A CARTA

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08/10.   -  22hr:33min

Hoje é um dia não diferente de todos os outros que eu passei nesse lugar, já faz oito anos que eu estou presa nessa sela minúscula que já me apeguei a cada detalhes desse lugar, adoro a infiltração no canto da parede, da ferrugem na grade, do rato que me faz companhia a anos (quando o Portela não está). Portela é uma detenta que dividiu o espaço comigo desde o primeiro dia aqui no presídio, ela foi presa por matar a sogra (que era uma megera) mas ela ganhou o benefício da liberdade condicional a um ano e está cumprindo o resto da pena no regime semiaberto, e desde então o rato Sansão (me apeguei ao animal e dei nome) que me faz sentir-me menos sozinha.

A Portela de início me odiava mas depois de muito convívio juntas começamos a nos tolerar, certa vez durante o almoço no refeitório a facção que domina o presídio tentaram matá-la mas eu a salvei e desde então ela ficou muito agradecida. Viramos amigas e confidentes nessa sela que é a minha casa nos últimos oito anos, no dia que a Portela saiu eu senti como se eu tivesse perdido algo muito importante e esse algo foi a companhia dela.

Os dias na cadeia parecem séculos em minutos, os dias parecem ter trinta horas, o único momento em que eu tenho felicidade é quando eu tenho visita da minha família. O Martin vem me visitar todas as quintas-feiras, a vida dele mudou bastante nesses oitos anos: Ele se casou com a Brittes pouco tempo depois da minha prisão, e também descobrir que a Lulu foi enviada pra um país chamado Montenegro e não volta nunca mais, a menos de cinco meses a Brittes teve um bebê que se chama Matthew e o Martin não se contenta de felicidade. Eles merecem essa felicidade depois ter dedicado a vida a cuidar dos meus filhos e da Débora.

A Débora e o Leandrinho eu não os vejo desde o hospital um dia antes de ser presa, sei que ela já está com quatorze anos e falta menos de um mês pra completar quinze, segundo o Martin vai ser um baile de debutantes muito chique já que ela é a princesinha querida da família e segundo as más línguas ela já está namorando na escola. O Leandrinho é um menino inteligente de oito anos, eu sinto tanta saudades do meu pequeno e eu não vou me perdoar nunca por ter perdido os primeiros e melhores momentos da vida dele, de não poder ver os primeiros passos, de não vê-lo me chamar de mãe pela primeira vez, de não tirar os primeiros dentinhos de leite.

Já o Leandro completou 30 anos e se casou com uma bailarina americana chamada Emma e não teve filhos, eu já sou avó aos 50 anos. O Leandro se dedicou a cuidar do Leandrinho e da Débora como filhos e ela o chama de pai, essa garotinha se tornou muito especial pra todos nós ao contrário da Guta que eu nunca conseguir olhá-la com carinho.

O policial Otávio se tornou um grande amigo desde o penhasco e não só amigo, também um confidente que eu contei quase toda a minha vida (tirando a parto dos crimes) e ele vinha me visitar todos os dias, mas foi transferido pra comandar uma casa de custódia no interior do Rio Grande do Sul e desde a ida dele no mês passado eu só tenho a companhia do meu rato de estimação.

Os anos aqui na cadeia me fez repensar a desgraça que foi a minha vida depois daquela noite de quase  casamento com o Bento, eu fui envolvida numa trama maliciosa e fugir pro México naquele avião bimotor que foi sabotado pela Vitória e quase morri afogada no mar mexicano. Essas situações me tornaram uma pessoa rancorosa, sem escrúpulos e com o coração de pedra, mas a minha ida pro México me trouxe duas coisas boas: A adoção do Martin e o nascimento do Leandro I.

Mas lá também eu comecei a me "livrar" das pessoas que atravessavam o meu caminho, como a enfermeira filha do Cansecco, o próprio Cansecco e a Lola Fernández e tudo isso pra satisfazer a minha vaidade e o meu ódio por todos.

Também devo confessar que o assassinato de pessoas da minha família como o meu pai, a minha mãe, a Bárbara, o Cícero (não sei se ele é da família) foi muito cruel. Esses anos nesse lugar me mostrou que eu tenho capacidade de amar, eu não consegui esquecer o Arthur mesmo sabendo que ele me violentou, que me manipulou, mas eu sinto a falta dele.

Lembro de um episódio em que eu e o Arthur demos o primeiro beijo lá em Nova Joia dentro da praia e me lembro como se fosse ontem:

(flashbacks)

Em um dos mergulhos eu me bati em algo e quando me levanto eu estava cara a cara com Arthur, o modo que ele me olhava fazia meu corpo arder em chamas.

- Babi você mexe comigo. - ele passou os dedos sobre meus lábios e me beijou calorosamente.

Só não peguei fogo por que estava dentro da água!!! Eu não queria sair daquele beijo e quando dei por mim eu estava deitada na areia transando com meu médico. Pra quem passou quatro anos na seca terei que passar horas fazendo sexo pra compensar esses 48 meses.

- Arthur e se eu for casada? - falei sem parar o que estávamos fazendo. - Eu estarei traindo meu companheiro.

- Se você for casada se separe e casa-se comigo.

Pra quem saiu de um coma de quatro anos a dois dias, ser pedida em casamento é um grande avanço.

- Arthur ainda não te conheço e você já quer casar comigo? - perguntei ofegante.

- Eu cuido de você a quatro anos e durante esse tempo eu me sinto atraído por você.

- Arthur... Eu não posso voltar pro hospital nesse estado, completamente molhada.

- Eu sou dono do hotel da cidade e já mandei reservar um quarto pra você.

Além de médico ele também é dono do hotel da cidade, hoje pela tarde enquanto passeava com a Bebel ele mostrou o único hotel da cidade e por fora é lindo.

- Arthur não posso continuar isso é errado. - falei tentando tirar ele de cima de mim.

- Não é errado amar. - ele me disse.

Com as palavras apaixonadas do Arthur me deixava em polvorosa, e eu fiz o que qualquer pessoa normal e em Sã consciência faria: Continuamos a transa.

Será que um dia ele me amou?
Eu estou cada dia mais convencida que eu amo o Arthur, a forma em que ele me chamava de Babi era tão lindo e devo confessar que eu adorava. Ainda bem que eu não o matei, ele perdeu a memória e nunca mais se lembrará do passado e quando eu sair daqui eu irei primeiramente ver os meus filhos e depois irei vê o Arthur nem que seja de longe e pela última vez.

Eu também quero vê a Fernanda e ajudar ela a recuperar a memória, ela me ajudou tanto a fugir do Arthur e até que eu gosto dela... Já que eu não gosto de quase ninguém.

Tenho ótimos planos pra quando sair daqui.

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