Capítulo 22 - Relacionamento X - A Fidelidade

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Passo a passo, ele percorria a trilha, início da subida ao cume do morro do sabão, local: Ilha do Mel.

Primeira vez, cada sensação um deleite. 

Com seu andar ligeiro por sobre as pedras rumo ao alto, colocou-se à frente dos companheiros, satisfazendo a ansiedade em ser o primeiro a saborear as belezas do lugar.

O vento forte que alisava a vegetação arbustiva da montanha, ia sendo rapidamente atravessado por Humberto, que caminhava movido pela avidez de atingir a pedra mais alta.

Ali, a poucos metros... De repente, uma surpresa! Avistou sobre aquela pedra, um vultoso urubu. Parou, observou cuidadosamente a ave e substituindo sua pressa, agora, buscava movimentos lentos aproximando-se dela. Seus colegas ainda estavam longe. A negra ave, como que inevitável, já o havia percebido e o observava com mais atenção que ele a poderia observar.

Dizem que "os urubus são lindos quando estão voando, pois desse modo não os podemos ver de perto" — lembrou essa anedota infame, haja visto quão bela considerou a imagem daquela ave à sua frente. Imponente, sobre a pedra mais alta do morro do sabão, o urubu parecia reinar na Ilha do Mel.

Humberto logo descobriu sua presunção em pensar que poderia chegar próximo ao Rei urubu e ainda há cerca de oito metros, presenciou uma retirada sublime, a qual o encantou. Majestosa, a ave apenas fez abrir as asas, nada mais. Sob o domínio dela, o vento a elevou a trinta metros para cima e planando habilmente, ela se afastou rumo a outro local, reconquistando sua tranquilidade longe de intrusos indesejados.

Ele só conseguiu abrir a boca, depois soltou um largo sorriso, Feliz por ter presenciado aquela cena. Em seguida, apressou-se em subir na mesma pedra e tomar o mesmo local da ave, para olhar a paisagem ao seu redor.

Lá embaixo, a extensa mata primitiva borbulhando energia e o mar, sinuoso, a acariciar repetidamente a silhueta da ilha. Humberto observou as pequetitas pessoas, pululando feito caranguejos na areia da praia.

Seus amigos ainda aquém da metade do caminho, permitiram que ele aproveitasse a ligeira solidão para concentrando-se, abrir os braços, sentir o vento e... Voar!

Não há dúvida, foi naquele momento que Humberto aprendeu a voar.

E ele, ainda que não com total domínio sobre suas manobras aéreas, simplesmente, voou.

Em seu descontrole, muitas vezes alto demais, outras, lento ou rápido demais, e esporadicamente, como pássaro que acaba de aventurar-se fora do ninho, esborrachava-se contra o solo, numa aterrissagem vergonhosa demais! Mas não havia risco algum nessa emocionante brincadeira, afinal éramos nós que voávamos e seu corpo mantinha-se seguro sobre o chão. Não é impressionante?! Nós voávamos juntos e ele ainda não me reconhecia!

Porém, ele estava próximo de fazê-lo, pois durante o voo tinha plena consciência de que estava separado de seu corpo físico. De todo modo, na liberdade de seu voo, logo percebeu que diferente das aves, ele podia realizar coisas impossíveis, quero dizer, supostamente impossíveis, pois a partir de agora, evidentemente eram possíveis.

Atravessar paredes ou telhados, mergulhar e respirar sob as águas ou ir a lugares muito distantes na velocidade de seus pensamentos... Sem limites — e tudo isso que muitos livros lidos sugeriam ser possível, passava enfim a ser um fato.

A arte de vivenciar tais experiências tornou-se real, mas Humberto não conseguia ter domínio sobre os acontecimentos. Era incapaz de concentrar-se devidamente, inábil em manter-se unido a mim, inerme às influências de seu intelecto e de sua imaginação.

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