35. Black Holes & Expectations

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Depois de tantas horas, a paisagem não havia mudado. Atrás deles, o mundo se dissolvia em máquinas e fios, uma visão modernista da vida. O som dos motores quase sobrepôs a voz de Louis quando ele finalmente resolveu quebrar o silêncio após a batalha, quando as paredes de metal continuavam intactas e inabaláveis.

— E então, Harry?

— E então o que?

— Vai, — Louis arrasta as palavras de modo impaciente. — você sabe do que eu to falando.

Harry arqueia uma sobrancelha de modo desafiador, olhando de relance para o homem mais velho. Toda conversa que começa assim é suspeita. É melhor ele ficar de olho.

— Sei, é?

— Aham. Do meu beijinho de agradecimento. — O outro dá um sorriso amarelo e com todos os dentes.

— Argh! — Ele chia. — Você é tão estúpido. Não sei porque te mantenho por perto.

— Porque você me ama, é claro. — Cantarola ele, como uma criança.

— É... — Ele divaga, pausando para respirar fundo. Sem pensar muito fundo sobre sua decisão, continua falando. — Você está certo.

Louis para de andar, sem saber se havia escutado aquilo direito. Sem mais nem menos, Harry havia admitido derrota?

— Harry?

— Não. Você tá certo. — Ele torna a repetir.

— Eu não to te entendendo.

Para ser sincero, o Paladino também não entende muito bem o que se passa. Mas há algo o dizendo para continuar, como uma voz bem dentro de seu coração dizendo que o certo a se fazer era simplesmente deixar tudo ir. Os sentimentos de orgulho, tristeza, raiva... todos eles, todos.

Talvez a batalha com os Archfriends tenha mudado uma coisa ou duas na sua cabeça. Além das dores corporais e de algumas cicatrizes que agora habitavam em seu corpo, contando histórias que ele rezava para esquecer, ele havia levado ao pé da letra o que Rubicante havia dito.

"Juntos somos mais fortes."

Aquela realmente era a mais pura verdade — e óbvio, também. Bastante óbvio. Tão óbvio que Harry quer dar uns tapinhas em sua cabeça por ser tão idiota e não ter percebido aquilo antes. E também, não esquecendo de outro fator importante, haviam as ações de Louis e as palavras sábias de Niall.

Tudo bem. Recapitulando o que ele havia dito várias vezes, tantas que ele não conseguia sequer lembrar qual era a frequência de tal, a verdade não podia ser ignorada: Louis havia, sim, mentido. É, o.k. Uma mentira, uma calúnia. Mas a coisa era que ele não havia matado algo além de monstros — tal ação não havia tido reação, para ser justo, então basicamente as consequências da mesma estavam perto de zero.

Mas no final do dia, Harry também sabe que omitir a verdade é, absolutamente e sem dúvida nenhuma, algo que não deve ser feito. Mas haviam coisas piores, coisas que, por exemplo, Zemus, Golbez e até mesmo Zayn haviam feito, por mais que nem todos da lista estivessem em sã consciência. Naquela situação que estavam, e perante as consequências apresentadas, ele podia facilmente concluir que haviam coisas mais importantes e cruéis que aquela. Haviam coisas mais sérias, como o mundo ser destruído ou morrer, do que simplesmente se rebelar contra a todos seus amigos como num drama adolescente.

É isso. Harry tem sua resposta agora.

— Não quero soar dramático. E sei que isso tá vindo do nada. Mas é verdade, tem coisas que a gente não pode lutar contra. — Ele dá de ombros, como se aquilo não importasse muito. — Você mentiu. Me enganou. — Frisa. — E foi sobre uma coisa importante. Eu entendo que não foi nas piores das intenções, mas mesmo assim aconteceu. As coisas são o que são, sabe? E mesmo assim, aqui estou eu, não conseguindo me manter longe de você. Engraçado como as coisas são, né? A gente tenta fugir das coisas para no final sentir falta delas.

Guided Forth Anew • {l.s} [pt/br]Onde histórias criam vida. Descubra agora