Música: Change Your Life - Little Mix
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- Eu não quero - ouço a voz sonolenta de Jesy murmurar. Ela ainda está deitada em sua cama, enquanto eu já estou escolhendo uma roupa para o primeiro dia de aula.
Rio baixo de sua fala e mostro para ela duas opções. A primeira, um vestido cor vinho até um palmo acima das coxas, com um cintinho dourado. A segunda, uma blusa verde escura acompanhada de uma saia branca plissada.
- Qual?
Jesy cobre a boca em um bocejo.
- O conjuntinho.
- Vou tomar um banho, me vestir e ir comprar um café. Quer ir comigo? - pego uma toalha na gaveta e espero sua resposta, já com a mão na maçaneta.
- Desculpe Jeed, mas já combinei com Jake de tomar café com ele - Jesy faz um biquinho com os lábios, o que me faz sorrir.
- Sem problemas. Nos falamos depois - abro a porta e sigo para o banheiro.
Demoro cerca de meia hora para tomar um banho, lavar os cabelos e me vestir, e quando volto ao quarto, Jesy não está mais lá. Sinto falta de sua companhia, mas nunca tentaria impedir ela de encontrar seu namorado para ficar comigo.
O Coffee & Friends parece um local agradável para o começo de meu primeiro dia, então é para lá que vou uma hora antes de as aulas começarem. A fila é pequena, então eu mexo em meu celular enquanto as outras pessoas são atendidas.
- Você por aqui, Jade? - ouço alguém dizer, e sorrio imediatamente ao constatar quem é.
- Gosto de me preparar bem para o resto do dia com uma boa dose de cafeína - respondo a ela, recebendo um sorriso em troca.
Ficamos em um silêncio confortável enquanto avançamos mais um passo na fila.
- Ei, soube que conheceu minha melhor amiga e colega de apartamento - ela diz, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Ergo as sobrancelhas, não me recordando de conhecer alguém que dissera morar com Perrie.
- Sério? Quem?
- Leigh-Anne. Ela falou bastante de você ontem.
Uma luz parece se ascender e clarear minha mente. Zayn, o namorado babaca de Perrie citou o nome de Leigh-Anne ao buscar a loira no café.
- Ela é incrível - comento, dando mais um passo na fila do café.
- Realmente - Perrie faz uma pausa, e parece pensar no que dizer a seguir. - Posso fazer uma pergunta?
- Vá em frente.
Ela leva uma das mãos até o colar dourado em seu pescoço.
- Você, hum... gosta de garotas?
Aquela pergunta me surpreende um pouco. Olho para Perrie, mas seus olhos estão focados em seus pés. Ela parece estar envergonhada. E, antes que eu possa respondê-la, é a sua vez de fazer o pedido e depois a minha.
Depois de pegar meu café, vejo que ela está me esperando na porta da cafeteria.
- Minhas aulas são ao lado do prédio de Artes. Não é muito longe. Vamos caminhando? - ela pergunta, e eu assinto com a cabeça.
Começamos a caminhada em silêncio, e eu resolvo responder sua pergunta.
- E, quanto a sua pergunta, eu sou bissexual - respondo, olhando rapidamente para ela.
- Ah - ela diz, e continua fitando a rua em que caminhamos. - E como você descobriu isso?
- Bem, foi meio difícil para mim. Eu tinha uma amiga, e nós éramos muito próximas. Ela me fazia sentir bem, sabe? - faço uma pausa para beber um pouco de meu café e divagar um pouco. - Eu nunca pensei nela como algo além de melhor amiga, mas um dia ela me beijou, e foi muito estranho, porque eu não fazia ideia de que meninas podem beijar meninas. Eu era muito jovem na época, deveria ter onze ou doze anos. Fiquei assustada. Então, como qualquer criança na minha situação, corri para pedir o conselho de minha mãe.
- Ela disse que aquilo era errado e contra as leis de Deus? - Perrie pergunta, e eu a encaro assustada.
Então aquilo é o que sua mãe coloca em sua cabeça?
- Não, longe disso! Minha mãe disse que, em diversos casos, meninas gostam de meninas e meninos de meninos, e que isso é completamente natural. E que, se eu sentisse algo além de amizade pela minha amiga, para eu seguir meu coração.
Ficamos algum tempo em silêncio, enquanto eu me pergunto o por quê de ela ter me feito essa pergunta. Jogo o copo vazio de café no lixo mais próximo e resolvo quebrar o silêncio.
- Por que a pergunta, afinal?
Perrie não responde de imediato. Ela parece pensar em sua resposta.
- Leigh-Anne disse que conheceu você porque a viu aplaudindo um beijo entre Camila e Lauren. Então fiquei curiosa quanto a isso.
- Só porque uma pessoa apoia a demonstração de amor entre qualquer tipo de gênero e orientação sexual não significa que ela goste do mesmo sexo - digo, e Perrie parece ficar constrangida. Não é minha intenção deixá-la assim, mas alguém tem que dizer a ela a realidade das coisas. Suspiro, sabendo que posso estar ultrapassando um limite ao qual não estou permitida. - Sua mãe lhe diz essas coisas, não é?
Perrie olha rapidamente para mim, provavelmente se perguntando como eu sei disso. Ela solta um longo suspiro e volta a encarar seus pés.
- Minha mãe é uma pessoa... difícil. Ela não é uma má pessoa, apenas quer o melhor para mim. Aposto que foi Jesy que contou a você sobre ela, certo? - assinto para ela em resposta, e Perrie continua. - O problema é que temos visões diferentes do mundo. Ela não é tão ruim quanto parece, eu juro, só está presa àqueles mesmos pensamentos antiquados. Mas eu vivi minha vida inteira com ela, é inexorável que eu pense como ela em alguns aspectos.
- E por que você não contradiz quando ela diz algo com o qual você não concorda? - pergunto, olhando para ela.
O sol está em nossa frente, de forma que faz seus olhos parecerem ainda mais claros e a luz lhe dá uma aparência angelical. Eu poderia pintá-la e fazer a mais bela obra de arte.
- Bem, ela ameaçou expulsar de casa meu irmão se ele não cursasse Direito. Ela nos lembra a todo momento que quem manda naquela casa é ela - ela abaixa a cabeça, voltando a fitar seus pés.
Agora estamos paradas em frente a uma bifurcação da estrada. Em um ato impensado, eu levo minha mão até o queixo de Perrie e o ergo para que ela me encare. Seus olhos me lembram as águas do mar após uma tempestade e me dão a mesma sensação. Calma.
- Perrie, você não está mais vivendo lá. Você tem a liberdade de ser quem você quiser, aqui e agora. Não desperdice isso.
Um sorriso surge em seus lábios, e eu anoto mentalmente que tenho de fazê-la sorrir assim mais vezes. Ser o motivo de seu sorriso parece me aquecer, como uma lareira no inverno.
- Eu não vou - ela responde, e seus olhos são como ímãs para mim. Eu não conseguiria encontrar a cor deles nem se misturasse todos meus tons de azul.
Só então percebo que minha mão permanece em seu queixo. Como se eu acordasse de um transe, abaixo a mão e me afasto um pouco. O sorriso desaparece do rosto de Perrie, e ela balança a cabeça e limpa a garganta.
- O prédio de Artes é ali - ela aponta para um prédio no final de uma das estradas. - O meu é logo ali, então, se você quiser, eu posso ir lá para almoçarmos juntas.
- Claro, seria ótimo - sorrio para ela, ainda um pouco sem graça por causa da cena anterior. Passo a mão nos cabelos, jogando-os para um só ombro. - Então, hum, eu vou indo para não chegar atrasada. Obrigada por me trazer até aqui. Nos vemos no almoço.
- Até logo - Perrie acena e segue para a esquerda, enquanto eu vou para a direita.
Solto um suspiro. O que acabou de acontecer?
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In The Name Of Love | Jerrie
FanficVocê iria contra tudo que acreditava ser certo? Você iria contra as regras impostas pela sociedade? Você iria contra a sua própria família? O que você faria em nome do amor?