Miguel
— Quem era? — Pergunto assim que ela para de falar com a tal pessoa e caminha, vindo na minha direção com um sorriso no rosto, de vez em quando ela até soltava algumas risadas enquanto conversava, animadamente. Ela se senta na cama e olha para mim, com um brilho nos olhos.
— Era a Heloísa, reclamando porque que eu nunca mais tinha falado com ela. Depois a Eloá pegou o celular e começou a mim xingar e como você deve ter visto, já que eu também estava olhando para você, eu só fazia rir. A Eloá é muito engraçada quando tirar para xingar alguém — ela começa a rir, mas logo suas risadas cessam. — Mas depois eu pedi desculpas a cada uma delas e disse que era só pela falta de tempo. Elas entenderam o motivo da minha ausência e perguntaram onde eu estava e eu disse que estava com você, então rapidamente elas disseram que não queriam atrapalhar, o que quer que a gente estivesse fazendo — dar uma piscadela —, e simplesmente desligaram. Desligaram na minha cara, acredita nisso? — Indignação estava na sua voz, porém dava para perceber que era tudo drama. — Elas nem ao menos me deram um tchau — revira os seus olhos ao mesmo tempo em que um sorriso se forma em seus lábios; bem por falar com as suas amigas novamente, que como ela mesmo havia dito, era a falta de tempo que estava afetando o seu relacionamento com elas e elas assim como a Flávia estavam com saudades umas das outras.
— Parece que elas estavam mesmo com saudades de você — comento com ela os meus pensamentos enquanto a puxo para mais perto de mim, já que a mesma estava na extremidade da cama e passo o meu braço por cima de seu ombro, que logo encosta a sua cabeça em meu peito, ainda descoberto, do qual a mesma imediatamente repousa sua mão lá, no lugar do meu coração. Olho por alguns segundos sua mão que começava a formar arrepios em mim, já que ela a movimentava e com o frio da noite, acabou juntando tudo. Coloco minha mão em cima da sua e a Flávia levanta o seu olhar. O seu desejo ainda estava lá, dava para ver por conta dos seus olhos bem escuros fixados em mim, mas agora eu não queria pensar sobre isso, só queria escuta-la falando sobre o telefonema das suas amigas, que a fez tão bem. Então só beijo a sua testa, gentilmente, e ela abaixa novamente o seu olhar. Aos poucos, sem nós ao menos perceber, já descíamos nossas costas em direção a cama.
— É, eu também sinto muita saudade delas — finalmente me responde, nostálgica. Não falo nada a seguir para não atrapalhar o seu momento de lembranças, mas ela logo se afasta do meu corpo para pegar o seu celular, da qual arregala os olhos com o que vê. — Está tão tarde, não acha que seria melhor se nós fôssemos dormir agora? — Pergunta ao me mostrar as horas em seu celular. Eu meio que concordo com ela, já passa da meia-noite, mas mesmo assim eu queria aproveitar mais o nosso momento aqui em casa, já que essa é a primeira vez em que ela vai passar a noite aqui e mesmo que não façamos nada eu queria ao menos passar a noite todinha conversando com ela. Mas assim que penso sobre isso, como para atrapalhar o que eu estava querendo, ouvimos um barulho de carro. Os meninos acabaram de chegar.
— Sim, é melhor dormimos agora — respondo contra a minha vontade, porém ao olhar bem para ela a mesma já estava com cara de sono. Eu queria tanto lhe alegrar agora e sabia o melhor jeito para fazer isso. Mas prefiro não falar nada. — O bom é que você ainda pode escolher com quem quer dormir, se com a Jade, com o seu irmão ou comigo, o seu amor — pisco para ela tentando-a convencer de que a terceira opção é a melhor de todas, ao mesmo tempo em que lhe dou vários beijos por toda a sua face, como para ganhar alguns pontos a mais. Ela entendeu muito bem o que eu queria, mas ao contrário do que eu achei que faria ela só balança a cabeça para os lados, rindo de mim.
— Hum, tenho várias pessoas com quem dormir — se levanta da cama e vai em direção as suas roupas, as recolhendo para começar a se vestir. Também faço a mesma coisa que ela, só que só vou a procura da minha blusa, que foi a única peça de roupa que ela conseguiu tirar, o que chega a ser bem frustrante, mas não a visto imediatamente, já que percebi que de vez em quando ela abaixava o seu olhar para olhar o meu abdome, ficando ruborizada logo em seguida. Saio dos meus pensamentos quando a escuto falando comigo novamente: — Mas acho que seria melhor dormir com o meu irmão — você está enganada, Flávia, isso não seria melhor, muito pelo contrário — o deixei hoje sozinho na festa a maior parte do tempo e eu disse para mim mesma que queria passar o máximo de tempo que eu tivesse com ele.
— Mas você deixou ele sozinho porque queria que ele conhecesse os nossos amigos — tento explicar para ela o meu ponto de vista enquanto visto minha blusa, que por ser social acabou ficando um pouco amassada por conta dos nossos amassos. — Mas tudo bem — minha mão toca o seu ombro, ficando por lá. — Você pode ir dormir com ele, eu não vou ficar nem um pouco chateado — olho para o lado com um meio sorriso entre os lábios como se estivesse mesmo acabado de ficar chateado por conta disso, mas ela sabe muito bem que é só encenação, até porque logo em seguida começo a rir e ela me acompanha.
Depois que nos vestimos e vimos que estávamos exatamente arrumados do mesmo jeito que viemos pra cá, saímos do meu quarto. Descemos as escadas, silenciosamente, e logo soubemos onde a minha irmã e o Ben estavam, a luz acessa da cozinha entregava o que quer que fosse que eles dois estivessem fazendo e se eram para serem discretos falharam miseravelmente. Ao chegarmos lá notamos que eles só estavam conversando, em pé, um de frente para o outro, cada um com um copo de água bem a sua frente. Quando a minha irmã leva o seu copo aos lábios, percebe que eu e a Flávia estávamos olhando para ela e o seu companheiro da noite.
— Pensei que vocês já estivessem dormindo — Jade diz assim que coloca novamente o seu copo em cima da mesa e nos encara com uma sobrancelha erguida extremamente séria, como se estivéssemos atrapalhando alguma coisa e talvez até estejamos mesmo. Nunca se sabe. Em seguida o Ben se vira em nossa direção para poder nos olhar, com um sorriso no rosto.
— Não, mas já vamos — digo a ela. — Escutamos o barulho do carro e viemos ver vocês antes de dormir para nos contarem como foi o restante da noite. Se divertiram muito? — Pergunto a ambos, esperando que pelo menos um me responda logo, porque eu estou bastante curioso para os detalhes.
— Foi bem maneiro — Ben dar de ombros enquanto começa a rir.
— Eu vou dormir contigo, Ben — Flávia comenta com o seu irmão.
— Pois então vamos logo. Você está com cara de sono. Precisa descansar — ele caminha, parando ao lado da irmã. Logo se despedem de nós e saem da cozinha. Deixando só eu e a minha irmã, aqui.
— Você quer conversar logo, me dar uma lição de moral? — Jade atrai a minha atenção ao me fazer essa pergunta. Claro que eu quero conversar logo com você, Jade, onde já se viu fazer uma coisa dessas? Mas penso que é melhor não conversarmos sobre isso hoje, está tarde, estou cansado e com sono, então só quero descansar. E como somos irmãos e moramos na mesma casa oportunidades é que não vão faltar.
— Não, amanhã conversamos. Você está cansada e eu também, precisamos descansar — respondo. Ela concorda com a cabeça e assim saímos da cozinha, logo subindo as escadas para ir em direção aos quartos.
Assim que chegamos em frente ao seu ela abre a porta, mas antes de entrar se vira para mim e fala:
— Estou com muita dor de cabeça, acho que amanhã não vou para as aulas — diz ao pegar em um ponto específico na sua cabeça, me indicando com a mão o lugar que está doendo.
— Acho que amanhã ninguém vai — suponho, mas é bem capaz de ninguém ir mesmo. Hoje, eu e a Flávia só não passamos dos limites, igual naquele dia, porque viemos para casa. — Mas agora é melhor você ir dormir — pego o seu rosto com as mãos e beijo a sua testa, rapidamente. — Vê se toma algum remédio para passar essa dor, viu? — Aconselho e em seguida vou para o meu quarto.
Vejo minha cama desarrumada e por algum motivo sorrio por isso; e em pensar que até minutos atrás eu e a Flávia quase que íamos fazendo amor. Eu quero tentar ir mais devagar com ela, eu quero tanto isso, mas no final das contas eu não consigo: seus abraços, sorriso, lábios, corpo, eu me perco neles assim que beijo e toco. Porém não quero chegar a repetir a mesma coisa que aconteceu comigo e com a Ester, foi tão intenso o nosso namoro — eu achava que ela gostava disso —, mas penso que esse foi um dos motivos pelos quais terminamos e eu não quero que isso aconteça comigo e com a Flávia, só que ela me deixa extremamente fora de mim...
Será que ela está pensando em mim agora, assim como eu estou pensando nela? — Adormeço com esse pensamento.
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Sentimentos Adormecidos
Romantik- LIVRO 1 - Flávia, uma garota em pleno seus 18 anos, e muito inteligente passa em uma faculdade com tudo pago e junto com a sua família vão morar em Recife e assim começar uma nova vida, tentar esquecer a sua antiga, não sua antiga vida em si, mas...