Seu amor, meu destino

49

Eva

Eu queria acreditar nas mentiras, mesmo sabendo que não eram verdade.
(Anjos da noite)

Passei a noite toda chorando. Eu não acreditava que Luan havia me falado aquilo tudo. Senti-me suja, usada, como se o que eu tinha lhe entregado não tivesse sido nada além de uma transa.

A prova de que eu não significava nada para ele foi por não ter insistido para ficar, ou me mandar mensagem, dizendo estar arrependido. Foi como se nossa primeira noite nem tivesse existido.

Quando acordei pela manhã, meus olhos estavam inchados e vermelhos. Arrastei-me da cama para a cozinha como um zumbi.

Preparei um chocolate quente e depois peguei a cesta de pães. Estava vazia.

— Droga!

Esqueci que Luan havia comido todos os pães na última vez em que dormiu aqui. Hoje era sua vez de ir ao mercado comprar, como havíamos combinado.

Olhei no armário e meu estoque estava vazio. Primeira tomaria meu chocolate quente e depois iria até ao mercado.

Coloquei uma calça moletom preta, camiseta folgada e rasteirinhas. Prendi meus cabelos de qualquer jeito e desci para a garagem.

Estacionei na primeira vaga que vi e saí do carro. Meu celular tocou e olhei para o número desconhecido na tela.

— Alô.

— Oi Eva, sou eu Guto, tudo bem?

— Tudo, estou no mercado vinte e quatro horas comprando pão.

— Olha que coincidência, estou próximo daí, que tal uma parada para um suco?

— Luan não vem com você, certo? Se estiver, nem precisa passar aqui. Não quero vê-lo.

— Não, Luan não vai comigo. Certo, te encontro em dez minutos.

Desliguei o telefone e coloquei na bolsa. Entrei no mercado e fiz minhas compras enquanto esperava por Guto.

Estava tentando fechar o porta-malas quando senti a presença de alguém atrás de mim. Virei-me assustada, ainda lembrando da última vez em que estive aqui sozinha. Quatro homens enormes, vestidos de roupas pretas se aproximaram cercando-me.

— Eva? — um dos caras robustos, bigode grosso e uma enorme tatuagem cobrindo sua mão me chamou.

— Sim. Posso ajudá-los? — perguntei pensando em uma rota de fuga, mas sem sucesso.

— Estamos procurando seu namorado.

— Luan?

— Sabemos que ele sempre está com você.

— Ele não está comigo. Se for só isso, tenham um bom dia senhores — falei me afastando tentando não demonstrar medo.

O outro cara me puxou de volta, me empurrando de volta para o meu carro.

— Ainda não terminamos com você. Onde podemos encontrá-lo?

— Eu não sei. Não sou sua babá — desafiei.

O homem do bigode riu e se aproximou. Tive que erguer minha cabeça para encará-lo.

— Valente demais para o seu tamanho.

— Vamos embora Ricardo, ela não sabe dele — disse outro cara que estava logo atrás dele.

— Ela sabe sim, — disse sem tirar o olhar do meu — como a vadia do Luan não sabe o seu paradeiro? Tudo bem... Leve um recado para ele então, diga para aquele bastardo filho da mãe que Dragão quer seu dinheiro. Diga que sabemos onde sua putinha mora. Ele tem até sábado para pagar sua dívida, ou vamos atrás de você.

Dinheiro, putinha e dívida.

Às três palavras juntas na mesma frase. Seja lá quem fosse esse tal de Dragão, ele não estava para brincadeira. Meus olhos vacilaram, olhando para os outros antes de voltar a olhar para a ameaça iminente na minha frente.

— Percebeu que não estamos de brincadeira princesa?

Balancei a cabeça concordando e ele se afastou, acompanhado pelo outros.

— O dinheiro no sábado ou você como pagamento. Ele escolhe — o grandalhão disse sem olhar para trás.

Fiquei olhando eles caminharem para saída até ser surpreendida pela presença de Guto.

— Quem eram aqueles caras?

Saltei do carro, quase tendo um infarto.

— Meu Deus, Guto! Quase me matou de susto! — falei fechando o porta-malas — por que demorou tanto?

— Não mude de assunto, quem eram aqueles caras?

— Não faço ideia.

— Estavam falando com você.

— Apenas pedindo informação.

— Porque você está pálida com uma folha de papel?

Droga de garoto intrometido.

— Devo estar com pressão baixa.

Guto me puxou pelo braço e me encarou.

— Mente tão mal quanto uma garota de cinco anos. Quem eram e o que queriam com você?

Bufei e soltei meu braço.

— Estavam procurando Luan.

— Por que estavam procurando meu amigo?

— Seu amigo está devendo dinheiro para alguém chamado Dragão. Seus peões vieram atrás dele.

— O que mais eles falaram?

— Além de me chamar vadia e puta? — debochei — serei o pagamento, caso Luan não pague a dívida até sábado.

— Luan me disse que eles eram perigosos, mas não me disse que viriam atrás de você.

— Então Luan está mesmo devendo dinheiro a eles? Eu não acreditei naquelas fotos. Mas agora após ser ameaçada...

— Que fotos?

— Meu pai apareceu no meu apartamento com fotos onde Luan aparece. Ele está vendendo drogas? Era isso que estava escondendo de mim?

— O quê? Não! Luan pode ser um pouco difícil de se lidar, fazer merdas, mas ele nunca se envolveria com drogas. Nunca!

— Perguntei se ele estava me escondendo algo e Luan mentiu olhando nos meus olhos.

— Então a briga foi por isso.

— Está sabendo da briga? Foi ele que te mandou aqui para limpar a barra dele, não foi?

— Claro que não.

— Diga a Luan que pare de se comportar com um imbecil, pague suas contas e me deixe fora dos seus problemas. Não sofrerei ameaças porque ele quis ter dinheiro fácil. Ele tem até sábado para pagar ou eles virão atrás de mim.

— Luan ficará maluco quando souber que te ameaçaram.

— Por mim, ele pode fazer o que quiser, apenas me deixe fora da merda da sua vida e dos seus problemas — falei abrindo a porta do carro e sentando no banco.

— Eva, espera um pouco... — disse Guto se apoiando sobre a porta do carro.

— Luan ama você e lamenta muito o que te falou ontem.

— Ele te mandou falar isso ao invés de vir e falar pessoalmente?

— Não foi isso.

— O Luan que eu pensava conhecer nunca existiu. Preciso ir agora Guto, nos vemos na faculdade.

Guto suspirou e se afastou. Liguei o carro e saí do estacionamento. Meus pensamentos estavam fervilhando, embora estivesse com raiva, me preocupava saber como ele arranjaria o dinheiro para pagar sua dívida.

Eu deveria parar de me preocupar com ele e cuidar da minha segurança. No final, meu pai tinha razão, Luan não servia para mim.