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Luan

A minha melhor regra é esperarmos o melhor e prepararmos para o pior.
(Ultimato)


Quando acordei, a minha primeira ação foi olhar as mensagens no celular. Com o meu problema de audição, a única forma de ficar atento a qualquer notícia sobre minha mãe era através de mensagens.

"Bom dia Luan, me desculpe por te procurar tão cedo."

Era Ângela, a médica que estava cuidando da minha mãe desde a descoberta de sua doença.

Olhei a hora do envio, seis da manhã. A hora no celular indicava quinze para às sete.

"Tudo bem, tive uma noite difícil e só agora vi sua mensagem."

Ela estava online, mas deveria estar ocupada. Ela não cuidava apenas da minha mãe, e como essa era única maneira de comunicação, eu precisava esperar por sua resposta.

"Entendo que tem sido difícil."

"Para a senhora me mandar mensagem a essa hora, quer dizer que...

"Isabel ainda está conosco."

"Se minha mãe está bem, qual o motivo da mensagem?"

Algo estava errado, ela não me chamaria se o assunto não envolvesse minha mãe.

"Usamos a nova medicação, mas não foi o suficiente. Precisamos de uma dose maior."

"E isso quer dizer que preciso conseguir mais dinheiro."

"Gostaria de dizer que não, mas o plano da sua família não cobre tudo, principalmente os remédios em fase de teste."

"Estou fazendo o meu melhor, mas não está sendo fácil."

"Eu sei Luan. Sei o quanto está dando duro. Você é tão jovem e já carrega tanta responsabilidade."

"Minha mãe foi tudo que restou da minha família. Para quando vocês precisam do dinheiro?"

"O mais rápido possível."

"Porém, quero deixar você ciente que todo o tratamento é apenas para lhe dar um pouco de conforto e diminuir ao máximo as dores. Não há mais nada que possamos fazer."

Soltei um longo suspiro. Os médicos deram apenas alguns meses, mas minha mãe era uma lutadora e estava a quase dois anos lutando bravamente. Será que se não fosse por mim, ela já teria desistido?

"Dê-me dois ou três dias para conseguir o dinheiro."

"Ficarei aguardando seu retorno."

Desliguei o telefone e apoiei minha cabeça sobre minhas mãos. Eu estava tão cansado. Tinha apenas vinte anos e já possuía mais responsabilidade do que podia assumir. E pior de tudo é que não havia com quem dividir.

— Vamos lá cara, não desanime agora, falei.

Tomei um banho rápido. Estava em cima da hora e para minha sorte, hoje eu tinha aula com a Rosana, uma senhora de cinquenta anos e a uma das poucas pessoas que sabiam pelo que eu estava passando.

Foi ela quem ajudou minha mãe quando ela sofria agressão do meu pai. Foi graças a ela também que consegui uma bolsa parcial na faculdade. Ela sabia do meu sonho em fazer direito, e quando me viu sozinho cuidando da minha mãe, abraçou nossa família como a sua.

Seu amor, meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora