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Eva

O passado pode doer, mas você pode fugir dele ou aprender com ele.

(O Rei Leão)

Vi algumas garotas seguindo para o elevador, e como a fila estava pequena, pensei que valeria a pena esperar.

— Eu ainda não acredito que a Alice é a nova garota do Luan — disse uma das garotas que parecia que dormira maquiada - não levei a sério quando ela falou que seria a nova e única a sair com ele.

— Ela disse que seria. Estava de olho a noite toda antes da luta. Ela acredita que foi seu amuleto — disse a outra garota com traços asiáticos - como se Luan precisasse de amuleto para ganhar. Ele não perde uma luta desde que começou.

— Nisso preciso concordar com você, Yumi. Ele nunca precisou de amuleto para vencer — disse a outra garota com cabelos platinados.

— Luan não leva ninguém a sério. Alguém tem que avisar para Alice não sair por aí falando ser sua garota, porque quando ele se cansar, ela será apenas como uma chuva passageira — disse Yumi.

— E qual de vocês falará com ela? Até parece que não conhecem Alice. Desde o primeiro período, ela já deixou bem claro que queria ser o centro das atenções. E ser a garota do Luan é como ter um estádio inteiro lhe iluminando.

Quem seria esse Luan? Pela maneira como elas falavam, deveria ser alguém realmente popular entre as garotas. E a tal da Alice? Era o mesmo nome da garota que por muito tempo foi minha melhor amiga, até ela me trair e em seguida me odiar pela morte de Filipe.

Sobrevivi ao meu primeiro dia de aula e por onde eu passava, o assunto era o mesmo: Luan.

Tentei não prestar muita atenção à conversa, mas segundo o falatório, teria outra luta hoje e noite e depois seguiriam para uma festa de comemoração.

Segui direto para onde havia estacionado meu carro. Quando me aproximei vi uma caminhonete prata, quatro portas, estacionada ao lado do meu carro. Em sua lateral estava escrito "Máscara" e um par de luvas de boxe ao lado.

Destravei as portas, joguei minha mochila no banco do carona, entrei no carro, coloquei o cinto e dirigi para meu apartamento.

Ainda havia caixas para serem esvaziadas, os móveis e utensílios domésticos haviam sido arrumados pela equipe de mudança contratada pelo meu pai.

Larguei minha mochila em cima do sofá, liguei a TV e fui para a cozinha. Fiz arroz com brócolis, uma salada, e para acompanhar, grelhei peito de frango. Sempre gostei de cozinhar, e sempre que podia, fazia questão de aprender um prato novo.

Fui para o meu quarto, me livrei das minhas roupas e tomei um banho rápido.

As cicatrizes nos meus pulsos estavam sempre lá para me lembrar de nunca mais fraquejar. Elas estavam sempre cobertas, não por vergonha, mas para evitar os olhares e comentários curiosos.

Depois do banho, coloquei meu velho pijama, calças de corujinhas e blusa de mangas longas.

Voltei para a cozinha, coloquei meu almoço e fui para a sala. Estava na metade do meu almoço, quando ouvi a campainha tocar. Eu não estava esperando ninguém, até mesmo porque não tivera tempo para fazer amizades.

Coloquei o prato em cima do sofá e segui para a porta. Quando abri a porta, uma garota me encarou com um sorriso maior do que o Coringa.

— Oi! Será que poderia me emprestar uma xícara de açúcar?

Olhei para ela com um olhar desconfiado. Por que ela veio bater direto na minha porta?

— Nossa, que falta de educação, nem me apresentei, me chamo Adele, sua vizinha do apartamento ao lado — disse erguendo sua mão e colocando em minha direção.

Ela estava usando jeans surrado, regata preta e All Star vermelho. Seus cabelos eram longos e lisos, indo até metade da cintura. Um rosto oval, com olhos pequenos.

— Oi! Sou Eva — falei aceitando sua mão — entre, pegarei o açúcar.

Fechei a porta logo em seguida e fui para a cozinha. Ela sentou em um dos bancos da bancada da cozinha e eu fui direto para o armário acima da pia.

— Nossos apartamentos são iguais. Você mora sozinha?

— Sim.

— Eu também. Quando eu namorava ele vinha nos fins de semana. Agora só recebo visita dos amigos. E você, tem namorado?

Meu corpo paralisou no mesmo instante. Não estava preparada para essa pergunta.

— Não — falei pegando o pacote de açúcar e me virando para ela — aqui está.

— Só preciso mesmo de uma xícara, mas obrigada. Sou movida à cafeína. Mas como uma garota linda como você não tem namorado?

— Pois é...

Eu não contaria o motivo, porque falar isso, significaria mexer no passado. Ainda não estava preparada para falar sobre isso ou sobre qualquer assunto que remetesse pelo que havia superado.

— Você não é daqui, é?

— Sou de Curitiba.

— Por que escolheu o Rio?

— Faculdade.

— Eu também, mas não venho de tão longe. Sou de Nova Friburgo. Qual o seu curso?

— Cinema, e o seu?

— Moda.

Não pude deixar de erguer minhas sobrancelhas.

— Eu sei, você deve estar se perguntando como uma pessoa tão sem estilo como eu curso moda — ela riu.

Não pude deixar de rir também.

— Mas se você me der um papel e caneta, desenho uma peça exclusiva. Criar novos modelos é como andar de bicicleta, depois que aprende, fica impossível esquecer.

— Vou me lembrar disso quando precisar de exclusividade. Você produz a peça também?

— Claro, realizo o serviço completo — disse sorrindo — bem, você me salvou, cheguei de viagem hoje louca para tomar um café e quando procurei açúcar, acabara. Não fiz compras antes de viajar porque não sabia quanto tempo ficaria fora. Amanhã te devolvo.

— Não é preciso.

— Deixarei você terminar seu almoço. Se quiser conversar com alguém ou pedir algo, pode bater em minha porta.

Adele deu a volta pelo balcão e me abraçou. No primeiro segundo, foi estranho, Adele era dessas garotas cheia de amor para dar, e eu meio que estava querendo evitar ter um contato assim com alguém.

— É bom conhecer pelos menos um dos meus vizinhos. Até mais.

— Até.

Seu amor, meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora