Capítulo 17

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Linho retirou da parte traseira da picape uma pequena mala preta de viagem. Colocou-a no chão sobre rodinhas fixadas em sua base e caminhou sozinho, puxando-a lentamente até as bombas de combustível. O coronel Borges fez o trajeto no sentido inverso, andando da loja de conveniência ao encontro de Linho. 

No meio do posto, Linho e Borges cumprimentaram-se com um aperto de mãos. Tive a nítida impressão de que aquela não era a primeira vez que se encontravam. Conversaram por alguns breves minutos até que o coronel fez um sinal na direção de seu carro. A porta traseira do sedã se abriu e um PM fardado desceu segurando uma menina pela mão. Meu coração disparou. Marcel me encarou assustado. Era ela. Tinha que ser. Jéssica parecia bem, exceto pela venda em seus olhos e uma atadura na mão direita.

O silêncio foi cortado pela abertura das portas da segunda picape que integrava o grupo de Linho. Mais três homens em trajes pretos e coletes desembarcaram. Cada qual com seu fuzil. Só então reparei que os dois comparsas que chegaram com Linho também ostentavam armas longas penduradas em seus ombros. PMs e traficantes estudavam-se à distância.

Waldir acionou pelo rádio os agentes envolvidos na operação. Pediu que se preparassem para invadir o posto a qualquer momento:

— Aguardem apenas o meu sinal. Vamos esperar a menina estar a salvo.

Estávamos todos em silêncio absoluto, vidrados no que acontecia lá embaixo. Dei uma leve cotovelada em Pereira e perguntei em seu ouvido se ele reparara o que Linho usava no punho esquerdo. Ele me olhou incrédulo. Era meu relógio-espião, um presente que havia ganhado do próprio Pereira meses atrás. Dei-lhe um esboço de sorriso, pisquei um dos olhos e pedi segredo com o indicador sobre os lábios.

Borges abriu a mala preta sobre a tampa de uma pequena bancada ao lado da bomba de gasolina. Parecia conferir o seu conteúdo, mas de onde estávamos não era possível confirmar o que havia na mala. Olhei para Tião ao meu lado. Ele sorria e falava sozinho enquanto metralhava o obturador de sua câmera em uma média de sete fotos por segundo. Ousei interromper seu transe e perguntei se conseguia pegar os detalhes. A resposta dele, em tom animado, tranquilizou-me:

— É dinheiro, Clarinha, muito dinheiro. Uma porrada de maço com notas de R$ 50 e R$ 100.

Após uma rápida conferência, o coronel fechou a mala e fez sinal de positivo na direção de seu carro. Enquanto retornava calmamente puxando a mala de rodinhas na direção da loja de conveniência, Jéssica foi desvendada e liberada. A menina passou andando pelo comandante e a partir dali correu até abraçar Linho, que a aguardava agachado de braços abertos.

Borges guardou a mala no seu carro quase ao mesmo tempo em que Linho transferiu a filha de seus braços para o banco traseiro do táxi que chegara com sua comitiva. Assim que a porta foi fechada e o carro começou a andar, Waldir deu o sinal. Em questão de segundos o posto foi tomado por dois, quatro, seis, oito carros da polícia civil. Quatro deles bloquearam o acesso lateral e a Rua Ingaí, evitando inclusive que o táxi prosseguisse. Outros quatro veículos fecharam a saída e entrada principal, pela Avenida Brasil. Os policiais civis e militares concentraram todo seu poder de fogo em Linho e seus homens. Mais de três dezenas de armas de diversos calibres apontadas para os bandidos.

Não houve reação. Waldir abriu uma das janelas do galpão e, pelo megafone, ordenou que os traficantes se rendessem. Linho, de pé entre o bloqueio da polícia e as picapes no lava-jato, olhou para o táxi retido na rua bloqueada, trançou as mãos atrás da cabeça e sinalizou para que os integrantes de seu bando fizessem o mesmo. A situação parecia controlada, até que o coronel Borges deu um grito de comando e seus homens começaram a atirar na direção dos traficantes. Agentes da polícia civil, posicionados no mesmo perímetro em que os bandidos, precisaram se abrigar para não serem atingidos pelos disparos dos PMs.

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