Flávia
Acordo no outro dia com a minha barriga roncando, então me levanto da cama já sabendo que não conseguirei mais dormir pelo simples fato de estar com fome. Saio do quarto, já pensando no que vou preparar para comer. Assim que chego na metade do caminho, vejo a Heloísa sentada no sofá da sala, com a televisão ligada em alguma programação qualquer, mas ela não estava assistindo. O seu cotovelo estava em cima das suas coxas e as suas mãos sustentavam a sua cabeça, que estava abaixada. Percebo que ela ainda não notou a minha presença aqui e consigo perceber também, que pelo estado em que ela se encontra eu diria que o seu semblante está triste. Por que ela está assim, será que foi pelo que eu ouvi ontem à noite, antes de dormir? Dar para ver que a minha amiga está sofrendo. Vou lhe perguntar o que houve, mesmo já suspeitando do que seja.
— Aconteceu alguma coisa, Heloísa? — Pergunto assim que me sento ao seu lado, colocando uma mão em seu ombro, como forma de que ela pode se apoiar em mim.
— Eu já deveria estar acostumada, mas é sempre assim — ela continua com a sua cabeça abaixada e eu consigo ouvir bem fraquinho o seu choro, devido estar ao lado dela, coisa que eu não havia reparado antes.
— O que é sempre assim? — Pergunto, ao afastar os seus cabelos de seu rosto. Eu queria tanto que ela olhasse para mim, mas concluo que ela só quer ficar em seu mundo. Em sua tristeza.
— Quando a Eloá acha uma pessoa interessante ou gosta de algum rapaz, ela não quer nem que eu chegue perto dessa pessoa — confessa.
Eu não sabia que a Eloá era assim, ela sempre foi uma garota que gostava de se jogar de cabeça nos amores, sem nem um pingo de arrependimento se caso não desse certo depois. Mas talvez, esse seu jeito, seja por causa de sua insegurança. Só pode ser isso! Por isso os romances rápidos, o interesse repentino no Cauã e a briga de ontem à noite com a sua irmã. A Eloá é insegura.
— Mas por que ela é assim? — Pergunto só por perguntar, talvez até a sua irmã saiba de sua insegurança.
— Eu não sei — balança a cabeça para os lados.
Descido então que é melhor deixar esse assunto de lado, como se eu não tivesse nem percebido isso.
— Então era por isso que vocês estavam discutindo ontem? — Pergunto e a Heloísa olha para mim, finalmente, mas com os olhos arregalados. — Eu acabei escutando sem querer — rapidamente me justifico.
— Era... ela achou o Cauã muito interessante — revira os olhos e prossegue: — Até porque como você disse a ela que ele era solteiro, ela acabou juntando uma coisa com a outra e deu naquilo que você acabou escutando ontem.
— Mas eu não sabia que ela ia ficar daquele jeito. Me desculpe — agora quem estava triste por ver a minha amiga desse jeito, era eu e em pensar que a culpa é minha... eu não deveria ter dito aquilo sobre o Cauã. Se eu ao menos soubesse...
— Tudo bem — dar um pequeno sorriso ao pegar na minha mão, mas depois volta a olhar o nada.
— Acho que temos um problema agora — comunico ao colocar a mão no queixo.
— O quê? — Me olha novamente, espantada.
— Se lembra da praia de amanhã? — Ela concorda com a cabeça e eu prossigo: — Vai as mesmas pessoas que foram para o cinema, isso quer dizer que o Cauã também vai estar lá — a lembro.
— Eu não vou falar com ele de jeito nenhum, mesmo se ele vier falar comigo — diz ao cruzar os braços e na mesma hora eu mudo de assunto. É melhor, por hora, esquecermos mais esse assunto.
— Eu vou preparar alguma coisa para comer — me levanto do sofá. — Quer que eu faça para você também? — Pergunto.
— Não precisa — diz e eu sigo para a cozinha para preparar meu lanche.
Minutos depois eu volto para a sala, com um copo de suco de laranja e uma fatia de bolo de cenoura nas mãos. Ficamos assistindo ao que se passava na televisão e quando a porta de casa se abre, vejo que era a minha mãe.
— Oi, amores. Tudo bem? — Assentimos e ela volta a falar: — Nem vi quando vocês chegaram ontem em casa, eu tinha que sair cedo hoje, então tinha que ir dormir mais cedo também — dar uma risada. — Mas como foi ontem, foi bom? — Pergunta ao olhar para a Heloísa. — Vocês têm que aproveitar os dias que estão por aqui, para se divertirem — recomenda com um sorriso no rosto.
— Foi ótimo, tia. Conheci os amigos da Flávia e amanhã iremos sair de novo, vamos a praia — comenta.
— Que bom, fique sabendo que as praias daqui são lindas. Vocês vão de manhã? — Mamãe pergunta.
— Vamos à noite, mãe — espero ela reclamar pelo fato de eu ter dito a ela que só iria ir à praia de manhã, porém ela não faz isso, então eu continuo: — Elas já viram a praia de manhã, acharam muito bonita e como elas vão embora a noite elas querem fechar com chave de ouro, indo à praia — explico para ela a nossa escolha de horário.
— Só tenham cuidado. Quem vai com vocês? — Pergunta.
— As mesmas pessoas que foram ontem para o cinema — Heloísa diz, rapidamente.
— E a Eloá, cadê? — Pergunta ao achar estranho não ver ela ali conosco.
Como a Heloísa não fala nada, apenas vira o rosto para o lado, eu falo por ela. A minha amiga ainda deve estar triste por causa das coisas que a sua irmã lhe falou.
— Ela deve ainda estar dormindo, mãe — nem sei se isso é mesmo verdade, apenas supus, mas talvez até seja mesmo, já que ainda são dez horas da manhã.
— Pois eu vou fazer a mesma coisa que ela — mamãe dar uma risada. — Estou muito cansada, garotas — diz ao pegar em suas pernas e tomar coragem para começar a subir as escadas para ir ao seu quarto.
— Bom descanso — digo, e eu e a Heloísa voltamos a nossa atenção ao que se passava na televisão.
..........
— Então hoje a gente vai ficar só em casa mesmo ou vamos sair para algum lugar? — Heloísa pergunta, estávamos no meu quarto e na mesma hora a Eloá entra.
— É mesmo, porque não saímos para algum lugar, um shopping talvez — Eloá sugere. — Tenho que conhecer Recife e só aqui dentro de casa não vou conhecer nada — se senta do meu outro lado, na cama.
— Vocês querem ir mesmo ao um shopping? Tem um aqui bem perto de casa — comento.
— Pode ser — as duas disseram na mesma hora.
— E vocês querem ir agora? — Pergunto.
— É bom nos irmos cedo, pois voltaríamos mais cedo e a noite assistiríamos a um filme de terror. Que tal? — Eloá diz.
— Você está de acordo, Heloísa? — Olho para ela, da qual estava indiferente ao meu lado.
— Estou sim — diz bem baixo ao dar de ombros, ao mesmo tempo em que vira o seu rosto para o lado.
Vamos ter que resolver logo essa situação.
— Certo, então vamos nós arrumar — me levanto da cama e a Eloá sai do meu quarto para ir se arrumar.
Porém, foi só ela.
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Sentimentos Adormecidos
Romance- LIVRO 1 - Flávia, uma garota em pleno seus 18 anos, e muito inteligente passa em uma faculdade com tudo pago e junto com a sua família vão morar em Recife e assim começar uma nova vida, tentar esquecer a sua antiga, não sua antiga vida em si, mas...