116 - A cerimônia;

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...

Benício se virou para frente ainda me encarando, e de repente notei que tinha mais alguém ali perto. O homem de meia idade, separado de nós por uma pequena mesa de vidro, sorria de maneira simpática, e quando simplesmente começou a falar em voz alta, notei que ele seria a pessoa a realizar o casamento.

Ele falou um monte de coisas, e eu desejava poder prestar atenção nelas. Benício permanecia ali, esquentando o lado direito do meu corpo, e me perguntei se ele estaria ouvindo uma palavra que fosse. Não sei se tudo não passou de uma impressão, mas a cerimônia pareceu muito rápida. Talvez porque alguém tivesse mesmo pedido isso, alegando que toda aquela expectativa até o "aceito" provavelmente não faria muito bem aos nervos de uma gestante. Entretanto, o tempo pareceu se alongar - ou melhor, parar - em determinado momento.

- Se alguém for contra esse matrimônio, que se manifeste e exponha os motivos.

Minha respiração ficou suspensa por alguns segundos, esperando e rezando para que aquele tenebroso silêncio passasse logo.

Eu sempre achei que essa parte do "fale agora ou se cale para sempre" não se usava mais. Aparentemente, tudo o que fizeram se resumiu a mudar um pouco as palavras, mas manter aquele momento angustiante presente.

Talvez eu estivesse paranóica, mas não pude evitar que minha imaginação fértil trabalhasse: Um homem chamando a atenção dos convidados, gritando a plenos pulmões que eu não poderia entrar para aquela família porque meu passado era sujo demais. Lauren, surgindo ao longe e dizendo para quem quisesse ouvir que estava esperando um filho do meu noivo. E que ainda o amava.

Estava a ponto de pular no pescoço do juiz de paz e gritar para que ele continuasse, mas no segundo seguinte, ele voltou a falar. E eu me senti muitas toneladas mais leve, sentindo a mão de Benício apertar com cuidado a minha.

Ele estava de frente para mim, e, instintivamente, fiz o mesmo. Com a mão livre, ele tirou do bolso da calça uma caixa vermelha de veludo e a abriu, revelando lá dentro duas alianças que seriam perfeitamente iguais se fossem do mesmo tamanho.

Benício pegou a menor aliança e olhou profundamente nos meus olhos, me prometendo que seria fiel, que me amaria e que me faria feliz nas palavras formais repetidas do juiz de paz. Quando ele encaixou delicadamente o aro no meu dedo, senti um formigamento bom e meio quente começando da ponta do anelar e subindo pelo resto do meu braço. Ele me encarou outra vez e deu aquela porra de sorriso torto, me fazendo ficar na ponta dos pés, quase perdendo o controle e o agarrando ali mesmo.

Repeti as mesmas palavras que Benício havia acabado de dizer sem realmente prestar atenção nelas, porque tudo que elas juravam já estava prometido, há muito tempo, pelo meu coração. Quando deslizei a aliança maior em seu dedo, contemplei por um momento o aro ali, como se fosse uma prova de que tudo que estava acontecendo era mesmo real.

O juiz de paz disse alguma coisa que resultou em Eduardo e Duda indo até ali para assinar alguns papéis. Imaginei que eles deviam ser as testemunhas do casamento. Foi então a vez de nós dois assinarmos alguns papéis também, e depois das assinaturas, quando tanto Eduardo quando Duda já haviam voltado para seus lugares, o homem falou mais meia dúzia de palavras curtas e ficou em silêncio. Senti a mão quente de Benício segurar com firmeza minha nuca e me virei.

Ele estava de frente para mim, e naquele momento, tudo o que eu mais queria era me afogar naqueles olhos dourados hipnotizantes. Eu queria me perder nele, de todos os jeitos possíveis, e nem sabia o que aqueles pensamentos queriam dizer no final das contas. Ele sorriu de novo, e de novo me senti mais fraca, mais entregue, mais feliz.

Benício se inclinou para mim com muita classe, e aquelas frações de segundos foram, sem sombra de dúvidas, as frações de segundos mais preciosas de toda a minha vida até então.

De Repente, Amor ❲✓❳Onde histórias criam vida. Descubra agora