106 - Certezas;

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...

Era estranho como meu corpo não sentia a falta de descanso. Eu não tinha dormido bem, já que a noite havia sido recheada de pensamentos sobre o meu casamento e o quão irreal aquilo parecia ser. Por isso, era de se esperar que eu acordasse tarde - no mínimo, depois de Benício.

Mas lá estava eu, com os olhos arregalados às 6:15h da manhã, encarando sua expressão tranquila e hipnotizada pelo movimento do seu peito de inspirar e expirar. O tapete embaixo de nós dois era tão fofo e confortável que eu poderia passar horas naquela mesma posição, fazendo exatamente aquilo.

Entretanto, eu tinha um plano. E era preciso pô-lo em prática. Por isso, me levantei de uma vez e procurei durante algum tempo pela caixinha e pela minha aliança antiga. Achei-os jogados de qualquer maneira em um canto do tapete e os peguei, caminhando devagar para fora, tentando não acordar Benício.

Subi e tomei um banho quente, me vestindo com uma roupa casual e voltando para o andar de baixo. Tirei a nova aliança do dedo e a depositei outra vez dentro da caixinha, deixando-a em cima da mesa do escritório e vestindo o anel antigo. Rumei para a cozinha e preparei qualquer coisa de café da manhã. Depois esperei, um tanto animada comigo mesma, imaginando como meu plano se sairia. Quando ouvi seus passos pesados subindo as escadas, comecei a me preparar.

Talvez aquilo fosse ser difícil para ele. Mas Benício tinha que entender. Precisava ser feito.

Algum tempo depois, quando os mesmos passos pesados desceram as escadas e foram direto para a sala de estar outra vez, esperei um minuto e fui de encontro a ele. Quando entrei, encontrei-o tentando estender da forma certa a manta sobre o sofá. Seus olhos estavam um pouco fechados, talvez da ressaca, e seu nariz estava inchado, embora não parecesse quebrado.

Quando Benício olhou para mim, sorriu de forma instintiva, e eu tive que fazer muita força para não retribuir o sorriso e me agarrar a ele como um urso panda. No segundo seguinte, seus olhos deslizaram para minha mão esquerda, e vendo que ali se encontrava a aliança antiga, seu sorriso sumiu completamente, dando lugar a um ar de confusão.

Aquela era a hora de não me deixar levar pela cara de cachorrinho abandonado que Benício sabia fazer tão bem. Era a hora de dar seguimento ao meu plano.

- Bom dia. - Comecei, empregando um tom de naturalidade na voz - Como está o seu nariz?

Ele continuou me encarando com uma expressão de completa confusão. Ficou um tempo na mesma posição, e ao constatar que não chegaria à conclusão nenhuma, fossem quais fosses seus pensamentos, ele coçou a cabeça e fechou os olhos com força, tentando se situar outra vez.

- O que aconteceu ontem? - Benício perguntou com uma voz rouca.

- Nós transamos nesse tapete. - Apontei para o lugar em que ele estava pisando.

- Antes disso...

- Antes disso você arrebentou o nariz na bancada da cozinha e quase me matou de susto.

- Desculpa. Não queria te deixar preocupada... Meu nariz está bom... - Ele falou, parecendo um pouco desconfortável - Mas... Depois disso...

Olhei-o de maneira confiante.

- Depois disso... Nós transamos nesse tapete.

Benício ficou mudo mais uma vez, com o olhar desfocado, claramente tentando se lembrar da ordem dos fatos. Conforme os segundos passavam, sua expressão ficava sempre mais triste, e então tive a certeza de que ele estava pensando exatamente o que eu queria que pensasse: Que o pedido de casamento não havia passado de um sonho. E não passando de um sonho, Benício não tinha a minha resposta. E não tendo a minha resposta, ele teria que fazer o pedido outra vez.

De Repente, Amor ❲✓❳Onde histórias criam vida. Descubra agora