Capítulo 4

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A parte chata disso é não poder tomar banho sozinha, ter sempre que ser ajudada por alguma enfermeira, quer dizer, a mais chata ainda é a sonda que tenho que usar, pois não tenho mais controle sobre a minha bexiga, mas Kate, a enfermeira de olhos verdes, fala que como já comecei a fazer fisioterapia, talvez isso melhore e muito, confesso que fiquei mais estimulada a fazer, com essa esperança.

Já faz alguns dias que Christian voltou para Seattle, ele me liga todos os dias, conversamos alguns minutos, ele é um cara legal, bem parecido com o pai, me pergunto se ele não tem uma namorada e se ela não está chateada em ele dar tanta atenção a uma pirralha de olhos azuis como ele disse, sorrio ao me lembrar disso.

De manhã faço algumas horas de fisioterapia com o pessoal do hospital, com Daniele, fisioterapeuta, além de ocupar um pouco minha mente e não me sentir desocupada, ela trabalha na área para fortalecimento da minha pélvis, me sinto mais forte e melhor, com isso. Depois o resto do dia fico navegando na Net.

Conversei com algumas amigas do Balé, elas se mostraram bem tristes com o que aconteceu comigo, mas vi que elas trataram do assunto com cuidado, talvez para não me machucar.

Às vezes fico chateada, queria tanto poder ser normal de novo, fazer coisas simples como ir ao banheiro, sem precisar de alguém, poder me levantar dessa cama e ir olhar a janela, apreciar os jardins que circundam o hospital, sem ajuda de alguma enfermeira, suspiro ao pensar que se minha mãe estivesse aqui seria tudo mais fácil, ela teria mais cuidado comigo, me daria carinho e colo nessas horas que tudo parece tão triste.

E hoje, especialmente a dor veio mais forte, seria aniversário dela.

Acordei pensando nisso, mas afastei esse pensamento e fiz isso o dia todo, mas agora à noite, o hospital em silêncio, Kate já foi embora, estou sozinha no meu quarto, encarando a tela do Notebook, olhando para uma foto dela, que consegui através de uma amiga, ela não queria me passar, mas implorei, até que ela me mandou.

Passo meus dedos sobre a foto e uma saudade enorme grita no meu coração. Lembro de todos os seus aniversários, onde sempre fazia questão de comemora-lo, isso dói.

Deixo minhas lágrimas rolarem, preciso disso, me controlei o dia todo, mas agora não consigo.

Queria estar com ela, receber um beijo, um carinho, até as broncas seriam bem vindas nessa hora.

O som de uma chamada de vídeo me tira desse torpor, automaticamente a aceito, sem ver quem é:

- Ana.- a voz de Christian me chama, abro a janela e olho para seus olhos cinzas, que se arregalam ao me ver chorando.- o que houve? Está com dor?- ele parece preocupado, nesse momento queria que ele estivesse aqui para me abraçar.

- Não, - não sei nem como explicar sem parecer idiota, mas a dor é grande, não consigo segurar as lágrimas.- era aniversário de minha mãe hoje.

- Sinto muito.- ele parece tocado, também.

- Só queria que ela estivesse aqui, para dar-lhe um abraço, um beijo, isso dói tanto, Christian. - Ele me encara com aqueles olhos cinza, meu Deus será que algum dia vou olhar para eles e não me lembrar de Carrick? Seu olhar está triste agora, percebo que ele também sofre.- desculpa, estou sendo egoísta.

- Não Ana, você está sendo humana.- apesar disso, sinto tristeza em sua voz.- nós somos humanos, sofrer faz parte da cura.

- Ele te amava muito.

- Eu sei, apesar da distância, de nos vermos pouco, éramos bem unidos, e tenho boas recordações dele, da época em que ele ainda era casado com minha mãe. – vejo uma lágrima descer dos olhos dele, queria estar lá para seca-la.

50 Tons - Depois de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora