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Eva


A única pessoa que eu não posso estar junto é aquela que eu mais queria entregar meu coração.
(A casa do lago)

Ter Luan no meu apartamento só não foi mais estranho do que encontrá-lo em um estacionamento vazio e ainda presenciá-lo surrar uma pessoa até quase a morte. Não estava preparada para ver algo assim tão cedo, ou nunca.

Depois que ele foi embora, demorei quase duas horas para pegar no sono. Jamais imaginei que um dia eu seria salva, e que meu herói fosse a pessoa que venho evitando.

Luan tem o dom de me irritar apenas com seu jeito de agir e de pensar que o mundo gira em torno dele.

Ele é lindo, isso não dá para negar. Seus olhos coloridos são o que mais me deixa hipnotizada, parecem transmitir o que Luan esconde com seu jeito de desprezar todos ao seu redor.

— Ei, desculpa meu sumiço ontem, mas tive que passar o dia com minha família e ainda trabalhar a noite. E pode constatar pela minha cara que estou desesperadamente precisando de um café — disse Mia quando me encontrou saindo do meu carro.

Ela estava com olheiras profundas, fora que seus cabelos estavam presos, como se ela tivesse perdido o horário e só dera tempo de colocar a roupa.

— Então cuidaremos disso.

Peguei minha mochila, travei as portas e segui com Mia para a lanchonete. Não pude deixar de perceber que o carro de Luan não estava na sua vaga.

— Tem notícias da Adele?

— Nenhuma. Fui ao cinema ontem, quando cheguei em casa com o Luan, estava um pouco tarde para bater em sua porta.

Mia parou e puxou meu braço, me fazendo ficar de frente para ela.

— Porque Luan foi ao seu apartamento?

— Uma longa história, mas resumindo, ele me salvou de um maluco que me atacou e me levou em casa porque entrei em choque.

— Você sofreu um ataque e Luan te salvou?

— É.

— Ele tentou algo com você?

Olhei para Mia para ter certeza de que ela estava falando sério.

— Não Mia, o perigoso Luan não tentou nada. Limpei seus ferimentos e depois ele foi embora. Fim de história.

— Que ferimentos?

Soltei um longo suspiro e continuei a andar.

— Para poder me salvar, ele teve que trocar alguns socos com meu agressor. Agora vamos pegar seu café, você não disse estar precisando?

— Não pense que escapará dessa conversa mais tarde.

Estávamos seguindo pelo corredor quando vi alguém que eu esperava nunca mais ver em minha vida. Seus cabelos estavam um tom mais escuro, a maquiagem estava mais leve, mas tinha algo que era sua marca e que nunca mudou, o seu batom vermelho.

— Eva, você está bem?

A voz de Mia me tirou do meu transe e então encarei minha amiga.

— Esqueci algo no carro. Porque você vai na frente — falei me apressando em sair antes que ela me visse.

— Você vai se atrasar. Não pode pegar depois da aula?

— Não. É algo para a aula.

Quando me virei, bati de frente com Guto.

— Ora, ora, se não é a garota que recusou minha bebida na noite passada.

— Com licença, estou com um pouco de pressa.

Passei por ele e me choquei com outra pessoa.

— A sala de aula é na outra direção — reconheci logo que era Luan

— É, eu sei, mas esqueci uma coisa no carro e preciso pegar. Preciso correr.

— Então você está aí. Cheguei de viagem, fui ao seu apartamento e você não estava — era a voz de Alice.

Ouvi pelo barulho dos saltos que ela estava se aproximando.

— Porque não atendeu minhas ligações?

Ela passou por mim e passou os braços pelo pescoço de Luan.

— Pare com isso Alice, sabe que odeio demonstração pública.

— Mas todos já sabem que estamos juntos — ela se defendeu.

— E pensa que andarei de mãos dadas com você pelos corredores?

Luan tirou as mãos de seu pescoço, deixando Alice sem ação. Ela ajeitou o cabelo e depois percebeu a minha presença.

— Eva?

Parecia que eu voltara ao passado. Minha amiga de infância estava na minha frente, mas agora era uma pessoa completamente diferente.

— Oi Alice — falei assim que consegui.

— Não esperava te encontrar aqui depois do que aconteceu.

— Todos temos que voltar um dia.

— De todas as faculdades, caímos exatamente aqui.

— É o que parece.

— De onde vocês se conhecem?

Por um momento, esqueci que Luan estava atrás de Alice encarando nós duas com um ponto de interrogação em seu rosto.

— Nos conhecemos há muito tempo — Alice falou me analisando.

— Então são amigas? — ele perguntou agora olhando em minha direção.

— Não mais — Alice respondeu na minha frente.

Alice tinha tanta raiva em suas palavras, quanto no dia do enterro de Filipe.

Mia chegou ao meu lado e segurou minha mão. Se não fosse isso, eu teria caído ali mesmo.

— Você está bem? — perguntou Luan empurrando Alice para o lado.

— É claro que ela está bem. Eva nunca se abate, nunca sofre. Não compre essa carinha angelical que ela vende, você pode acabar como o ex-namorado dela.

Meu sangue pareceu desaparecer do meu rosto.

Alice revelaria na frente de todos o meu segredo. Eu não aguentaria ver o julgamento deles. Minha vida estava boa demais para ser verdade. Jamais pensei que voltaria a encontrar Alice aqui, a chance era remota. Havia escolhido outra Faculdade para afastar qualquer lembrança do passado. Pelo visto, Alice tivera a mesma ideia.

— Você não tem o direito de me acusar. Não aqui.

— As coisas mudaram um pouco desde nosso último encontro. Deveria dar uma olhada no grupo que a nossa turma da escola criou... Ops! Você ficou de fora e sabe por quê? — perguntou Alice debochando.

Eu estava ficando sufocada. Parecia que as paredes estavam se movimentando e retirando todo o ar dos meus pulmões.

Olhei para Luan que não estava entendendo nada, depois para Mia que estava perdida na discussão e sem conseguir ficar mais no ambiente, empurrei Alice para o lado e fugi.

Nem parei para ouvir quando Mia começou a gritar pelo meu nome.

— Eva, espera...

— Eu preciso ir, por favor, me deixe...

— Você não parece bem. Deixa-me ir com você.

— Ficarei bem. Eu juro. Só preciso ir.

— Ok, tudo bem, mas se precisar, me liga.

Sorri para Mia e corri para o conforto do meu carro. Eu só tinha que sair e tudo ficaria bem.

Seu amor, meu destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora