe, avistou alguém conhecido vindo em sua direção. Era Elisa!

Ela e Humberto haviam vivido alguns momentos juntos e fora Elisa o estopim da separação dele com Clara. Mas na época, ela confessou a Humberto que não se sentiu magoada em nenhum momento. Teve um caso com ele sem intenção de namorá-lo. Ela apenas gostava dele! Compreendeu que os sentimentos de Humberto por Clara eram puros e respeitou os acontecimentos do modo que eles sucederam. Desde de lá, ambos criaram uma amizade íntima e sadia e confidenciavam-se. Humberto ficou Feliz em encontrar Elisa no lago Igapó.

Ela o cumprimentou e sentou-se ao lado dele. Percebeu de cara que ele não estava bem, então perguntou:

— Humberto, que houve? Está triste?

— Eu e Lívia terminamos!

— Que aconteceu? Quer me contar?

— Ela está confusa. Não sabe se quer voltar com o antigo namorado, ou ficar comigo.

— Conheço uma história parecida! — alfinetou Elisa, referindo-se ao próprio Humberto que a deixou por causa de Clara; porém ela não o deve ter feito com maldade, ao contrário, possivelmente apenas buscava um argumento para que ele compreendesse melhor o que Lívia deveria estar passando.

— Eu sei! Não é que eu a condene. Estou apenas triste. Gosto muito dela e eu achava que nosso relacionamento era maravilhoso.

— Quando conversou com ela?

— Foi hoje à tarde. Mas já nos havíamos separado pelo mesmo motivo há umas duas semanas. Tentamos de novo, porém não deu certo!

— Talvez ainda tenham que conversar mais...

— Talvez... Mas acho que não!. Estou me sentindo machucado com a forma que tudo aconteceu. Penso que estou magoado.

— Você acha que ela agiu de má fé com você?

— Não! De jeito nenhum! Acredito que foi muito sincera. Também por isso estou perturbado!

— Como?

— Não acredito que a sinceridade possa apunhalar-me de tal forma — respondeu Humberto.

— Bom, primeiro, eu acho que a sinceridade pode machucar, mas não deve deixar mágoa. Não é fácil usar de franqueza em certas ocasiões. Não acha que deveria admirá-la por ter sido sincera?

— Sei lá! Estou me sentindo tão mal. Sinto uma dor muito grande em meu peito.

— É claro que muitas vezes um pouco de tato ajuda, mas nem sempre temos a mestria necessária para lidar com certas situações. O importante é que ela se esforçou para ser honesta com você, ou não?

— Acho que tem razão! Mas por que sinto-me tão revoltado? Acho que ela não deveria ter voltado comigo para depois me dizer que fica pensando no outro.

— Ela disse isso?

— Bem, deixe explicar... — Humberto resumiu os acontecimentos e por fim concluiu:

— Ela ficou muito abalada com o acidente e me disse que não poderia ficar comigo pois os pensamentos dela estavam nele.

— Mas antes, vocês estavam bem?

— Sim! Tivemos uma semana de reconciliação deliciosa. Foi hoje que ela soube do acidente.

— Humberto, você já pensou que a sinceridade pode não ser a verdade, pois é apenas aquilo que acreditamos ser a verdade? Talvez, por estar confusa, Lívia tenha se perdido e assim não conseguiu encontrar o que realmente sentia.

— Eu não sei, Elisa. Penso que é hora de deixar as coisas acontecerem, não?

— Sim! O tempo sempre consegue! A constante mudança da situação!

— O tempo?

— Sim!

— Não seria o acúmulo dos acontecimentos num interminável agora?

Riram!

— De todo modo as coisas mudam. Se não o fizessem o tempo não existiria - defendeu sua ideia Elisa.

— Talvez não exista! O passado só existe naquilo que dele, ainda está influenciando o presente - aprendeu com a pedra Humberto.

— Tem sua razão! Cuide do presente que de seu passado só sobrarão boas influências.

— Vou me esforçar! — garantiu Humberto.

Em seguida, ficaram olhando o sol se pôr. Com ele o tempo ia passando, as coisas iam mudando ou se acumulando, como queiram!

Permaneceram no mesmo local, de mãos dadas, até anoitecer. A lâmpada num poste ali perto acendeu sozinha, o que mal perceberam. Ela iluminou o suficiente para não permitir uma escuridão intensa. Nessa meia luz deixaram-se ficar por longo espaço de tempo, como se, de comum acordo, tivessem decidido refletir melhor sobre tudo que haviam conversado, antes de exporem novo argumento.

De repente Humberto virou para Elisa e falou:

— O que disse foi uma definição simples, que não me havia ocorrido antes!

— Você poderia me lembrar o que foi que eu disse? — Elisa perguntou mostrando achar graça da repentina exclamação de seu amigo.

— Claro! Sobre a sinceridade poder não ser a verdade.

—Ah! Isso! Penso que o conhecimento de nossos verdadeiros sentimentos é uma conquista trabalhosa, fruto de insistente busca do auto-conhecimento.

— Mas como podemos estar certos de ser a verdade? A sinceridade continua sendo a atitude mais honesta.

— É do que podemos ter certeza! De todo modo, o auto-conhecimento é a mira certa para atingirmos nossos reais sentimentos — concluiu Elisa!

— Você tem toda razão! Precisamos sempre buscar aquilo que realmente sentimos e queremos... Espero que Lívia se encontre logo e que consiga ser muito Feliz.

— É por isso que gosto de você Humberto. Lívia está perdendo um grande partido!

— O melhor namorado da região! — Humberto disse e divertindo-se com a imodéstia, conseguiu sorrir.

Enfim, levantaram-se e foram embora.

Humberto já havia sofrido uma separação antes, sabia quanto iria doer, mas aguardaria ansiosamente o final daquela estória em quadrinhos e acreditava na estilingada que viria em seguida. Ele e Lívia não voltaram mais, dessa vez!

O tempo tratou muito bem das feridas...





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" A sinceridade pode machucar, mas não deve deixar mágoa. Não é fácil usar de franqueza em certas ocasiões. "

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