Já é de madrugada, e, sentado sobre a sua cama, Harry não consegue dormir: há muitas coisas passando pela sua cabeça de uma vez só. O barulho das brasas na lareira, antes relaxante, agora é perturbador, como todos os seus pesadelos.
Ele olha pela janela. É noite de lua cheia, e, enquanto olha para a face brilhante da mesma, começa a falar sozinho, pensando que, se o fizesse, acabaria recebendo as respostas para as suas incontáveis perguntas.
— Sua Majestade... no que você se tornou? Onde está o cavaleiro nobre que me pegou da rua e me criou como seu próprio filho? — Ele abaixa a sua cabeça, trazendo os joelhos para perto do corpo como uma criança desolada pela morte de algo muito maior do que ele conseguiria entender.
— Será que um Cristal vale tudo isso? — Ele murmura. — Que necessidade poderia ser tão grande? Roubar de pessoas inocentes o que é delas por direito?
Ordens do Rei ou não... Não há perdão para o que nós fizemos, ele conclui.
O som de um clicar de botas contra o chão ressona pelo quarto, fazendo Harry levantar a cabeça e procurar pela origem do mesmo.
— Harry. — O som de passos finalmente se cessa. — Você não quer me contar o que aconteceu?
Ferrou: a voz pertence a Louis, e Harry simplesmente não consegue mentir para Louis.
— Primeiro te mandam para Msydia, e depois, para caçar uma besta de um dia para o outro?
— Oi para você também. — O homem de olhos verdes comenta, irônico. — E não, nada aconteceu. — Ele sacode a cabeça, dispensando qualquer tentativa de conversa vinda de seu namorado: só queria ficar sozinho, enrolado em seus cobertores.
— Então por que você não olha para mim?
Harry continua calado; definitivamente não sabia mentir.
— Sabe, Harry? Tem momentos que eu acho que você é diferente das outras pessoas desse castelo. — Louis afasta a sua franja de seus olhos. — As vezes, só por um segundo, consigo me fazer acreditar que você realmente não se importa com o fato de eu ser um mago de magia branca. Como se você visse o que há por dentro, sabe? Eu também sou um arqueiro, e eu acho que você é a unica pessoa que enxerga isso.
— Mas aí... também tem esses momentos. Os momentos onde você escolhe esconder as coisas que acontecem de mim por medo de eu ficar muito abalado. Mas a coisa é que nós crescemos. Droga, Harry, eu não sou mais um menininho. Eu consigo aguentar uma bomba ou duas, entendeu?
— É muito complicado...
— Anda. Logo. — Louis diz pausadamente, enfatizando seu pedido.
— É que... eu, em Mysidia – quer dizer, nós... nós roubamos um Cristal de pessoas que não tinham feito nada de errado. Elas só estavam vivendo as suas próprias vidas... — Ele abaixa a cabeça mais uma vez, com vergonha de si mesmo. O que Louis pensaria deles depois de tudo isso? Já bastava ele ser um Mago de Magia Branca e namorar um Cavaleiro Negro, e agora, isso... Pelos Cristais! — Eu sinto que tenho usado essa armadura escura por tanto tempo que não há mais um pingo de luz em mim. Nem mesmo... no meu coração.
Louis sorri minimamente, tombando a cabeça para o lado em adoração e se perguntando como pôde ter um namorado com um coração tão bom quanto o de Harry.
— Você é um bom homem, Harry.
— Não, eu não sou. — Os olhos verdes do homem já estavam vermelhos ao que ele finalmente os levanta para se encontrar com o semblante calmo do outro. Louis trajava uma roupa que não era nem tão formal nem muito casual, um casaco de um tecido escuro e com detalhes bonitos por entre toda a sua extensão. Simplesmente estonteante. — Eu sou um covarde. Um covarde que não sabe negar ordens que ele sabe que não deve seguir!
É isso. Louis não vai mais conseguir escutar essas coisas e continuar calmo, seja tanto por fora tanto por dentro.
— Você cala a porra da sua boca! — Ele berra num ímpeto de raiva e indignação. — Harry da Red Wings pode ser várias coisas, menos um covarde. O Rei te mandou matar aquele Eidolon, e eu juro, se alguma coisa acontecer com você... — O homem de cabelos castanhos fecha um de seus punhos, já tremendo de raiva. Não estava sendo eufêmico: iria até o fim do mundo caçar a pessoa que fizesse mal ao seu Harry.
— Ei, ei... — Harry sussurra, sacudindo a cabeça em negação. A última coisa que queria era que Louis ficasse preocupado, e bem, olhe onde eles estavam agora. — Zayn vai estar comigo. — Ele se levanta, colocando a mão no ombro do namorado e dando um pequeno beijo em sua testa, em um ato reconfortante. — Não há nada para se preocupar.
— Só... — O garoto de olhos azuis solta um suspiro alto. — tenha cuidado, por favor.
Louis sorri de novo, se pondo a descer as escadas da torre, e enquanto as bordas de seu casaco de lã balançam contra o ar, Harry se pergunta se aquela será a última vez que ele o virá faze–lo.
— Obrigada por tentar ajudar, Louis. — Ele diz para o silêncio assustador do quarto, uma vez que já estava sozinho novamente. — Mas eu sei no que foi que me tornei.
X
Já de manhã, Zayn e Harry se encontram no corredor principal do castelo. Dá para sentir o nervosismo dos dois misturado no ar com o cheiro de café: eles ainda nem haviam pisado do lado de fora do castelo, mas já queriam voltar.
Os passos de Zayn são curtos e calmos quando ele se dirige a Harry:
— Vamos então?
Não há hesitação em sua voz. Isso faz com que Harry fique mais calmo, afinal, Zayn está confiante sobre que os espera portões a fora. Vai dar tudo certo, vai dar tudo certo, ele repete em sua mente.
— Eu estarei contando com você, meu amigo.
— Então você não tem nada a temer. — Zayn firma sua lança no chão, e o clique contra o mesmo ressoa pelo corredor. Harry cobre a sua cabeça com o capacete da armadura, e pronto: eles estão preparados para ir.
Os portões se abrem, com a luz de um novo amanhecer abraçando o corpo dos dois. Eles marcham por toda a saída, e o sorriso de lado de Zayn não sai do rosto do mesmo por um minuto sequer: ele sabia que ficaria bem.
X
"E então o Cavaleiro Negro Harry, recém tirado do comando das Red Wings, começa a sua jornada para Mist.
Junto de Zayn, comandante dos Dragoons, ele iria vencer um grande desafio – e buscar uma chance de redenção.
A chegada dos dirigíveis marcou a realização de um dos sonhos mais antigos da humanidade. Mas o homem é uma criatura que raramente está satisfeita, e ele foi rápido a sonhar cada vez mais e mais.
Com o poder inigualável dos dirigíveis, o Reino de Baron rapidamente se tornou supremo. Então, por que agora o Rei busca pelos cristais?
E por que de repente monstros horríveis começaram a invadir uma Terra que foi uma vez pacífica?
Se os cristais sabem a resposta, eles não a compartilham – somente emitem as suas puras e silenciosas luzes."
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Guided Forth Anew • {l.s} [pt/br]
FantasiNo Planeta Azul, Quatro Cristais elementais controlam o equilíbrio do mundo, trazendo força e poder para aqueles que os possuem. Entretanto, nem tudo são flores: uma vez que você se entrega a escuridão, ela promete nunca mais deixar a sua mente. Com...