14 - Você mora por aqui?

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O resto daquela manhã e o início da tarde foram tomados por Angela e Jéssica fazendo perguntas sobre os detalhes mais sórdidos do que aconteceu entre mim e Benício, na noite anterior.

- Pelo amor de Deus, até parece que vocês não sabem de tudo. Vocês fazem a mesma coisa todos os dias. - Falei, desanimada.

- Mas nenhum cliente ficou na minha cama até o dia seguinte. - Angela falou.

- Principalmente um cliente como Benício Bocchi. - Jéssica completou.

- Ele devia estar cansado.

- Qual é, Lís. Um homem não dorme na cama de uma puta, a não ser que esteja bastante confortável.

- Jéssica, se ele estava confortável ou não, eu não sei. Mas não deve ter sido a primeira vez que ele faz isso.

- Bom, - começou Angela - pelo menos aqui ele nunca fez isso. Com nenhuma de nós.

Senti-me subitamente de bom humor, o que tentei não relacionar ao fato de saber agora que estava, de certo modo, em um patamar diferente das outras dezenas de mulheres daquela casa.

Mesmo animada, tentei mudar de assunto. Precisava ficar sozinha.

- Bem, eu vou dar uma volta. É sábado, nada de clientes pra me azucrinarem. Vou aproveitar a paisagem.

- Mas ainda está chovendo.

- Ótimo. Menos pessoas na rua pra ficarem olhando pra mim.

Às cinco, eu já saía da Casa de Tanya com minha bolsa-mochila no ombro que guardava meu livro e um dicionário, vestindo um casaco vermelho desbotado, calças jeans skinny e um par de tênis velhos.

Eu não tinha guarda-chuva, mas não precisava. Estava chuviscando, e as pequenas e finas gotas não me incomodavam. Ao contrário, eram bastante agradáveis. Constatei que as nuvens estavam pesadas e os trovões estavam cada vez mais freqüentes, então corri, para não pegar o dilúvio que eu sabia que viria.

Puxei o capuz do casaco para cobrir a cabeça e caminhei até o ponto de ônibus. Queria ir ao parque do outro lado do bairro, respirar novos ares.

Assim que cheguei, corri para uma das muitas mesas redondas de madeira cobertas por telhas vermelhas. Como não ventava, consegui me proteger da chuva ali.

Era um lugar calmo, e obviamente, estava vazio. Pelo pouco das ruas e casas que consegui analisar, pude constatar que era um bairro de pessoas, no mínimo, bastante ricas.

Tirei meu livro da bolsa, juntamente com o dicionário e uma caneta, colocando tudo em cima da mesa e sentando em um dos quatro tocos de madeira que serviam como banco. Graças a Benício, tive que procurar por algum tempo a página na qual havia parado a leitura, até encontrá-la. Sentindo o cheiro e ouvindo o barulho da chuva, consegui relaxar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali. Tudo parecia tão calmo e fácil. O lugar era lindo, a grama era bem aparada, de um verde vivo. As gotas, agora mais grossas e em maior quantidade, caíam pesadamente na superfície do enorme lago que ficava no centro do parque. Aquela atmosfera me contagiava, e, naquele momento, aquele lugar era o melhor lugar do mundo para se estar.

Vi, através da espessa cortina de chuva, alguém correndo, se abrigando em uma das mesas cobertas que ficava do outro lado do parque. Sorri, sem nenhum motivo. O homem, como pude constatar agora, depois de alguma análise, retirava seu casaco de couro e balançava seus cabelos molhados como um cachorro que acaba de sair do banho.

Voltei meu olhar para meu livro, retomando a leitura. Poucos minutos depois, meu celular emitiu um som fraco e moribundo, me avisando que a bateria tinha se esgotado.

De Repente, Amor ❲✓❳Onde histórias criam vida. Descubra agora