Sentimentos Adormecidos

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(6 meses depois)

Flávia

Não acredito que isso está acontecendo comigo...

— Mãeee — grito para que ela possa me escutar, já que ela está na sala e eu no meu quarto, mas como não ouço respostas suas desço as escadas para ir ao seu encontro, da qual estava bem sentada no sofá assistindo a algo que passava na televisão. Seus olhos pretos encontram os meus e ela fica à espera de que eu fale algo. — Mãe... eu passei... na faculdade. — Digo por fim, já não me aguentando mais de tanta felicidade. — Ah não, eu tenho que arrumar as minhas coisas — me viro para ir em direção ao meu quarto, porém minha mãe se levanta e segura meu braço, impedindo-me de sair do lugar. Olho para ela.

— Filha, tenha calma. Respira. — Ela solta o meu braço, inspira e respira soltando o ar para fora de sua boca ao mesmo tempo em que mexe suas mãos para cima e para baixo, como para me lembrar de como se acalma numa hora dessas, já que eu estou realmente fora de mim. Mas como não estar com uma notícia dessa? — Deixa que essas coisas eu resolvo com o seu pai. Semana que vem iremos para Recife. Tire esses dias para se despedir do lugar de onde você sempre morou e principalmente das suas amigas. — Diz simplesmente, com toda a calma do mundo. Geralmente eu sou bem calma, assim como ela, só que agora essa palavra praticamente fugiu do meu corpo.

Por sorte, nós temos uma outra casa em Recife, mas nós só passamos as férias nela. E como de João Pessoa para Recife é só duas horas de viagem, meus pais disseram que dava para eles continuarem nos seus empregos, até porque eles não trabalham todos os dias, e como eles sempre dizem: por um filho a gente faz qualquer coisa.

— Tá bom mãe, eu vou me encontrar com elas agora mesmo. — Subo para o meu quarto. Ligo para as minhas amigas, Heloísa e Eloá, que por sinal são irmãs, elas têm dezoito e dezessete anos. Somos amigas desde pequenas e fazemos tudo juntas.

Elas confirmam o passeio, então sigo em direção ao banheiro. Tomo banho e visto um short jeans e uma blusa branca. Saio de casa e vou de encontro à lanchonete que fica por aqui perto, a qual marcamos de nós encontrar.

........

— Então é isso mesmo, você vai nos deixar? — Heloísa pergunta, tristemente. Eu sabia como a minha amiga loira iria sentir a minha falta, as duas iriam sentir, porém, a Heloísa sentiria mais, já que somos como unha e carne. E eu ficaria muito triste ao saber que os seus lindos olhos azuis estariam chorando por saudades minhas.

— É o que parece — digo simplesmente.

— Agora quem vai andar de skate com a gente e chegar só de noite em casa? — Eloá pergunta, a minha morena de olhos cor de mel. Tem os cabelos compridos como a da sua irmã, porém castanhos. Ela sempre foi tão diferente da Heloísa, mais engraçada, divertida e faz tudo o que tem vontade. Ninguém do mundo é capaz de fazer a Eloá mudar de ideia. Ela é sempre muito intensa e vai até o fim, mesmo que às vezes no final quebre a cara.

— Vocês vão ter que arrumar outra pessoa para ficar no meu lugar. — Dou uma risada ao mesmo tempo em que brinco sobre isso, pois eu sei que elas jamais me substituiriam. Ou pelo menos prefiro acreditar que esse dia nunca vai chegar.

— Amiga, não olha agora, mas acho que o Bernardo está vindo para cá — Heloísa me comunica.

— Eu não acredito, o que ele quer comigo agora? — Faço essa pergunta para mim mesma e já fico sem paciência para o que ele tem para falar comigo. Tento me preparar psicologicamente antes dele chegar na nossa mesa, mas falho miseravelmente, não consigo ficar calma quando estou ao seu lado, não depois do que ele fez comigo.

— Oi, Flávia. — Ele para ao meu lado na mesa e eu viro o meu rosto bem devagar para encara-lo. Respira, Flávia... 1... 2... 3... desisto, isso não vai dar certo. — Ouvir dizer que você e a sua família estão de viagem marcada, é verdade? — Pergunta.

Como ele ficou sabendo disso?

— Nossa, como as notícias correm rápido por aqui. É verdade sim, vou começar uma nova vida, da qual espero não encontrar mais nenhum Bernardo de novo. — Jogo as palavras bem na sua cara para que ele consiga sentir o tamanho da raiva que eu tenho dele. Naquele dia eu mal consegui falar com ele, todas as palavras que estavam engasgadas na minha garganta não se manifestaram, devido ao choque que foi eu ver ele com outra garota. Mas hoje eu vou falar tudo o que tiver vontade e o que não chegou a ser dito.

— Eu já lhe pedi desculpas. Já até pedi para voltarmos de novo. — Olha para mim com uma cara triste, como se isso fizesse eu mudar de ideia?

— Você acha que eu ainda te quero? Bernardo você me traiu. Eu te vi com outra! — Grito mais com ele. Como ele pode achar que ao me trair eu ia querer ele de volta nos meus braços? Só na cabeça dele mesmo.

— Acho melhor eu sair daqui, senão vamos acabar discutindo e isso não vai dar certo. — Ele diz e eu finalmente concordo com ele. Foram as suas melhores palavras depois que ele apareceu aqui, na minha frente. Moramos consideravelmente perto um do outro, porém em todos esses seis meses depois do rompimento, não havíamos mais nos visto. Não estou reclamando sobre isso, eu queria mesmo era continuar sem o ver, pois ver ele aqui hoje, depois de tanto tempo, acabou me trazendo as lembranças daquela tarde. Eu estava tão feliz por conta da notícia e agora ele conseguiu arruinar tudo.

— Já era para você ter se retirado faz tempo! — Ao ouvir as minhas palavras ele se afasta de nós, indo embora. As garotas logo puxam conversa, para tentar esquecer o que tinha acabado de acontecer aqui, só que eu estava completamente no mundo da lua, não escutava nada do que elas falavam. Ele conseguiu mais uma vez foder com o meu psicológico. Alguns minutos se passaram e eu percebo quando as meninas se levantam e vão em direção ao caixa, pagar a nossa conta. Também me levanto e espero elas chegarem para sairmos juntas.

..........

Conseguimos aproveitar bem o dia de hoje, mesmo depois daquele episódio. 

Já é noite quando chego em casa e como estava muito cansada, me deito na cama e adormeço pensando no passeio em que fiz com as minhas amigas, do qual andamos de skate e depois fomos assistir vários filmes na casa delas, e que a partir da semana que vem a minha vida iria mudar. Isso eu tenho certeza.