Epílogo

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Luan


— O que é verdadeiro volta?
— Não. O que é verdadeiro permanece.
(Querido John)


Cinco anos se passaram desde aquele dia no hospital, quando toda a verdade veio à tona e Alice foi desmascarada com Léo.

Eva me fez prometer que não iria atrás dele para uma vingança. Prometi que não iria atrás, mas não falei nada que poderia encontrá-lo no ringue.

Fiz Guto e Robson arranjar uma luta entre nós dois e quando me recuperei totalmente, a luta aconteceu, e vocês podem imaginar quem saiu todo quebrado. Cada soco que ele recebeu, deixei bem claro qual era o motivo, jamais se aproximar da Eva novamente.

Alice acabou provando do seu próprio veneno. Engravidou de um novato que acabara de chegar à faculdade, filho de uma família renomada no mercado. Um ano depois do casamento, acabaram falindo e ela acabou sendo abandonada e tendo que voltar para a casa dos pais.

Eva não voltou a se entender com seu pai, e acabou deixando o apartamento e indo morar comigo. Com minhas lutas consegui bancar nossas despesas por um bom tempo, até eu me formar e ser contratado por uma empresa internacional de advocacia.

Precisei morar um ano em Nova Iorque. Foi um período difícil, eu e Eva vivíamos de ponte aérea. A saudade era nossa maior inimiga, até que ela decidiu trancar a faculdade e ir morar comigo. Argumentei, mas ela disse que seria apenas por um ano.

Nesse meio tempo, ela tentou me convencer a realizar uma cirurgia e implantar um aparelho para eu poder ouvir. No início fui contra, não queria usar aparelho, assim todos saberiam do meu problema. Mas com seu jeitinho, ela conseguiu me convencer e mostrou que eu poderia usar um implante dentro do meu ouvido, e ninguém saberia.

Ainda choro ao lembrar-se do dia em que ouvi sua voz pela primeira vez. Parecia o canto de uma sereia. Era tão suave como uma melodia de música clássica.

O silêncio deixou de ser minha morada e eu podia ouvir tudo, desde a sua respiração até o som do seu coração. Meu Deus! Como eu era um cara sortudo por tê-la deixado entrar na minha vida.

Quando completamos dois anos juntos, eu a pedi em casamento. Foi o momento mais lindo e difícil que vivi.

Já morávamos juntos, mas eu sabia que, no fundo, Eva queria o que toda garota quer, casar de véu e grinalda. Mia e Guto foram escolhidos como padrinhos dela, e foi nesse dia que descobriram que estavam apaixonados um pelo outro. Escolhi Robson e Adele e não duvidaria que entre eles também não saísse algo.

O pai de Eva estava na cerimônia. Foi difícil tentar uma reaproximação dos dois depois do que ele havia feito para me afastar dela. Entre nós dois havia uma convivência harmoniosa, até porque ele sabia que eu estava fazendo sua filha feliz.

Estava demorando, mas eles estavam encontrando uma maneira de voltar a ser como era antes. Eu mais do que ninguém, queria que sua felicidade fosse completa e se isso significava esquecer o que seu pai havia feito, eu faria isso por ela.

— Sua família é linda — disse Guto ao meu lado — e essa princesa é tão linda quanto à mãe — ele fez cócegas em Emília e ela gargalhou alto.

— Miguel também é bonito, puxou ao pai.

Olhei para a areia e vi Eva seguindo os passos de Miguel. Descobrimos que seríamos pais quando voltamos da nossa lua de mel. Foi uma grande surpresa, porque Eva ainda estava na faculdade. Tínhamos planos de esperar um pouco para ter filho até ela se firmar no mercado cinematográfico, mas quando ela me acordou com um teste de gravidez, não tivemos como não comemorar.

Na primeira ultra descobrimos serem gêmeos, o susto foi em dobro. Mas as surpresas não pararam por aí, quando descobrimos que seria um casal, fizemos uma festa para anunciar.

No início foi difícil, pais de primeira viagem e ainda por cima gêmeos, tivemos que mudar nossas rotinas. Nos amigos foram de grande ajuda e todos juntos estávamos conseguindo agora voltar à vida normal.

Essa a primeira viagem em família que fazíamos. Estávamos comemorando o primeiro filme dirigido por Eva. Seu projeto guardado desde que decidiu se dedicar à família em primeiro lugar fora aprovado para virar um longa-metragem.

Eva pensou em recusar, porque ficaria muito tempo longe da família, mas eu a convenci que juntos faríamos dar certo. E deu.

Admirava minha esposa enquanto ela ria das caretas que Miguel fazia quando a água batia em seus pés. Ele é a minha cópia, tem meus olhos coloridos, meu temperamento e o meu ciúme. Emília, que recebeu o nome em homenagem a minha irmã, é a Eva mirim. Tem longos cabelos ondulados, a paixão por filmes e é carinhosa com todo mundo.

— Que tal fazer companhia à mamãe e Miguel? — perguntei tirando a atenção de Emília do seu castelo de areia.

Ela sorriu, bateu as mãos para tirar a areia e se levantou. Peguei sua mão e caminhei com ela de encontro aos meus outros amores.

Eva sorriu, e era sempre o melhor sorriso de todos os tempos. Pegou Emília nos braços e me deixou com a missão de correr atrás de Miguel em sua tentativa em vão de andar sozinho na areia.

Quando consegui pegá-lo, voltei para junto das minhas meninas.

— Já te disse o quanto te amo hoje?

Eva colocou a mão debaixo do queixo em sinal de dúvida antes de me beijar.

— Hoje ainda não — disse quando se afastou.

— Eu te amo. E mesmo que eu viva cem anos, jamais serei grato o bastante por você me amar.

— Eu te amo por tudo que fez por mim, por ter me dado uma família maravilhosa.

— Você me deu tudo e vou te amar até o último dia da minha vida.

Minha vida não fora fácil. Sofri nas mãos do meu pai, perdi minha irmã e minha mãe. Mas Deus separou um anjo na Terra que me devolveu a vontade de viver.

Eva e meus filhos eram a razão para acordar diariamente e agradecer por estar vivo. E minha mãe onde quer que estivesse, estava orgulhosa por saber que eu encontrara a felicidade verdadeira.

Eva era meu primeiro e único amor. A única pessoa que me aceitou com todos os problemas que eu tinha.

Ela mudou por mim.

Eu mudei por ela.

E juntos criamos um laço de amizade, amor e compreensão. Só quem tem um amor assim, entenderá o que estou querendo dizer.

Se eu tivesse dez vidas, dez vidas eu viveria com Eva ao meu lado.

Como diria o grande poeta Carlos Drummond de Andrade:

"Amor é dado de graça,

É semeado no vento,

Na cachoeira, no eclipse.

Amor foge a dicionários

E a regulamentos vários"

Seu amor, meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora