Capítulo 13

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Tirei da bolsa meu gravador digital e pedi que Linho usasse em um dos ouvidos um fone especial que grava ligações. Basta segurar o celular por cima do fone para que o gravador capte o que se ouve e o que se fala durante a conversa. Enviei uma mensagem para o Tião avisando que haveria uma gravação e que faria novo contato assim que terminasse.

Linho fez a ligação e ainda permitiu que eu filmasse a cena com meu celular. Precisei apoiar os cotovelos no muro da varanda da casa porque, confesso, eu tremia por dentro e por fora.

— Alô, sou eu.

— Faaala, mestre! Pensou rápido...

— Me diz onde vai ser?

— Tá fazendo a coisa certa mestre. Sua princesa tá com saudade de casa.

— Vamo deixá de lero e fala logo onde vai ser, sargento.

— No posto da Av. Brasil ao lado da passarela 15. Às 3h da manhã em ponto. Sem caô. Se tiver gracinha a gente quebra a menina.

— Não sei se consigo juntar a grana toda até lá. Tô correndo aqui.

— Tenho certeza de que seus parceiros não vão se recusar a abrir o cofre pra salvar sua princesa, mestre. É uma milha pra zerar a situação ou não tem negócio. Você não devia ter medido força com o comandante.

— Mas e o que eu já pago pra vocês todo mês? Não tem desenrolo?

— Se quiser negociar a parada mensal fala pessoalmente com ele. O comandante vai estar lá pra receber a grana. E é por isso que faz questão que seja você a entregar.

— Deixa eu falar com a Jéssica.

— Agora não vai dar, mestre. A menina ficou muito nervosa depois que falou contigo na ligação anterior. O Doutor teve que botar ela pra dormir.

— Se vocês fizerem mais alguma merda com ela eu melo a porra toda e levo vocês pro inferno comigo.

— Tamo fazendo negócio de homem, mestre. É toma lá da cá. Leva a grana, pega tua princesa e continua tocando teu morro em paz. Aliás, tô sabendo que a repórter tá na área.

— Ela já tá levando um aperto aqui. Vai pensar três vezes antes de escrever merda de novo naquele jornal.

— Ah, como eu queria tá aí pra ver aquela princesinha marrenta se borrando de medo. Não dá mole pra ela não, mestre. Essa putinha é mais esperta do que parece.

Quando a ligação foi encerrada meu corpo inteiro formigava. Não foi difícil reconhecer o timbre e as expressões debochadas de quem estava do outro lado da linha. Tentei fingir naturalidade, como se aquilo fosse algo comum no meu dia a dia. Mas todos ali sabiam que entregar uma história daquelas na mão de uma jornalista era como ligar um lança-chamas dentro da Secretaria de Segurança. O temor que eu tentava disfarçar era o de que, a qualquer momento, Linho e seus homens mudassem de idéia e não me deixassem sair dali com todas aquelas informações. Não foi o que aconteceu.

Linho me entregou o gravador e me convidou para uma conversa particular na varanda da casa. Pediu que não gravasse e nem escrevesse o que falaríamos. Contou que há anos pagava mensalidades ao batalhão da Polícia Militar do bairro, à delegacia da área e a alguns "engravatados" da política. Royalties para poder tocar a venda de drogas em paz. Quando havia repressão era uma espécie de teatro em que ele entregava algumas armas, quantidade combinada de drogas e às vezes até alguns desafetos. A polícia apresentava presos e apreensões, a imprensa noticiava e todos ficavam felizes. Quando as cortinas fechavam, boa parte do que fora apreendido era devolvido ou revendido para o tráfico.

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