126 - Nono mês;

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Benício

Quando entramos na 36ª semana de gestação, foi a minha vez de começar a me sentir realmente nervoso.

O Dr. Lewis havia calculado que a data estimada para nossa filha resolver nascer estava entre 10 e 18 de setembro. Nesse meio tempo, teríamos o aniversário de Laralís, e me senti um pouco triste por não poder dar completa atenção a esse evento, prometendo-a uma festa maravilhosa assim que a poeira abaixasse.

Ela não parecia estar triste de forma alguma, mas estava se sentindo mais ansiosa e sensível do que nunca. Nossa filha agora se mexia com tanta frequência que parecia estar deixando-a um pouco impaciente.

- Ela quer sair...

Olhei-a espantado, perguntando em silêncio o que ela queria dizer com aquilo.

- Não. Não temos que ir pro hospital. Só estou dizendo que ela não pára quieta.

Suspirei aliviado.

- Por que não deita um pouco? Vê tv ou lê um livro? Ela deve se acalmar...

- Não adianta. Eu já tentei. Acho que ela está nervosa porque eu estou ansiosa.

Toquei sua barriga e senti um chute potente saído de lá de dentro.

- É... - Concluí distraído - Acho que ela quer sair...

O obstetra havia nos aconselhado a não mantermos relações sexuais naquele período, já que qualquer estímulo poderia acelerar o processo do parto. Tive que me controlar todas as noites daquele último mês, desejando-a da mesma forma de sempre mas proibido de tocá-la. Pelo menos da forma convencional. Aquilo provavelmente havia sido a coisa mais difícil que eu tinha feito na vida inteira, e tornava-se pior porque a libido dela havia diminuído consideravelmente nessa etapa da gestação. O que significava que eu estava não só sem sexo, como também sem "preliminares".

Mas tudo bem. Era por um bem maior. Depois que a nossa filha nascesse, eu tiraria o atraso.

Passei a ocupar meu tempo ocioso tocando piano, mesmo na ausência de Laralís. Ou eu fugia um pouco dela para tentar me controlar, ou a atacava. Além do mais, música havia sempre me dado mais equilíbrio. Tocar Chopim ou Bach ajudava a me acalmar, fosse pela ansiedade da chegada da minha filha ou pela vontade de atacar minha mulher.

- Não, continua!

Me virei de uma vez com o susto, quase caindo do banco. Eu estava tocando há aproximadamente duas horas seguidas, e achava que já era hora de parar. Mas me assustei ao ouvir a voz dela atrás de mim, como um fantasma.

- Desculpa. Não quis te assustar. - Ela falou, um pouco tímida.

- Tudo bem... - Comecei, já recuperado - Há quanto tempo está aí me assistindo?

- Não muito.

Laralís puxou uma cadeira até o meu lado e se sentou, suspirando audivelmente.

- Ela ainda está se mexendo muito? - Perguntei, levando uma das mãos até sua barriga.

- Agora está. É por isso que eu queria que você continuasse.

Encarei-a com curiosidade, não entendendo direito o que eu tinha a ver com aquilo.

- Ela se acalma quando você toca. Principalmente essa última música.

A barriga chutava descontroladamente, deixando clara sua inquietação. Eu me perguntava se Laralís não estava sentindo dor.

- Pode tocar? - Ela insistiu.

- Claro...

Abri outra vez o caderno de partituras, procurando pela música em questão. Quando a encontrei, comecei a tocar de forma mecânica a melodia pautada.

De Repente, Amor ❲✓❳Onde histórias criam vida. Descubra agora