Capítulo 2

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Aproveitando que seu chefe fitava a irmã com um olhar afiado como navalha, Renji saiu de mansinho da sala, deixando a pequena com o rojão.

– Perdi meu celular - disse Rukia e deu a volta na mesa, com o firme intento de alcançar a porta que ficara entreaberta e depois simplesmente sair correndo, achando, realmente achando, que conseguiria se safar do irmão assim tão fácil, mas ele, movendo-se rápido como raio, se interpôs entre ela e a porta.

– Perdeu onde?

– Se eu soubesse, não estaria perdido. Mas vou agora mesmo encontrá-lo!

– Rukia... - começou Byakuya e só o tom a fez petrificar no lugar -, quando vai deixar de ser tão imprudente? Será que não entende que...

Rukia franziu o cenho e fez um bico. Um dos maiores prazeres na vida de seu irmão era dar sermão nos outros, logo nada o faria parar agora. Ciente de que teria que ouvir toda a ladainha de sempre, ela resolveu que era melhor ficar bem quietinha, concordando com tudo que ele iria dizer, para que a tortura psicológica terminasse mais rápido. Foi o que fez, assim enquanto seu irmão discorria sobre a imaculada tradição da família Kuchiki, sobre seu destaque na área da segurança, da baixa dos índices de criminalidade que os Kuchiki tinham provido à cidade, ela se perguntava se o seu celular estaria com o garoto do Mazda 3.

– Um carrão aquele... - ela falou sozinha.

Byakuya lançou-lhe um olhar congelante e ela imediatamente soube que havia jogado no lixo sua única chance de tornar aquilo rápido. Sentiu que não ia escapar, que dessa vez ia tomar um belo cascudo, mas antes que o irmão erguesse seu punho contra ela, ambos ouviram um celular tocando. O dele, logicamente.

– Kuchiki, na escuta - ele atendeu de pronto e sua expressão até então muito séria, ficou muito mais séria ainda.

Depois de soltar um suspiro de alívio, Rukia olhou na direção de Byakuya, que após uns instantes ouvindo fosse quem quer que fosse do outro lado da linha, respondeu:

– Não, capitão-comandante. Eu não a vejo desde a semana passada.

A mais nova arregalou os olhos ao saber de quem se tratava. Ficou curiosa, ser contatado pelo próprio capitão-comandante não era algo comum. Chegou a aguçar mais os ouvidos, mas, num lampejo, percebeu que aquela era sua brecha para sumir dali - na batalha entre a curiosidade e a autopreservação em seu íntimo essa última venceu.

– É provável que ela esteja investigando o caso daqueles traficantes - disse Byakuya, observando Rukia deixar a sala.

Do outro lado da linha, o oficial superior rebateu informando que a tenente Soifon estava cuidando do caso por ele mencionado e depois acrescentou que era imperativo que ele encontrasse Yoruichi Shihouin.

– Sim, senhor. Farei isso.

Após dizer que contava com ele, o oficial superior encerrou a ligação com um seco agradecimento.

Guardando o celular no bolso da calça, Byakuya sentou-se na beira da mesa da irmã, com um ar pensativo. Sentia-se intrigado, além de surpreso. Aquela fora a primeira vez, em sete anos que ele estava trabalhando no departamento, que o capitão-comandante, Yamamoto Shigekuni Genryusai, tratava diretamente com ele e ainda lhe dispensava uma tarefa.

Genryusai era uma das poucas pessoas no mundo a quem Byakuya Kuchiki admirava profundamente. Militar dono de uma carreira destacável e cabeça de um dos principais departamentos de segurança do estado de Queensland, aos 86 anos, o homem continuava na ativa e ainda trabalhando com esmerada competência. Mas, apesar disso, a alta cúpula federal vinha pressionando-o muito para que se aposentasse. Porém, quanto mais insistiam nisso, mais Genryusai cuidava de provar que, a despeito da idade avançada, ele mantinha não só a lucidez, como também uma astúcia invejável. Os casos mais complexos dos últimos anos haviam sido solucionados em sua maioria por ele. Assim, Byakuya, recentemente empossado como capitão por indicação do próprio Genryusai, ficou bastante lisonjeado com o pedido. E se o astuto capitão-comandante suspeitava de alguma coisa, só podia ser algo grave.

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