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- Se minhas filhas entrarem em depressão por sua causa, eu vou até a Inglaterra te matar.
Aquela era Duda chorando. Era assustador, e não porque eu não entendesse o que ela sentia, mas sim porque ela sempre me pareceu forte demais para conseguir derramar uma única lágrima.
Mas seu tom de ameaça ainda me dava medo.
- Vocês podem ir nos visitar quando quiserem. - Benício falou, tentando se defender.
- E nas mãos de quem eu deixo a sua empresa, seu idiota?
- Só por uns dias. Se algo der errado, pode pôr a culpa em mim.
Ela fungou, enxugando o rosto. Não conseguia deixar de encarar seus olhos incrivelmente vermelhos.
- Tudo pronto, senhor. Quando quiser. - Arthur chegou, falando um pouco alto por causa do vento forte. Me perguntei se aquele seria o clima padrão de todas as nossas viagens.
- Ok então. - Benício disse, se virando para Duda e a abraçando.
Os dois ficaram ali por um longo tempo. Ele poderia estar falando algo no ouvido dela, mas eu não saberia dizer por causa do ruído do vendaval. Ambos ficaram muito quietos, e me perguntei se no momento em que se afastassem, eu conseguiria ver Benício emocionado.
Bem, quase. Quando encarei seu rosto, vi que ele não chorava, mas a tristeza em sua expressão era evidente.
Quando me virei para ela, fui tomada pelo seu abraço surpreendentemente forte, embora não fosse desconfortável. Imaginei em quanto tempo Benício se colocaria entre nós e daria um escândalo sobre a distância mínima entre alguém e a minha barriga, e a força que poderia ou não ser empregada ali.
Mas ele não se manifestou.
- Gostaria de ter te conhecido melhor. - Ela começou, me olhando - Desculpe se algumas vezes pareci fria. Eu só me preocupo demais. Mas sei que você vai fazê-lo feliz.
Encarei-a tentando lidar com o nó doloroso na garganta. Ela ainda tinha aquele olhar forte e aquela aura de poder, mas não me senti intimidada. Aquelas últimas semanas haviam me ajudado a superar um pouco disso.
- Eu também gostaria que tivéssemos nos conhecido melhor. E não seu preocupe quanto à felicidade dele. Se depender só de mim, ela está garantida.
- Sei disso. - Ela disse, segurando minhas mãos - A parte boa é que eu acho que realmente só depende de você.
Sorri, sabendo que aquilo era um pequeno exagero. Mas, para variar, seus olhos me diziam o contrário.
- Cuide-se. E tenha paciência com ele. Benício é meio exagerado, mas é porque é completamente apaixonado por vocês. - Ela finalizou, apontando para minha barriga.
- Vou ter. - Falei, dando um beijo em seu rosto e caminhando para o lado dele, que já me esperava ao lado das portas abertas do seu avião particular.
A despedida foi dolorosa. Benício tentava esconder, mas era perceptível a quantidade de vezes que ele engolia para não deixar as lágrimas caírem. Embora eu soubesse que ele era durão, sabia também que estava se separando da sua melhor (e talvez única) amiga. Muitas pessoas conseguiam lidar com isso, e ele era, de certa forma, um desses casos. Mas eu o conhecia bem demais para saber que aquela despedida estava o corroendo por dentro. Mesmo que ele se deixasse corroer em silêncio.
Subitamente, me senti triste.
- Você queria ir?
Ele tirou os olhos da pequena janela que dava para a pista, do lado de fora, e olhou para mim surpreso, provavelmente se perguntando do que eu falava.
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De Repente, Amor ❲✓❳
RomanceBenício é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Laralís é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como havia de ser, o...