Capítulo 1

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Quando um gato preto apareceu na frente da investigadora Yoruichi Shihouin, ela conseguiu, num rápido reflexo, tampar a própria boca, impedindo que um grito de susto escapasse. O bichano, que também pareceu se assustar por encontrar um ser humano ali no meio daquele matagal todo, ergueu seu olhar felino para a mulher e os dois ficaram por alguns instantes se encarando, como se uma inexplicável identificação houvesse sido estabelecida entre eles. Mas não demorou muito e o gato tratou de voltar a seus próprios negócios.

– Francamente... - começou a investigadora consigo mesma em tom de sussurro. – Ia ser ridículo conseguir seguir aquele maluco por mais de cem quilômetros sem que ele me notasse e no fim acabar descoberta por causa de um gato idiota!

Yoruichi viera em um carro alugado desde a cidade de Brisbane - no estado de Queensland, Austrália -, até ali, a região litorânea da cidade de Sunshine Coast. E a pessoa que ela estava seguindo era um velho amigo seu chamado Kisuke Urahara.

A razão de seus nomes serem de origem japonesa era que ambos haviam nascido e crescido em um pequeno distrito chamado Seireitei, fundado por imigrantes japoneses há mais de duzentos anos, na cidade de Brisbane. Naquela época, vieram para essa região da Austrália um punhado de famílias ricas como a dos Yamamoto, Ukitake, Shiba, Kurosaki, Kira, e dois clãs de nobres, os Kuchiki e os Shihouin. O motivo desse êxodo nunca foi esclarecido. Nos primórdios do século XIX, quando esses imigrantes chegaram, eles adquiriram enormes fazendas, se dedicavam à pecuária e à agricultura, e casavam-se entre si, de modo a preservar a língua, os costumes e as tradições orientais. Mas agora, nos dias atuais, o quadro era bem diferente.

Ainda que mais de 65% dos habitantes de Seiretei seja de descendentes diretos daquelas famílias ricas e nobres, a miscigenação foi inevitável e chegou a um ponto que hoje pessoas que pouco remetem à etnia nipônica ostentam nomes e sobrenomes japoneses. Esse era exatamente o caso de Yoruichi Shihouin e de Kisuke Urahara. Ela tinha a pele escura, como a dos aborígenes, e os olhos castanhos muito claros, que sob a luz do sol adquiriam um peculiar tom âmbar, muito peculiar também era a cor de seus cabelos, um tom de violeta. Urahara, por sua vez, lembrava um nativo da Inglaterra ou da Alemanha, tinha a tez muito alva, os olhos de um azul cinzento e seus cabelos eram de um loiro pálido.

Os dois nasceram, cresceram, estudaram e se graduaram em Brisbane. Eram amigos inseparáveis, desde a adolescência. Chegaram a namorar nos tempos da faculdade, porém antes do término de seus cursos - ela estudava Sistemas de Informação e ele, Biologia -, Yoruichi quis terminar o relacionamento, sob o pretexto deles dois não se entrosarem tão bem como um casal. Atualmente, ambos eram funcionários públicos vinculados ao mesmo departamento federal de segurança. Ela era investigadora e ele atuava com autópsias e com a elaboração de laudos periciais. Como Yoruichi precisava viajar muito por conta do trabalho, às vezes, eles passavam dias ou até meses sem se ver, porém, mantinham contato frequente por telefone e mensagens.

Naquele dia, entretanto, Yoruichi estava furtivamente atrás de Kisuke, porque recebera, na noite passada, uma ligação de uma pessoa que não quis se identificar, que lhe sugeriu que fizesse uma visita ao loiro naquela noite. Se ela não fosse uma investigadora teria tomado a coisa por um trote, porém, quando tentou contato com Kisuke e ele não lhe atendeu, pensou que algo estranho poderia estar acontecendo. Intrigada, ela foi até o apartamento dele, no dia seguinte, e o flagrou deixando o prédio em um furgão. Ainda mais intrigada, resolveu segui-lo. Assim, depois de quase duas horas de perseguição, lá estava ela, caminhando pelo matagal dos arredores do que parecia ser um complexo fabril abandonado. Podia avistar um extenso galpão logo à frente e era para lá que se encaminhava.

– Mas o que diabos ele veio fazer num lugar desses?

Ao chegar a uma porta metálica, ao lado da qual avistou um moderno painel de controle, Yoruichi teve um mau pressentimento. Sabia que podia quebrar o código daquela tranca eletrônica facilmente, mas não lhe pareceu sensato entrar sem ter a mais vaga ideia do que acontecia lá dentro. Então se afastou dali e na lateral esquerda do galpão, notou que havia vidraças. Percebeu também um andaime, tão providencial que até parecia estar ali a sua espera. O único detalhe era que para poder enxergar alguma coisa lá dentro teria que escalar uns seis metros.

Vítimas do DeverOnde histórias criam vida. Descubra agora