49 - Conhecendo Duda;

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...

Pensei em alguma réplica inteligente, mas não obtive sucesso. Ele usou um exemplo impossível de refutar, porque era a mais absoluta verdade. Meu pai não sustentava minha mãe, jamais havia sido assim. Ele cuidava dela , ele a protegia, e estava claro que aquilo não era algo que ele tomava como obrigação, mas fazia simplesmente porque a amava. E se o que Benício estava fazendo fosse, de alguma forma, remotamente comparável àquilo, não havia como reprimi-lo.

Talvez eu até devesse me sentir lisonjeada, feliz, protegida. Mas, de alguma forma, eu ainda me sentia mal. Provavelmente porque o que nós tínhamos não era um relacionamento dentro dos padrões, como o de meus pais. O que nós tínhamos era diferente, e o fato desse relacionamento sempre ter sido baseado em Benício pagando para ter minha companhia talvez contribuísse para que eu me sentisse sendo comprada em cada pequeno detalhe.

- Mesmo assim, - Comecei, um pouco sem graça, voltando a evitar seu olhar - eu preferiria pagar minhas cois...

- Eu quero te dar de presente.

Fechei os olhos, tentando manter nossa conversa em um nível tranquilo, sem gritos ou palavras rudes.

Minha concentração foi abalada pelo toque do celular de Benício. Quando abri os olhos outra vez, ele já havia se levantado, falando na sala com alguém. Não pude ouvir o que ele dizia, apenas palavras avulsas, mas pela forma como falava, parecia ser com uma mulher.

Quando finalmente desligou e voltou à cozinha, encarei-o novamente.

- Você vai conhecer uma amiga minha. Ela está vindo pra cá daqui a pouco.

...

Então, eu conheceria Duda.

Pelo pouco que ouvira falar, ela parecia ser uma mulher boa. Essencialmente boa. Ao que me lembrava, havia sido ela que, na época da crise de Benício, se dispôs a ajudá-lo. Por causa dela, ele havia saído de uma depressão profunda, e com a ajuda dela ele havia se reerguido. De certa forma, eu já gostava dela simplesmente por ajudá-lo e por se preocupar com ele. Ironicamente, era justamente por se preocupar com Benício que Duda provavelmente já não gostava de mim.

Ele havia contado tudo a ela, e tudo se resumia no fato de que eu era uma prostituta pela qual ele pagava algumas noites. Era óbvio que ela devia achá-lo um idiota por me colocar morando ali, e era igualmente óbvio que me julgaria assim que colocasse os olhos em mim. O pior disso tudo era que eu sequer poderia culpá-la.

Eu também julgaria qualquer prostituta caso ela estivesse se aproveitando de um momento de confusão do meu melhor amigo. Também a odiaria por continuar ao seu lado, porque afinal de contas ele merecia alguém melhor. Torceria para que ela simplesmente sumisse da vida dele, fazendo o grande favor de deixá-lo viver sua vida com quem ele merecesse.

Mas eu não podia deixá-lo. Não agora, não quando precisava tanto dele.

Não ainda.

Por isso, teria que enfrentar aquela situação, teria que enfrentar a forma como Duda lidaria comigo. Eu era a intrusa ali, então nada mais normal do que ser julgada sob todos os aspectos. Isso não melhorava em nada meu nervosismo, então, pela terceira vez, eu lavava meu rosto no banheiro do quarto de hóspedes, encarando-me no espelho como quem busca por alguma força, algum ânimo. Mas a expectativa de lidar com uma melhor amiga furiosa não estava nos meus planos para aquele dia, e ser pega de surpresa também não era minha especialidade.

Enxuguei o rosto e notei que meus hematomas agora começavam a ficar esverdeados. Isso definitivamente não era algo agradável aos olhos, por isso tentei escondê-los com algumas mechas de meus cabelos. Não ocultava tudo, mas ao menos disfarçava um pouco a impressão de que eu havia sido espancada recentemente.

De Repente, Amor ❲✓❳Onde histórias criam vida. Descubra agora