Capítulo 28 - Biviário

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Acordou durante a noite...

Sem motivo conhecido. Simplesmente não sentia sono naquela madrugada.

Nem mesmo estava cansado. Melhor, sentia-se bem! Estava despreocupado, apesar de alguns problemas.

Problemas? Não, na verdade não era o que tinha. Estímulos! É isso!

Tinha o que resolver, fascinantes questões a resolver: financeiras, amorosas, familiares, do trabalho, com amigos... Diversos assuntos! Os sempre renovados estímulos que o faziam vivenciar com prazer todos os novos dias. Era um bom momento para trabalhá-los. Pois foi o que Humberto resolveu fazer!

Antes, era preciso relaxar... Deitado de costas ao colchão, ajeitou o lençol, as cobertas e o travesseiro e posicionou-se confortavelmente. Iniciou um minucioso trabalho de relaxamento.

Concentrou-se no pé direito e desejou que os músculos de cada dedo se soltassem. Sentiu-os descontraindo... Sequencialmente, passou para a planta do pé, sem pressa, para o calcanhar e tornozelo, desfazendo quaisquer tensões. Caminhou seu desejo, o qual sem dificuldade vinha sendo realizado, para a canela, depois, batata da perna, joelho, coxa e glúteo.

A sensação local era agradável, pela perna toda, tal que quase não podia senti-la mais.

Repetiu cauteloso, o mesmo procedimento na perna esquerda. Na sequência, passou para o membro anterior direito, afrouxando os músculos da mão, pulso, cotovelo, antebraço e braço... Abrandando a força nos ombros... E novamente fazendo-o no membro oposto, teve a impressão de se libertar de qualquer preocupação sobre essas partes do corpo, consciente de que as mesmas, em sua perfeição, não dependiam dele.

Largou, portanto, o peso do esqueleto sobre a cama, esquecendo as articulações e aliviando a musculatura.

Em seguida, Humberto resolveu relaxar o seu trato digestório e o fez começando pelos lábios, dentes e língua, pelo que relaxou a boca e partiu da garganta, pelo esôfago ao estômago... Onde, como bom biólogo que era, conseguiu visualizá-lo no descanso de suas funções.

Acompanhando o trajeto que a digesta faria, foi ao intestino, em que sabia, acontecia a degradação dos alimentos em substâncias microscópicas. Desse modo, tornava-se possível a entrada delas no organismo para serem aproveitadas e utilizadas pelo seu corpo. 

Lembrando-se desse processo, Humberto sentiu o pâncreas, que fica paralelo ao início do intestino, praticamente aderido ao mesmo. Esse, assim como o fígado, era responsável por produzir muitas enzimas que, despejadas no intestino, ajudavam a reduzir os alimentos. Imaginando isso, Humberto recordou que, após minimizadas, as substâncias passariam para dentro das células e pela corrente sanguínea, iriam ao fígado.

Trafegando por esse caminho, ele chegou ao órgão hepático e admirou-se pela nobreza desse. Lá, as substâncias eram trabalhadas como numa fábrica. As células do fígado, operárias incansáveis, sabiam separar os elementos que tinham que ser desprezados, daqueles úteis e necessários para a continuidade do ser... Ele mesmo! - gostou dessa ideia.

O fígado trabalha as moléculas, quebrando-as, unindo-as, enfim, transformando-as para que possam ser utilizadas ou excretadas. Humberto sentiu a perfeição de seu pâncreas e de seu fígado, o que lhe trouxe uma sensação agradável.

Entusiasmado, sem braços e sem pernas, seguiu intestino abaixo, ou melhor para o lado. Não! Para cima... Bem, ele seguiu seu contorcido intestino. Sem que se contorcesse junto, daquele apertado intestino, chamado delgado, repentinamente viu-se folgado no intestino grosso. Ainda que aí é que se encontram as fezes, ele não enojou-se com isso. Ali estavam as coisas que deveriam em breve, serem devolvidas para o ambiente, pois não lhe serviriam.

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