Capítulo 12

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Uma das partes mais difíceis de ser repórter no Diário é conseguir casar a roupa com a imprevisibilidade dos acontecimentos e do clima carioca. Você acorda cedo em um dia nublado, veste-se para bater aquela matéria especial no ar condicionado da redação, conforme combinado no dia anterior. Até que o inesperado te atropela, o chefe de reportagem sorri para você e te manda de calça jeans, bota e camisa de lã para cobrir um arrastão na praia, debaixo de um sol de 40 graus. Naquele dia não foi diferente. Saí de casa pronta para um embate de gabinete, no quartel general da PM. Calça preta modelando bunda e cochas; blusa branca de cetim com decote abusado; blazer preto completando o conjunto sou foda. Como poderia imaginar que acabaria de terninho e salto agulha em um piso de terra batida, no alto da Baiana?

O local era protegido pelas copas de duas frondosas mangueiras e um cajueiro bem carregado. O cheiro adocicado de fruta misturava-se ao de feijão no fogo e contrastava com a hostilidade dos traficantes que me observavam. Em silêncio, na varanda da casa à minha frente, um bando de homens de bermudas, shorts e camisetas. Alguns nem camisa vestiam. Todos, com exceção de Linho, exibiam armas penduradas nos ombros, pistolas, granadas e rádios na cintura. Precisei de muita concentração para fingir ignorar a malícia com que mapeavam meu corpo.

Não era exatamente a recepção que eu esperava. A surpresa estampada no rosto de Anderson denunciou que ele também imaginava um início de conversa menos hostil. Percepção que me deixou ainda mais intranquila. Só então me dei conta de que não fazia ideia de como minha reportagem havia sido recebida pelo chefe do morro. Agradeci mentalmente por não ter mencionado uma linha sequer sobre ele ou sobre seu relacionamento com Leninha.

Linho era um mulato forte, alto, aparentava menos de 30 anos. Vestia bermuda jeans, sapatênis preto e uma camiseta branca. Exibia um colar fino e duplo, uma espécie de escapulário, com duas medalhas penduradas no pescoço. A menor, presa ao fio mais curto, era a imagem de um pássaro com as asas abertas, uma águia talvez. A maior, um olho grego daqueles usados para espantar mau olhado. Ao retirar os óculos escuros, seus olhos inchados e vermelhos varreram-me de cima a baixo, como se tentassem escanear minhas intenções. Apesar do ar intimidador, havia um peso de derrota em suas palavras:

— Tu é muito peituda ou muito sem noção pra se meter tão fundo nessa história, garota.

Crítica? Elogio? A tensão do momento não me permitiu discernir com clareza. Mas já não tinha importância. Àquela altura estava decidida a fazer a maluca. Se eles esperavam uma garotinha assustada com cara de choro, teriam justamente o contrário. Mantive o olhar firme nos olhos de Linho e respondi com minha melhor cara de "tô cagada mas você nunca vai ter o gostinho de descobrir isso".

— Não me meti nessa história sozinha. Fui arrastada por uma menina que me ligou pedindo ajuda. Cadê a Jéssica? Verdade que foi sequestrada?

Os traficantes demonstraram irritação com minha postura. Alguns reforçaram a empunhadura sobre suas armas em clara reação à marra de uma intrusa que ousava interrogar seu chefe. Mas minha concentração era toda nele. Olhava apenas para Linho. Tentava transmitir-lhe meus pensamentos, minhas reais intenções, repetindo uma espécie de mantra telepático. Estava ali para não deixar passar em branco a covardia cometida contra uma moradora da Baiana. Estava ali para impedir que outra covardia fosse cometida, desta vez contra a filha dessa moradora.

Não sei se no todo ou fragmentada, mas de alguma forma ele pareceu captar minha mensagem. Com o semblante ainda tenso, aproximou-se. Apontou para uma caixa de bombons pousada ao lado de um exemplar do Diário Carioca. Jornal e caixa sobre a mesa da varanda. Por mais que ele acreditasse em minhas intenções, a cena estava totalmente fora de contexto. Uma cortesia no mínimo inusitada. Agradeci e recusei os bombons. Mas Linho insistiu:

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