Luan
Às vezes me pergunto por que as pessoas boas se vão cedo demais, deve ser porque Deus as quer por mais tempo ao seu lado.
(Um amor para recordar)
Eu não sabia como conseguiria o dinheiro, mas precisava ser rápido. Olhei para minha mão enfaixada enquanto dirigia. Eu levaria cerca de três a quatro semanas para poder movimentá-la e até lá precisava encontrar outra maneira de obter dinheiro.
Estacionei meu carro na rua e Eva estacionou logo atrás. Não sabia o que estava pensando quando a levei ao hospital, e agora eu a trouxera para minha casa. Agi por impulso, algo que não fazia com frequência.
— Espero que não se importe com a bagunça. Não tenho tido muito tempo para arrumar a casa — falei quando ela saiu do carro.
— Nunca liguei para bagunça. Sou a rainha dela.
Eu morava no terceiro andar em um prédio sem elevador, com apenas escadas para chegar aos apartamentos construídos pelo estado. Já estava acostumado a subir e descer elas diariamente. Não imaginava com Eva se sentiria ao subir os lances de escadas.
Abri a porta e esperei Eva subir os últimos degraus.
— Sem fôlego? — perguntei.
— Só preciso de alguns minutos para me recuperar — disse ficando do meu lado enquanto eu abria a porta.
Deixei a porta aberta para ela entrar e fui direto para a cozinha. Precisava beber algo para me manter calmo. Tirei duas cervejas e levei uma para Eva.
Ela estava olhando para o pequeno espaço que era o lugar onde eu morava.
— Diferente do seu apartamento, não é? — perguntei oferecendo a lata de cerveja.
— Não bebo. Sobre seu apartamento, é adorável. Só pareço ser uma garota mimada.
— Preciso tomar um banho e tirar esse cheiro de hospital. Vê se encontra algo que gosta na geladeira. Não demoro — falei voltando para a cozinha e colocando as latas em cima da mesa.
Deixei Eva sozinha e fui para o banheiro. Achei precisar de um banho para colocar meus pensamentos em ordem.
Primeiro de tudo, eu deveria ter deixado Eva ir embora e não arrastá-la para o outro lado da cidade e deixar que ela visse como é minha vida fora do campus.
Saí do banheiro com apenas uma toalha enrolada na minha cintura e segui para o quarto. Quando passei pelo corredor, Eva olhou em minha direção e seu olhar congelou quando me viu usando apenas uma toalha.
Quando ela viu que eu a estava observando, desviou seu olhar e caminhou para a cozinha. Caminhei para o quarto e voltei para encontrá-la após vestir jeans e camiseta.
— Você precisa fazer compras — ela disse quando sentiu minha presença atrás dela.
— Cuidarei disso — falei pegando minha cerveja e tomando um gole.
— Onde está o restante da sua família?
— Só eu e minha mãe.
— Pai?
— Você pergunta demais — falei após tomar mais um gole da cerveja.
— Me desculpe — ela disse baixando o olhar e olhando para suas mãos.
Ela não tinha culpa do que estava acontecendo com minha vida. Eu nem deveria ter contado nada para ela, mas agora era um pouco tarde.
— Estão mortos. Eu tinha uma irmã, Emília. Ambos partiram tem tempo.
— Então só são você e sua mãe.
— Não por muito tempo.
Eva se aproximou e se posicionou na minha frente.
— Quanto tempo ela ainda tem?
— Não sei ao certo, mas não esta muito longe. Eu queria poder fazer mais... Que inferno!
Arremessei a lata contra a parede, espalhando cerveja para todos os lados.
— Luan, você precisa ficar calmo.
— Como pode me pedir isso quando não é sua mãe que está morrendo? Você perdeu o namorado, mas ainda tem sua família. Eu só tenho ela. Quando se for, não terei mais ninguém, estarei sozinho.
Agachei-me, apoiei meus braços sobre minhas pernas e escondi meu rosto. Ficamos naquele silêncio mortal até eu sentir suas mãos tocar meus braços. Levantei meu olhar e me vi perdido ao lhe encarar.
— Não posso imaginar pelo que está passando e queria poder falar que tudo ficará bem, mas não posso — sua voz parecia tão suave.
— Eu sei. Eu só queria poder fazer algo para que o tempo que lhe resta, ela não sinta dor. A luta de ontem poderia ter me rendido um bom dinheiro, o suficiente para mais uma dose.
— De quanto você precisa?
— Agora não importa.
— Quanto? — ela insistiu.
Soltei um longo suspiro.
— Cinco mil. Onde conseguirei esse valor em vinte e quatro horas?
— Posso te emprestar.
— Se eu não aceitei dinheiro dos meus amigos, porque aceitaria o seu?
— Por que não sou sua amiga — ela sorriu.
— Não posso aceitar.
— Porque é orgulhoso demais para aceitar ajuda de uma garota?
— Meu orgulho é o que menos importa agora. Não posso aceitar porque não terei como pagar.
— Você me ouviu exigir data de pagamento?
— De qualquer forma, não posso aceitar, já tenho muito com o que lidar.
Tentei me levantar, mas suas mãos me impediram.
— Sua mãe não pode esperar até você se recuperar e voltar a lutar. O que fará para conseguir o dinheiro? Falar com agiotas? E depois, como irá pagá-los? Deixe-me ajudá-lo.
— Você nem deve ter esse dinheiro.
— Não tenho agora, mas posso conseguir.
O que tinha nessa garota que não eu conseguia parar de me surpreender?
— Não quero que se meta em confusão por minha causa.
— Não vou. Preciso ir agora, ficará bem sozinho?
Sorri com a maneira como ela estava preocupada.
— Vivo boa parte sozinho aqui. Não tem com que se preocupar.
— Volto mais tarde com o dinheiro.
— Eu não disse que aceitei.
— Não sou muito boa em ouvir as pessoas.
— Que engraçado, também não sou bom em ouvir — falei lembrando do meu problema.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Seu amor, meu destino
RomanceEva tinha a vida perfeita; pais amorosos e um namorado que era o "cara para amar pela vida inteira". Até que um segredo descoberto na festa de sua formatura mudou tudo. Seu castelo foi derrubado e o seu "final feliz" tornou-se apenas um sonho distan...